Roda de Conversa

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC5.7 - A comunicação no Planejamento e Gestão

50808 - ENVOLVIMENTO DE USUÁRIOS/AS DE SAÚDE MENTAL EM UMA PESQUISA DE IMPLEMENTAÇÃO DE SUPORTE DE PARES: A ESTRATÉGIA DO CONSELHO CONSULTIVO COMUNITÁRIO-CCC
ANGELA PEREIRA FIGUEIREDO - UNICAMP, MARIA FERNANDA LIRANI DOS REIS - UNICAMP, MARIA GIOVANA BORGES SAIDEL - UNICAMP, BIANCA BRANDÃO - UNICAMP, MONICA CRUVINEL - UNICAMP, CARLOS ALBERTO DOS SANTOS TREICHEL - USP, ROSANA TERESA ONOCKO CAMPOS - UNICAMP


Apresentação/Introdução
Este relato de pesquisa é parte do estudo “Adaptação e Implementação de Suporte de Pares para Otimizar o Engajamento e os Resultados para Pessoas com Transtornos Mentais Severos em Campinas, Brasil" de parceria entre o The Yale Program for Recovery and Community Health-PRCH e o Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, cujo objetivo principal consiste na adaptação e na implementação de um programa de Suporte de Pares para pessoas com transtornos mentais severos à cultura brasileira, e mais especificamente para a rede de saúde mental de Campinas-SP, a partir do treinamento de pessoas que possuem vivência de recovery- restabelecimento de transtornos mentais.
As pesquisas de implementação em saúde definem-se pelo estudo de métodos para promover a incorporação sistemática de resultados de pesquisas e outras práticas baseadas em evidências para melhorar a qualidade e a efetividade do sistema (ECCLES et al, 2006). Mais especificamente, tratando do envolvimento de usuários/as de saúde mental, visa-se relatar o processo de trabalho com o Conselho Consultivo Comunitário-CCC, estratégia fundamental para garantir o envolvimento necessário para a implementação das evidências na prática a partir das contribuições desses atores, baseadas em suas próprias experiências com a rede de saúde (OCLOO et al, 2016).


Objetivos
A fim de adaptar o programa de Suporte de Pares para a rede de saúde mental de Campinas-SP, o trabalho com o CCC visou, primeiramente, abordar as características e peculiaridades da rede do referido município em uma pesquisa participativa com os/as 13 usuários/as integrantes do dispositivo. Posteriormente, o trabalho com o CCC objetivou a adaptação do material para o treinamento destinado a formar outros/as usuários/as para o programa de Suporte de Pares oferecido pelo PRCH.

Metodologia
Primeiramente, foram feitas reuniões quinzenais de pesquisa com o CCC. Elas foram organizadas com base no framework/ quadro conceitual CFIR (Consolidated Framework for Implementation Research), que apresenta cinco domínios: 1-Características da intervenção; 2-Cenário externo; 3-Cenário Interno; 4-Características dos indivíduos; 5-Processo. Com base nesses domínios, foram identificados e discutidos com os participantes do CCC as possíveis barreiras e facilitadores para a implementação da intervenção de Suporte de Pares para os serviços de saúde mental de Campinas-SP.
Em um segundo momento, foram feitas reuniões semanais para que o material do treinamento em Suporte de Pares fosse validado e adaptado culturalmente, a partir da realidade brasileira de saúde mental e, mais especificamente, de Campinas-SP. O material para o treinamento foi desenvolvido pelo PRCH da University of Yale e sua adaptação para a realidade brasileira consiste em uma das atividades centrais da pesquisa. Desse modo, o trabalho participativo com o CCC se constituiu em uma etapa fundamental para a implementação da intervenção de Suporte de Pares culturalmente adequada a partir da realidade local de saúde mental.


Resultados e Discussão
A partir das reuniões feitas com o CCC foram identificados e discutidos os facilitadores e as barreiras para a implementação do suporte de pares em alguns serviços de saúde mental- CAPS III de Campinas-SP. O CFIR é uma ferramenta muito utilizada nas pesquisas de implementação porque apresenta uma estrutura que explora os fatores que podem influenciar na implementação. A discussão foi embasada nos cinco domínios do CFIR, sendo possível explorar: 1-Características da intervenção: o que é e o que não é suporte de pares, o porquê de estar sendo implementado, sua força, qualidade e vantagem, além de custo e outros aspectos; 2-Cenário externo: as necessidades e os recursos para a implementação, política externa e incentivos; 3-Cenário Interno: as características estruturais, a cultura, o clima e a prontidão para a implementação da intervenção nos serviços de saúde mental; 4-Características dos indivíduos: o conhecimento e as crenças para a intervenção e a sua autoeficácia; e 5-Processo: desde a planificação, até o envolvimento, o engajamento, a execução e a avaliação do Suporte de Pares para a rede de saúde mental.
Após, o material para o treinamento foi validado e adaptado culturalmente. O material possui 9 módulos que abarcam os seguintes temas: História e Fundamentos do Recovery/ Restabelecimento e do Suporte de Pares; Utilização da vivência e de Contar Histórias para Inspirar Esperança; Escuta Empática e Comunicação Intercultural; Competências para Vínculo e Conexão com Pessoas em Restabelecimento; Considerações Éticas (Confidencialidade/Privacidade); Práticas Baseadas em Evidências; Ativismo, Justiça Social, e Equidade; Especialistas em Apoio à Recuperação/ Restabelecimento no Local de Trabalho; Trabalho com Famílias e Comunidades e Proteção de Dados.


Conclusões/Considerações finais
Considerado fator fundamental para o processo de pesquisas no campo da ciência de implementação, o envolvimento de usuários/as de saúde mental contribui para a maximização dos benefícios para os próprios usuários/as e para a produção de um olhar mais atento e sensível no tocante às disparidades em saúde (BOAZ et al, 2018; IMPRES-BR, 2021).
Desse modo, por meio da estratégia de pesquisa com o CCC, visa-se garantir o envolvimento dos/as usuários/as da rede de saúde mental para a implementação do programa de Suporte de Pares culturalmente adequado para a realidade local de saúde mental, contribuindo para a melhoria e continuidade do cuidado e do vínculo de usuários/as aos serviços da rede de Campinas-SP e da qualidade de vida e bem-estar geral entre as pessoas que vivem com transtornos mentais graves, bem como para incentivar pesquisas mais inclusivas para o desenvolvimento de melhores resultados ao sistema de saúde brasileiro.


Referências
BOAZ, A.; et al. How to engage stakeholders in research: design principles to support improvement. Health Research Policy and Systems, v.16, 2018.

ECCLES, M. P.; MITTMAN, B. S. Welcome to implementation science. Implement Sci., v.1, n.1, 2006.

IMPRES-BR. Ferramenta de Desenvolvimento para Pesquisas de Implementação: um guia prático para utilização da ferramenta ImpRes-BR. 2021.

OCLOO, J.; MATTHEWS, R. From tokenism to empowerment: progressing patient and public involvement in healthcare improvement. BMJ Qual Saf., v.25, n.8, 2016.

Fonte(s) de financiamento: Instituto Nacional de Saúde Mental (National Institute of Mental Health-NIMH), vinculado ao Instituto Nacional de Saúde (National Institute of Health-NIH) dos Estados Unidos-EUA.


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