Roda de Conversa

04/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC10.1 - Reflexões, deslocamentos e novos diálogos em política, planejamento e gestão em saúde

53263 - A PERCEPÇÃO DE USUÁRIOS SOBRE A RESPOSTA DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE À PANDEMIA DA COVID -19: ANÁLISE DAS DIMENSÕES DA CLÍNICA E VIGILÂNCIA À SAÚDE
GABRIELLA MORAIS DUARTE MIRANDA - UFPE, TIAGO FEITOSA DE OLIVEIRA - UFPE, ANDRESA DOS SANTOS VIANA - UFPE, ARTHUR RODRIGUES CARDOSO - UFPE, BARBARA NASCIMENTO MOUTINHO - UFPE, LUANA PACHECO ESPINDOLA - UFPE, LUANNA ALVES MACHADO FERNANDES - UFPE, MARIA EDUARDA CAVALCANTE TIGRE WERNECK - UFPE, MARIANNY BEATRIZ PALMEIRA DA SILVA - UFPE, BERNADETE PEREZ COÊLHO - UFPE


Apresentação/Introdução
A pandemia da covid-19 representou um dos maiores desafios para sociedade e para a ciência, exigindo respostas em tempo oportuno dos sistemas de saúde em todo mundo (Medina et al., 2020). Era um enfrentamento que deveria incluir ações para todas as fases da infecção, desde o monitoramento dos casos leves com orientações e identificação precoce de sinais de alerta, até o atendimento clínico dos casos mais graves com terapia intensiva e reabilitação após a alta hospitalar (WHO, 2020). Segundo Daumas et al. (2020), a partir dos atributos da atenção primária, seria possível intervir para reduzir a disseminação da infecção, acompanhar os casos leves nos domicílios, assegurar o acesso a cuidados de saúde e o encaminhamento em quadros de agravamento. Ações da clínica e da vigilância à saúde que poderiam contribuir para redução da morbimortalidade causada pela pandemia. Dessa forma, a pesquisa partiu do pressuposto de que a atenção primária, com a gestão da clínica, vinculada ao território, integrada à rede de atenção e por meio de ações articuladas à vigilância à saúde seria instrumento fundamental para o cuidado das pessoas nos territórios.


Objetivos
O estudo analisou a percepção de usuários da atenção primária sobre as respostas para o enfrentamento da pandemia da covid-19 nas dimensões da Clínica e da Vigilância à Saúde em quatro municípios da Região Metropolitana do Recife.



Metodologia
Foi realizado um estudo de corte transversal em Camaragibe, Jaboatão dos Guararapes, Olinda e Recife, situados na Região Metropolitana do Recife. Os municípios possuíam 30,2% da população de Pernambuco, 548 equipes de Saúde da Família e foram responsáveis, nos dois primeiros anos da pandemia, por 36,1% dos casos e 43,7% dos óbitos no estado. Foi calculada uma amostra de 110 equipes de saúde da família e seis usuários por equipe, totalizando 660 usuários. Aplicou-se um questionário de 46 questões, sendo 22 relacionadas à Clínica e Vigilância à Saúde, em formato de escala Likert com valores de 0 a 10. Foram considerados satisfeitos, os usuários com avaliações com valores igual ou superior a 7,0 (Santiago et al. 2013; Gouveia et al., 2011). Para verificar a existência de diferenças significativas entre as categorias analisadas foi calculado o Teste de Friedman, com significância de 5%. O estudo compões a pesquisa “Análise das respostas da Atenção Primária no enfrentamento da pandemia da COVID -19 nas dimensões clínicas, sociais, subjetivas e de vigilância à saúde”, aprovada pelo Edital FACEPE 19/2022 e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa/UFPE (CAAE: 61278222.2.0000.5208).


Resultados e Discussão
Participaram do estudo 660 usuários, sendo a maioria do sexo feminino, negra e com média de idade de 50 anos. Pouco mais de um terço tinha ensino médio completo e era formado por donas de casa. Mais de 90,0% afirmaram procurar a unidade de saúde da família quando estão com problemas de saúde e 52,6% avaliaram seu nível de saúde atual como regular. Pouco mais de 49,0% tiveram covid-19 no período analisado e destes, apenas 10,0% foram atendidos nas Unidades de Saúde da Família. A análise da satisfação dos usuários apresentou que a dimensão da Vigilância à Saúde teve 67,2% de satisfação e a Clínica, 63,1% de satisfação. Na avaliação da dimensão relacionada à Clínica, observou-se maior insatisfação das respostas com o acesso ao atendimento à distância (53,7%) e o tempo de espera para ser atendido (51,4%). As questões que apresentaram maior satisfação foram o atendimento na unidade de saúde (72,4%) e a disponibilidade dos enfermeiros para o atendimento (71,8%). Na dimensão da Vigilância à Saúde, observou-se maior insatisfação com os aspectos relacionados às visitas do agente de saúde ambiental ou agente comunitário de saúde (48,0%) e às ações realizadas pela equipe na comunidade (42,4%). As questões com maiores satisfações correspondiam ao processo de vacinação (79,5%) e ao apoio da equipe para vacinação (78,6%). A Atenção Primária, com sua potência assegurada a partir da efetivação dos seus atributos, poderia ser ferramenta essencial para o enfrentamento da pandemia, fosse a partir da orientação comunitária, com sua presença nos diferentes territórios com uma vigilância forte e permanente, fosse na garantia do acompanhamento dos casos mais leves.


Conclusões/Considerações finais
Apesar de quase todos os usuários perceberem suas equipes como referência, apenas 10% dos que tiveram covid-19 procuraram atendimento, paradoxo que refletiu que parte dos participantes não reconheceu a atenção primária como espaço de enfrentamento da pandemia. As maiores insatisfações relacionaram-se ao atendimento remoto, tempo de espera, visitas domiciliares e ações realizadas pela equipe na comunidade. Questões importantes que se apresentavam como estratégias de enfrentamento da infecção. As maiores satisfações relacionaram-se ao atendimento na unidade de saúde, disponibilidade de enfermeiros, processo de vacinação e apoio da equipe para vacinação. Aspectos que ampliaram, em alguma medida, a capacidade da atenção primária enfrentar a covid-19. É fundamental assumir a atenção primária como essencial no enfrentamento de emergências, seja aquela vivenciada com a covid-19, ou as atuais e futuras, considerando a clínica ampliada e revelando seu verdadeiro papel dentro do sistema de saúde.


Referências
Daumas, RP et al.. O papel da atenção primária na rede de atenção à saúde no Brasil: limites e possibilidades no enfrentamento da COVID-19. Cadernos De Saúde Pública. 2020; 36(6), e00104120.
Medina MG et al.. Atenção primária à saúde em tempos de COVID-19: o que fazer?. Cad Saúde Pública [Internet]. 2020; 36(8):e00149720.
World Health Organization; United Nations Children's Fund. Community-based health care, including outreach and campaigns, in the context of the COVID-19 pandemic. Interim guidance. https://www.who.int/publications-detail/community-based-health-care-including-outreach-and-campaigns-in-the-context-of-the-covid-19-pandemic (acessado em 28/Mai/2024).

Fonte(s) de financiamento: Edital FACEPE 19/2022


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