Roda de Conversa

04/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC10.1 - Reflexões, deslocamentos e novos diálogos em política, planejamento e gestão em saúde

53296 - ENTRE O SOCIAL E O SUBJETIVO: A PERCEPÇÃO DE USUÁRIOS SOBRE A RESPOSTA DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE À PANDEMIA DA COVID -19
GABRIELLA MORAIS DUARTE MIRANDA - UFPE, TIAGO FEITOSA DE OLIVEIRA - UFPE, MATHEUS BARROS DE ALBUQUERQUE - UFPE, MATHEUS EDUARDO GOMES DE OLIVEIRA - UFPE, MILENA ALBUQUERQUE OLIVEIRA - UFPE, DIOGO GRASSANO MELO FERREIRA - UFPE, JOSEPHY GABRIEL CALUMBY DA SILVA - UFPE, JULIANA MARIA DE MOURA MORAES - UFPE, LUANA DOS SANTOS NASCIMENTO BEZERRA - UFPE, BERNADETE PEREZ COÊLHO - UFPE


Apresentação/Introdução
Em editorial na revista Lancet, nos primeiros seis meses de 2020, Horton (2020) destaca a importância das medidas não farmacológicas e reflete sobre a covid-19 não ser socialmente neutra, acometendo principalmente os mais vulneráveis. Em Pernambuco, ao analisarem os primeiros 100 dias da epidemia, Souza et al. (2020, p.8) encontraram resultados que identificavam a sua manifestação nas populações mais vulneráveis, com a periferização de sua ocorrência na capital, espalhando-se em seguida para outros municípios da Região Metropolitana e para o interior do estado. Os resultados demonstravam “que o mapa da desigualdade traçou o caminho da epidemia”. Segundo Spadacio e Alves (2020) é possível analisar, a partir da Covid-19, como as relações entre o social e o biológico se apresentam. Para as autoras, é perceptível que as experiências vivenciadas pelos sujeitos e seus coletivos e os impactos da covid-19 não ocorreram de forma homogênea, foi nas diferenças que desigualdades sociais foram explicitadas. Nesse contexto, considerando que a atenção primária acontece em territórios com diferentes contextos e vulnerabilidades, essa pesquisa partiu do pressuposto de que a atenção primária, integrada em rede, com dispositivos de acolhimento e avaliação de vulnerabilidade, vínculo e atenção singular apresentava-se como essencial para o cuidado das demandas geradas pela pandemia da covid-19.


Objetivos
O estudo analisou a percepção de usuários da atenção primária sobre as respostas para o enfrentamento da pandemia da covid-19 nas dimensões Social e Subjetiva em quatro municípios da Região Metropolitana do Recife.

Metodologia
Foi realizado um estudo de corte transversal em Camaragibe, Jaboatão dos Guararapes, Olinda e Recife, situados na Região Metropolitana do Recife. Os municípios possuíam 30,2% da população de Pernambuco, 548 equipes de Saúde da Família e foram responsáveis em 2020 e 2021 por 36,1% dos casos registrados e 43,7% dos óbitos no estado. Foi calculada uma amostra de 110 equipes de saúde da família e seis usuários por equipe, totalizando 660 usuários. Foi aplicado um questionário com 46 questões, sendo nove relacionadas às dimensões social e subjetiva, em formato de escala Likert, com valores de 0 a 10. Foram considerados satisfeitos, os usuários com avaliações com valores igual ou superior a 7,0 (Santiago et al. 2013; Gouveia et al., 2011). Para verificar a existência de diferenças significativas entre as categorias analisadas foi calculado o Teste de Friedman, com nível de significância de 5%. O estudo compõe a pesquisa “Análise das respostas da Atenção Primária no enfrentamento da pandemia da COVID -19 nas dimensões clínicas, sociais, subjetivas e de vigilância à saúde”, aprovada pelo Edital FACEPE 19/2022 e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa/UFPE (CAAE: 61278222.2.0000.5208).


Resultados e Discussão
Foram aplicados questionários a 660 usuários, sendo 84,1% do sexo feminino, 79,0% pretas e pardas, 34,6% tinham ensino médio completo, 37,7% eram donas de casa, 93,9% procuravam a unidade quando precisam, 52,6% consideravam seu nível de saúde atual regular, 62,0% faziam uso de algum medicamento, 46,5% tinham hipertensão e 22,0% referiram ter diabetes mellitus. Do total, 49,1% tiveram covid-19 nos dois primeiros anos da pandemia e destes, apenas 10,0% foram atendidos nas Unidades de Saúde da Família. A análise da satisfação dos usuários apresentou que a dimensão Subjetiva teve 66,7% de satisfação e a Social, 50,5% de satisfação. Na avaliação da dimensão Social, entre as três questões analisadas, observou-se maior insatisfação com as ações governamentais realizadas na comunidade (58,2%) e com as ações realizadas pelo movimento comunitário (52,1%). A questão relacionada às ações integradas realizadas com a educação teve 68,1% das usuárias respondentes satisfeitas. Na dimensão Subjetiva, entre as nove questões, as maiores insatisfações estiveram relacionadas ao apoio da equipe à saúde mental (40,7%) e à estrutura da unidade (40,1%). As maiores satisfações referiram-se ao cuidado da equipe com as usuárias (71,3%) e à confiança que possuíam junto à equipe (71,3%). A Atenção Primária por seu acompanhamento longitudinal em um território a ela vinculado, teria um potencial de reconhecimento das vulnerabilidades e das desigualdades que se acentuaram na pandemia. Sarti et al. (2020, p.2) reconhecem que cabia à atenção primária enfrentar também aspectos originados do “isolamento social e da precarização da vida social e econômica.” Os autores apontam assim, para a importância de uma atenção primária robusta e socialmente estruturada.


Conclusões/Considerações finais
Apesar da vulnerabilidade social ter orientado o caminho trilhado pelo SARS-CoV-2 e dessa forma, esperar-se que a proteção social fosse também prioridade no enfrentamento dos impactos da pandemia, a maioria das usuárias que participou da pesquisa considerou-se insatisfeita com as ações governamentais realizadas na comunidade e com as ações realizadas pelo movimento comunitário. Além disso, o pouco apoio à saúde mental que se fragilizou ainda mais na pandemia e as condições estruturais das unidades estiveram entre as maiores insatisfações identificadas na dimensão Subjetiva. O medo, o luto e as incertezas estiveram presentes no cotidiano das pessoas e isso ampliou a dificuldade do cuidado. No contexto de desigualdades que se acentuaram com a trajetória do vírus, a atenção primária deveria ter sido, a partir de seus atributos, reconhecida como ferramenta fundamental para assegurar o compromisso que o sistema de saúde possui com o cuidado ampliado e com a redução das iniquidades sociais.


Referências
Horton R. Offline: the second wave. Lancet 2020; 395:1960.
Souza WV de et al. Cem dias de COVID-19 em Pernambuco, Brasil: a epidemiologia em contexto histórico. Cad. Saúde Pública 2020; 36(11):e00228220.
Spadacio, C.; Alves, M.G.de M. Nos entremeios: o biológico e o social no Brasil no contexto da COVID-19 e o papel da Atenção Primária à Saúde. APS em Revista 2020; 4: 61-65.

Fonte(s) de financiamento: Edital FACEPE 19/2022


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