Roda de Conversa

05/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC5.6 - Educar para democratizar

52203 - TRILHANDO OS CAMINHOS DA EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE E DEFESA DO SUS NO ACAMPAMENTO AGUINALDO PRATES (ES)
MERCEDES QUEIROZ ZULIANI - MST, CLÉVIO SOUZA AGUIAR - MST, SIRLEY FERREIRA DE SOUZA MONTEIRO - MST, EDNALVA MOREIRA GOMES - MST, LUCIENE FERREIRA DA CRUZ - MST, LORENA SILVEIRA FERREIRA - MST, SALVADOR LIMA DE AGUIAR - ESPAÇO VIDA E SAÚDE - SÍTIO AGROECOLÓGICO, TIAGO SOUZA LEAL - MINISTÉRIO DA SAÚDE


Contextualização
O Acampamento Aguinaldo Pereira Prates é uma área de ocupação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na cidade de Montanha, norte do Espírito Santo. O acampamento já passou por 3 territórios, devido aos conflitos fundiários da região, que tem a maior parte de suas terras com exploração empresarial para plantio de eucalipto e pasto/gado. Contudo, há também, outros assentamentos, que produzem alimentos, tem escola do campo e participam da dinâmica social da cidade e região. O acampamento tem aproximadamente 40 famílias que lutam pela terra, pela Reforma Agrária e por condições de vida dignas.
Entre 2022 e 2023, aconteceu o primeiro curso de Aperfeiçoamento em Educação Popular em Saúde do Instituto Capixaba de Ensino, Pesquisa e Inovação em Saúde (ICEPi), fruto da luta do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e teve 20 educadoras e educadores populares do estado. Como parte do curso de formação, o educador popular do norte esteve fazendo diversas ações com territórios, comunidades e movimentos sociais. Desses encontros, ampliaram diálogos com a direção regional do MST para o trabalho de educação popular no Acampamento, diante de desafios nas condições de vida e saúde das famílias e comunidade, do acesso aos serviços públicos, etc.
Assim, foram realizados planejamentos para o trabalho coletivo com a comunidade a partir da educação popular em saúde.


Descrição da Experiência
O planejamento coletivo contou com a participação do educador popular, da coordenadora do projeto, da direção do MST na região e do acampamento, para a organização dos encontros comunitários. A metodologia utilizada foi participativa e dialogada a partir da realidade e da intencionalidade, retomando os trabalhos já realizados, as memórias e os desafios comunitários.
Foram realizados 3 encontros no acampamento, onde foi possível escutar a comunidade sobre a realidade e seguir a partir dos temas geradores levantados coletivamente.
A metodologia participativa e integrada à dinâmica organizativa do MST garantiu a mística, os diálogos, o alimento compartilhado, com a participação de jovens, adultos e pessoas idosas. Houve a intencionalidade de debater a saúde a partir das práticas populares e científicas, a participação popular e o sistema de saúde (SUS).
Para tanto, a trilha partiu das determinações sociais da saúde, da realidade da comunidade e suas práticas de cuidado, sejam as acessadas no SUS, sejam as promovidas pelo próprio território e Movimento, com a memória das ações coletivas e populares da região norte. Este caminho permitiu perceber as necessidades e potências do território, do movimento e das políticas públicas que já são efetivadas, com os desafios da intersetorialidade, da participação coletiva, dos cuidados comunitários e da continuidade de organização.


Objetivo e período de Realização
Os objetivos da ação foram ampliar a participação popular a partir da análise da realidade de saúde, com base em suas determinações sociais, no acampamento Aguinaldo Prates, fortalecendo a saúde popular e a luta pelo SUS.
Este trabalho é fruto da formação em Educação Popular em Saúde, baseada na Política Nacional de Educação Popular em Saúde (PNEPS). Os encontros foram realizados entre outubro de 2023 a março de 2024, com atividades previstas para o próximo período.


Resultados
Pode-se considerar que a mobilização comunitária, buscando autonomia e conhecimento coletivo foram promovidos por meio do método problematizador, dialógico e participativo da Educação Popular em Saúde, cuja perspectiva organizativa e histórico-crítica são fundamentos.
Assim, os conceitos trabalhados partiram da análise da realidade dos próprios sujeitos e as questões trazidas foram as necessidades e potencialidades dos territórios. Foi possível a socialização dos conhecimentos sobre a água, sua importância e utilização, bem como os desafios para o acesso, com a dinâmica da cartografia social. Outro elemento muito discutido foi sobre as práticas de cuidado, o uso de plantas medicinais e outras sociabilidades comunitárias que promovem a saúde, com solidariedade. Os desafios elencados foram quando à garantia de que a área se torne um assentamento de Reforma Agrária, o acesso aos serviços públicos, com qualidade e respeitando as famílias camponesas e suas trajetórias de lutas, dentre outros. Interessante que se fortaleceu o coletivo de saúde do território e as atividades seguem sendo planejadas e organizadas.


Aprendizado e Análise Crítica
A garantia do direito à saúde e a construção do SUS, prevista constitucionalmente após muita luta popular, só é possível com participação e promoção dos sujeitos coletivos e territórios. É onde a vida acontece que se pode entender as contradições do modo de produção em que vivemos e os desafios de organizar para superá-lo. Nesse intuito, a formação e envolvimento da comunidade para a participação social e popular são caminhos permanentes.
A pedagogia histórico crítica e freireana contribuem para a práxis coletiva na leitura da realidade e, mais que isso, na ação de transformação frente aos problemas. Assim, pode-se, por exemplo, lutar pelo SUS público como bandeira, mas fazer a crítica do quanto ainda não há políticas públicas que levem em consideração a realidade do campo, suas dinâmicas e mesmo reconheçam as práticas tradicionais de cuidado e promoção ou proteção que as comunidades camponesas resistem e possuem. A cartografia social, a vigilância popular em saúde e o método organizativo do MST contribuíram para atingir a intencionalidade da experiência, como parte de um contexto integrado, que segue em movimento.
Nesse sentido, compreender a luta pela terra, pela reforma agrária, as dinâmicas territoriais e sua contribuição para a saúde coletiva e popular seguem sendo importante questão para a Reforma Sanitária Brasileira.


Referências
BRASIL. Ministério da Saúde.Caderno de Educação Popular em Saúde. 2. ed.Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
. Ministério da Saúde. Política Nacional de Educação Popular em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2012.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 45.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013b.
. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011b.
. Pedagogia do oprimido. 13. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.


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