Roda de Conversa

05/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC5.4 - Exercicios Emancipatórios

49585 - O ACESSO À SAÚDE BUCAL SOBRE A PERSPECTIVA DOS USUÁRIOS DOS SUS EM JABOATÃO DOS GUARARAPES
MONICKY MEL SILVA ARAÚJO - FIOCRUZ/IAM, MARIA DA PENHA RODRIGUES DOS SANTOS - FIOCRUZ/IAM, SYDIA ROSANA DE ARAÚJO OLIVEIRA - FIOCRUZ/IAM


Apresentação/Introdução
Estudiosos da avaliação de acesso, Penchansky & Thomas (1981), definiram o acesso como fatores que afetam a entrada no sistema de saúde. Eles utilizam o termo acesso e conceituam como o grau de ajuste entre clientes e o sistema de saúde, e consideram atributos de acesso através de cinco dimensões: disponibilidade e acomodação, acessibilidade, adequação, acessibilidade financeira, aceitabilidade. Levesque, Harrys e Russel (2013) avaliam que a qualidade do serviço pode ser uma medida de acesso ou uma restrição ao uso. Definem acesso como uma forma de identificar as necessidades do paciente no cuidado com a própria saúde. Correlacionam as dimensões de acesso propostas por Penchansky a cinco dimensões de habilidades, inerentes a cada indivíduo, as capacidades de: perceber; buscar; alcance; pagamento e engajamento.
Assim, acesso aparece como um importante marcador para uma avaliação de sistemas de saúde, caracterizando o uso adequado e oportuno dos serviços de saúde. A avaliação em saúde desempenha um papel crucial de coletar dados de forma estruturada e sistemática, transformando-os em informações sobre as atividades. De modo que possam ser utilizadas para explicar a relação entre o valor do programa e seus efeitos.

Objetivos
Avaliar o acesso dos usuários do Sistema Único de Saúde à saúde bucal, no município de Jaboatão dos Guararapes (PE).

Metodologia
Foram realizadas entrevistas estruturadas com usuários cadastrados nas unidades de saúde da família da regional II de Jaboatão dos Guararapes (PE). Esta amostra foi de 264 usuários. Foi aplicado questionário fechado com 25 perguntas, utilizando a escala de Likert de cinco pontos: “Totalmente em desacordo”, “Em desacordo”, “Nem de acordo, nem desacordo”, “De acordo”, “Totalmente de acordo” e “Não sabe/não lembra”. Os formulários foram aplicados com apoio do aplicativo HCMaps. O formulário utilizou elementos do perfil socioeconômicos dos usuários do SUS: idade, raça/cor, sexo/gênero, escolaridade, renda. Assim como elementos que permitem avaliar barreiras e facilidades de acesso à luz de Levesque, Harrys e Russel (2013), segundo as dimensões: acessibilidade, aceitabilidade, acessibilidade financeira, disponibilidade e acomodação, e adequação. Os dados foram tratados no Microsoft Excel 365 e as análises descritivas foram realizadas no SPSS versão 25.

Resultados e Discussão
Foram entrevistados 264 usuários, sendo 78,6% do sexo feminino e 21,4% do masculino, predominância de +60 anos (37,3%), sendo 50% autodeclarados pardos. Cerca de 45% dos entrevistados não completaram ensino fundamental e 93,65% recebem até R$ 2,9 mil. Os achados desta pesquisa mostram que, mesmo com um nível de escolaridade baixo, a auto-percepção da necessidade de cuidados odontológicos é superior à 58%. O que aponta que estão aptos na capacidade de perceber. Mais de 50% dos entrevistados não sabem como conseguir atendimento e não dispõem de informações sobre os serviços de saúde bucal. Mais de 70% enfatizaram que não tiveram atendimento no momento exato para caracterizar acesso realizado, tornando a dimensão de acessibilidade uma barreira de acesso. A comunicação ocorre de modo que o paciente compreende e tem capacidade para co-gerir a própria saúde, assim, a dimensão de aceitabilidade representa uma facilidade de acesso. Cerca de 24% dos entrevistados deixou de ir ao dentista ou fazer exames por questões financeiras. Por se tratar de um serviço ofertado pelo SUS, a necessidade de ter que pagar para conseguir atendimento indica que a acessibilidade financeira é uma barreira de acesso. Os entrevistados precisaram se descolar para longe de casa para conseguir atendimento, não consideram o tempo de espera aceitável e não conseguem atendimento à noite, nos finais de semana ou feriados sem ir à emergência. Assim, os serviços de saúde não estão suprindo a necessidade. Desta forma, a disponibilidade e acomodação são barreiras de acesso. Embora considerem que o dentista não conhece o histórico de saúde, no contexto, a dimensão de adequabilidade não é uma barreira de acesso, pois o profissional é capaz de indentificar as necessiades do paciente,a partir da consulta.

Conclusões/Considerações finais
A pesquisa destaca que, enquanto a auto-percepção das necessidades de cuidados odontológicos é elevada entre os usuários do SUS, os dados revelam que há múltiplas barreiras de acesso aos serviços de saúde bucal, o que tem agravado a saúde da população. Problemas de acessibilidade, informação insuficiente, barreiras financeiras e limitações na disponibilidade e acomodação do serviço necessitam ser abordados. Logo, é necessária e urgente a ampliação do acesso aos tratamentos odontológicos e a fluoretação das águas. Estas medidas devem ser assumidas pelo Estado, mediante a formulação e garantia de implantação/implementação de políticas públicas que assegurem o direito ao acesso às ações de serviços de saúde bucal.
Melhorias nessas áreas são essenciais para garantir que o sistema de saúde atenda adequadamente às necessidades da população, proporcionando um acesso mais equitativo e eficiente aos cuidados odontológicos.

Referências
LEVESQUE, Jean-Frederic; HARRIS, Mark F.; RUSSELL, Grant. Patient-centred access to health care: conceptualising access at the interface of health systems and populations. International journal for equity in health, v. 12, p. 1-9, 2013.

MOREIRA, Rafael da Silveira; NICO, Lucélia Silva; TOMITA, Nilce Emy. A relação entre o espaço e a saúde bucal coletiva: por uma epidemiologia georreferenciada. Ciencia & saude coletiva, v. 12, p. 275-284, 2007.

PENCHANSKY, Roy; THOMAS, J. William. The concept of access: definition and relationship to consumer satisfaction. Medical care, p. 127-140, 1981.

Fonte(s) de financiamento: Fiotec. Programa Inova Geração de Conhecimento (ID VPPCB-005-FIO-20)


Realização:



Patrocínio:



Apoio: