54236 - O COMITÊ GESTOR DA PESQUISA COMO DISPOSITIVO ESTRATÉGICO PARA A PARTICIPAÇÃO DE PARTES INTERESSADAS EM PESQUISAS DE IMPLEMENTAÇÃO GIOVANA PELLATTI D LOPES - UNICAMP, ROSANA TERESA ONOCKO CAMPOS - UNICAMP
Apresentação/Introdução A defesa da Participação Social (PS) como princípio organizativo do SUS marca a urgente necessidade de fomentação de meios para que ela se dê efetivamente, devolvendo suas características como base constitutiva da democracia. As Pesquisas Participativas se associam a esta defesa quando se apresentam como alternativa para investigações que se dispõe ao mútuo compromisso e envolvimento de pessoas de forma engajada e participante, tornando-se instrumento científico e de trabalho popular de dimensão pedagógica e política amplo1.
Neste aspecto, as Pesquisas de Implementação (PI) aproximam-se dos métodos qualitativos participativos brasileiros defendendo que evidências estejam associadas a contextos comunitários reais e que os desfechos são impactados pelas relações estabelecidas ao longo de uma investigação2, tornando a participação tema crescente em suas teorias, mas ainda com base em evidências relativamente pequena3, o que oportuniza investigações neste campo de conhecimento.
Em 2019, o Laboratório de Saúde Coletiva e Saúde Mental – Interfaces – iniciou uma PI voltada a implementação de um serviço psicossocial especializado no cuidado a vítimas de violência no município de Campinas-SP, lançando mão de um Comitê Gestor de Pesquisa como dispositivo estratégico de participação das partes interessadas de forma transversal a investigação.
Objetivos O estudo teve como objetivo analisar a utilização de um Comitê Gestor de Pesquisa (CGP) como dispositivo estratégico para a participação das partes interessas em uma Pesquisa de Implementação, garantindo a identidade ético-política-teórica do já desenvolvido pelo coletivo de pesquisa Interfaces através de metodologias qualitativas e participativas de investigação, de forma a garantir a descrição adequada para sua replicação em pesquisas futuras.
Metodologia Trata-se de uma pesquisa qualitativa, participativa e avaliativa, visto seu objetivo de analisar o CGP como um dispositivo estratégico de participação de partes interessadas na implementação de um serviço especializado. Já na Ciência de Implementação, a investigação foi caracterizada como Pesquisa de Implementação Pura através de estudo observacional com avaliação guiada pela estrutura de implementação RE-AIM, já traduzida e adaptada para a realidade brasileira4,5. Os dados para a análise de resultados foram extraídos de diários de campo elaborados ao longo da pesquisa e das atas das reuniões ordinárias e extraordinárias do CGP e das Oficinas de Planejamento e Consenso, realizadas no período de 2019 a 2022.
Resultados e Discussão A avaliação se deu através de 3 das 5 dimensões propostas pelo RE-AIM (Alcance, Efetividade e Adoção), selecionadas em função do impacto com a participação. Na Alcance o dispositivo exigiu avanço na caracterização do contexto e identificação prévia da rede existente, qualificou e ampliou o desenho participativo da pesquisa (também para a Adoção) e garantiu a qualificação da relação entre pesquisadores, trabalhadores e gestores da saúde e ineditamente da Assistência Social (AS), tornando a participação representativa e ampliada. Oportunizou discussões teórico-práticas acerca das expectativas com a participação, evidenciando a importância da construção coletiva e compartilhada do conhecimento para que a participação se dê. Na Efetividade, a defesa ético política da participação pelos pesquisadores sustentou o dispositivo transversalmente na pesquisa, mesmo com os entraves esperados que podem diminuir o diálogo mais democrático e participativo na tomada de decisões. Oportunizou a construção das diretrizes do serviço, propondo a escuta de usuários e através da idealização e implementação de uma rede de Apoio Matricial voltada ao tema da violência, não prevista no projeto inicial, evidenciando a importância do desenvolvimento de redes ampliadas, compartilhadas e intersetoriais de cuidado. Na Adoção, o dispositivo alcançou taxa significativa de participação (60% na saúde e 100% na AS) permitindo representatividade por serviços e níveis de atenção, qualificação dos determinantes contextuais e destinação do serviço aos mais vulnerabilizados. Sustentado, o CGP garantiu a participação e a implementação do serviço em rede (e não apesar dela) e a Adoção a posteriori de outros serviços e trabalhadores através do Apoio Matricial.
Conclusões/Considerações finais A utilização do CGP como dispositivo garantiu a participação das partes interessadas, possibilitando exploração e reconhecimento da rede de cuidado existente no município. Possibilitou a defesa, dialogada em consenso, da construção de espaço permanente de formação, lançando luz ao desenvolvimento de redes compartilhadas, complementares e intersetoriais de cuidado para vítimas de violência. Na relação com a participação e com os participantes, o CGP garantiu adequada aproximação aos determinantes de implementação, incluindo os contextuais, preciosos às PI. É preciso disponibilidade para escutar a participação e disposição à participação de outros em nossas pesquisas. Avaliamos que o CGP precisará de ajustes e adaptações para o efetivo envolvimento, engajamento e participação das partes interessadas em PI no Brasil, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento de taxonomia específica, o que torna o resultado desta investigação um convite a experimentação: e se recomeçássemos?
Referências 1. Brandão CR. A pesquisa participante e a participação da pesquisa: um olhar entre tempos e espaços a partir da América Latina. “In”: Brandão CR, Streck DR (org). Pesquisa participante: a partilha do saber. Aparecida-SP: Ideias & Letras, 2006. p.17-54
2. Fixsen DL, Van Dyke MK, Blasé K A (2019). Science and implementation. Chapel Hill, NC: Active Implementation Research Network. www.activeimplementation.org/resources
3. Cowan K. INVOLVE: A Practical Guide to Being Inclusive in Public Involvement in Health Research - lessons from the Reaching Out programme. Written by Katherine Cowan, February 2020
4. Brito FA et al. Tradução e adaptação do Check-list RE-AIM para a realidade brasileira. Rev Bras Ativ Fís Saúde. 2018;23:e0033.
5. Almeida FA, Brito FA, Estabrooks PE. Modelo RE-AIM: tradução e adaptação cultural para o Brasil. REFACS (online) 2013; 1(1):6-16
Fonte(s) de financiamento: Não houve para esta pesquisa
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