04/11/2024 - 13:30 - 15:00 RC10.1 - Reflexões, deslocamentos e novos diálogos em política, planejamento e gestão em saúde |
50206 - MAPEAR E COMPREENDER ESTRATÉGIAS DE MITIGAÇÃO E RESILIÊNCIA A EVENTOS CLIMÁTICOS EM UM GRANDE CENTRO URBANO A PARTIR DE MODELOS PARTICIPATIVOS EM SISTEMAS COMPLEXOS LIDIA MARIA DE OLIVEIRA MORAIS - UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, ELIS BORDE - UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, TOLU ONI - UNIVERSITY OF CAMBRIDGE, WALESKA CAIAFFA - UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, LEANDRO GARCIA - QUEEN‘S UNIVERSITY
Apresentação/Introdução
No contexto das mudanças climáticas, eventos climáticos extremos estão se tornando mais frequentes e intensos. Em Belo Horizonte, as chuvas sazonais causam enchentes, alagamentos e deslizamentos. Essas consequências causam danos materiais e afetam o ambiente alimentar, a infraestrutura e o bem-estar físico, social e mental, gerando exposição a fatores de risco para doenças e agravos não transmissíveis, além de provocar doenças infecciosas e pela contaminação da água.
Os riscos desses eventos têm causas múltiplas e complexas, exigindo estratégias diversificadas para mitigação e resiliência, uma vez que interagem com iniquidades sociais historicamente consolidadas nos territórios e condições de saúde. Esse cenário demanda inovação na formulação de políticas públicas, colaboração entre atores sociais e novas formas de produzir conhecimento científico para informar políticas e enfrentar crises socioambientais [1].
Propomos aqui uma abordagem de sistemas complexos, por permitir o diálogo entre atores sociais e a construção participativa de um modelo que reflita o entendimento compartilhado das interconexões entre os riscos climáticos, a urbanização e a saúde [2,3]. Buscamos oferecer uma contribuição metodológica inovadora para pesquisas práticas e aplicadas para uma construção intersetorial e interdisciplinar.
Objetivos
Mapear e compreender estratégias de mitigação e resiliência frente a eventos climáticos (chuvas intensas) e suas consequências, em Belo Horizonte, a partir da construção participativa de um diagrama de laços causais (DLC) que reflita um entendimento compartilhado do problema.
Metodologia
Como parte do projeto Rede Global de Investigação sobre Dieta e Atividade Física (GDAR)[4], uma investigação sobre como as mudanças climáticas interagem com os ambientes físicos, políticos e sociais e influenciam a saúde, esse trabalho envolveu, nove pessoas, adultas, homens (4) e mulheres (5), representantes da sociedade civil de comunidades potencialmente afetadas por riscos climáticos (2), da gestão pública (5), de grupos de advocacy (2), além de quatro moderadores da nossa equipe de pesquisa.
O método foi desenvolvido em seis fases:
1. Treinamento online em sistemas complexos e construção participativa de diagramas de laços causais (DLC), para a equipe de pesquisa; 2. Entrevistas com os participantes para a construção de DLC individuais; 3. Análise temática das estratégias e variáveis presentes nos DLC individuais; 4. Consolidação dos DLC individuais em um DLC-síntese a partir das categorias temáticas desenvolvidas; 5. Oficina participativa presencial com todos os participantes para revisar, corrigir e validar o DLC-síntese; 6. Refinamento do DLC-síntese, ilustrativo de um modelo mental compartilhado sobre estratégias para resiliência frente a eventos climáticos em BH.
Resultados e Discussão
O DCL final é formado por 20 variáveis, organizadas em 8 blocos temáticos e 27 relações: O bloco “Desigualdades e vulnerabilidades” inclui condições historicamente construídas e materializadas no tecido urbano. “Risco climático” indica os riscos e efeitos dos eventos associados às chuvas intensas, incluindo inundações e deslizamentos e efeitos diretos à saúde como perdas de vidas, perdas materiais, contaminação da água e doenças infecciosas. O bloco “Doenças e agravos não transmissíveis (DANT) e fatores de risco” desdobra esses efeitos para o médio e longo prazo na saúde. Em “Ação coletiva” estão ações da sociedade civil diante dos eventos climáticos, seja por iniciativas autônomas ou nas instâncias oficiais. O bloco “Poder público” inclui tanto estruturas consolidadas e funções de médio e longo prazo, como mobilização e ação imediata frente aos eventos extremos. Em “Preparação para enfrentamento” estão elementos educacionais, informacionais, subjetivos e materiais do enfrentamento aos eventos. “Visibilidade do problema” inclui o registro e repercussão dos eventos e das ações e comunicação sobre eles. Por fim, “Sentimento de pertencimento” diz respeito às relações históricas e afetivas das pessoas com os territórios.
Observamos ciclos de reforço significativos no sistema conectando as variáveis de “preparação para o enfrentamento” com “ação coletiva” e “poder público”, em importante conexão com “ visibilidade do problema”, apontando para a importância da educação e formação sustentadas ao longo do tempo nos territórios e da articulação entre setores e entidades com ações complementares. Outro ciclo importante conecta a urbanização planejada e equitativa e a prevenção de riscos e diminuição das iniquidades e vulnerabilidades sociais e territoriais.
Conclusões/Considerações finais
O entendimento compartilhado das interconexões entre os riscos climáticos, a urbanização e a saúde, no cenário de Belo Horizonte, reforçou a importância de um planejamento urbano sensível à saúde e à equidade, com participação popular. Ainda destacou-se a centralidade do monitoramento dos eventos e da produção e divulgação de informações específicas para os diversos territórios urbanos, além da ação articulada entre diversos setores do poder público e da sociedade civil.
A construção participativa de modelos de laços causais para problemas complexos se mostra um método promissor na pesquisa prática e aplicada no campo do engajamento intersetorial em políticas de saúde [5], revelando novas dimensões e possibilidades de articulações mais efetivas entre atores para promover estratégias de resiliência mais sustentáveis, equitativas e efetivas.
Referências
1. Datola, G; et al. Operationalising Resilience: A Methodological Framework for Assessing Urban Resilience through System Dynamics Model. Ecol. Modell. 2022.
2. Guariguata, L.; et al. Using Group Model Building to Describe the System Driving Unhealthy Eating and Identify Intervention Points: A Participatory, Stakeholder Engagement Approach in the Caribbean. Nutrients 2020.
3. Langellier, B.A.; et al. Using Community-Based System Dynamics Modeling to Understand the Complex Systems That Influence Health in Cities: The SALURBAL Study. Heal. Place 2019.
4. Oni, T.; et al. The Global Diet and Activity Research (GDAR) Network: A Global Public Health Partnership to Address Upstream NCD Risk Factors in Urban Low and Middle-Income Contexts. Global. Health 2020..
5. Morais, L.M. de O.; et al. Promoting Knowledge to Policy Translation for Urban Health Using Community-Based System Dynamics in Brazil. Heal. Res. Policy Syst. 2021.
Fonte(s) de financiamento: Financiamento: Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde do Reino Unido (NIHR133205) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES - 001)
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