Roda de Conversa

05/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC5.3 - Dispositivos promocionais e participativos

53932 - ACONTECIMENTO COLETIVO DE MULHERES NAS UNIVERSIDADES: TRAÇANDO REFLEXÕES PARA A SAÚDE COLETIVA
JEANINE PACHECO MOREIRA BARBOSA - UFES, LUZIANE DE ASSIS RUELA SIQUEIRA - UFES, STEPHANIA MENDES DEMARCH - UFES, MANUELLA RIBEIRO LIRA RIQUIERI - UFES, JEREMIAS CAMPOS SIMÕES - UFES, FABIANA TURINO - UFES, GABRIELA DE BRITO MARTINS - UFES, RITA DE CASSIA DUARTE LIMA - UFES, MARIA ANGÉLICA CARVALHO ANDRADE - UFES


Apresentação/Introdução
Nas universidades federais brasileiras, de herança colonialista, as mulheres docentes, discentes e servidoras enfrentam estigmas e preconceitos, historicamente construídos, que perpetuam sua subalternização, enquanto lutam pelo respeito e valorização de suas vozes. Os coletivos universitários de mulheres surgem como resposta às barreiras estruturais que limitam a atuação política efetiva das mulheres na universidade. Questionam e se opõem às normas instituídas destacando a importância da qualidade da experiência universitária para as mulheres. Esse fenômeno, considerado um problema de saúde pública, sublinha a importância dessa pesquisa de doutorado em Saúde Coletiva que acompanhou os movimentos dos coletivos de mulheres nas universidades federais brasileiras. Entendidos como "acontecimentos", ou seja, “[...] momentos de aparição do novo, da diferença e da singularidade” (BAREMBLITT, 2012, p. 146), os coletivos permitem desafiar a ideia de que as instituições são naturalmente dadas, reconhecendo-as como construções humanas passíveis de questionamentos e desconstrução. Desse modo, foi possível examinar a relação entre os movimentos de mulheres e a universidade desde a perspectiva feminista destacando o papel dos coletivos na ruptura com estruturas racistas, cis-heteropatriarcais e capitalistas responsáveis pela desvalorização e precarização da vida de mulheres nesse contexto.

Objetivos
Problematizar a potência dos coletivos universitários de mulheres destacando como esses movimentos impactam na produção de saúde das mulheres ao tencionar as estruturas opressivas instituídas no contexto das universidades federais.

Metodologia
Trata-se de uma pesquisa-intervenção, desde um ethos cartográfico, com foco na processualidade que promoveu a participação ativa dos sujeitos envolvidos, garantindo seu protagonismo (KASTRUP; PASSOS, 2013). A pesquisa se deu com 12 integrantes de coletivos de mulheres de cursos e universidades federais diferentes. A técnica da “bola de neve” foi utilizada para contatar as participantes utilizando-se cadeias de referência em que uma entrevistada indica a seguinte. Foram realizadas entrevistas narrativas pelo Google Meet e registro no diário de campo da pesquisadora, entre março e julho de 2023. O material transcrito resultou em 12 narrativas que foram analisadas desde a perspectiva da filosofia da diferença (DELEUZE, 1998) e dos estudos de gênero, privilegiando as abordagens da interseccionalidade e decolonialidade. Destacaram-se os acontecimentos com intensidade suficiente para colocar o instituído em análise, buscando dar visibilidade às linhas de fuga, que escapam das capturas, ao contestar e reinventar novas práticas sociais, produzindo realidades alternativas e revolucionárias (DELEUZE; GUATTARI, 1997).

Resultados e Discussão
As mulheres universitárias enfrentam estruturas cruéis e excludentes que controlam subjetividades por meio da colonialidade do poder, saber e ser. Essas opressões intersecionam gênero, raça/etnia e classe social, categorias muitas vezes fragmentadas nas análises realizadas pelo sistema capitalista moderno/colonial (AKOTIRENE, 2023). Os coletivos de mulheres se apresentam como movimentos instituintes que protagonizam a resistência feminista, dando origem a novos modos de organização política na universidade. Caracterizam-se como organizações de relações não hierárquicas, não institucionalizadas, autogestivas e transitórias. Operam uma revolução micropolítica fazendo emergir opressões singulares dando passagem a questões que afetam de modo diferente mulheres trans, não-binárias, negras, mães entre outras identidades e possibilidades de ser mulher. Essa produção compartilhada de sentidos possibilita a desnaturalização de violências ao valorizar a pluralidade de experiências na construção coletiva de novos modos ser-estar/pensar/agir na universidade. Ao discutirem teorias feministas, os coletivos propõem novas perspectivas sobre as relações de gênero, libertando homens e mulheres de estereótipos colonialistas universais. Assim, contribuem para uma visão mais ampla e complexa sobre os fenômenos que afetam a saúde das mulheres na academia. Alguns pontos-chave que confirmam a potência dos coletivos de mulheres incluem desafiar os papéis tradicionais das mulheres e homens, destacar desigualdades históricas, criar redes de apoio, promover o autoconhecimento, transformar vivências em aprendizado, amplificar vozes insurgentes e oferecer espaços seguros para as mulheres na universidade através de uma escuta feminista (AHMED, 2022).

Conclusões/Considerações finais
Cartografando os coletivos de mulheres foi possível destacar o importante papel que desempenham na melhoria da qualidade das experiências de mulheres nas universidades. A construção de espaços para uma escuta feminista une vozes insurgentes contra o avanço da colonialidade moderna, indicando como empregar esforços de prevenção, resposta e recuperação a fim de garantir a saúde para todas as mulheres na academia. Ao desafiarem as dinâmicas de poder e discriminação, os coletivos de mulheres constroem possibilidades de resistência coletiva, retomando o saber sobre si e resistindo ao apagamento das mulheres na universidade. Destaca-se que os coletivos encontram-se em contexto privilegiado para romper com o pensamento colonialista desdobrando-se em respostas que acolhem uma diversidade de experiências subalternizadas. Assim, sua potência está na transformação do olhar sobre a diferença, não sendo mais esta algo a ser superado ou resolvido, mas sim a ser celebrado e valorizado.

Referências
AHMED, S. Viver uma vida feminista. TRADUÇÃOJamille Pinheiro Dias, Sheyla Miranda, Mariana Ruggieri.São Paulo: Ubu Editora; 1ª edição, 2022. 448 p.
AKOTIRENE, C. Interseccionalidade. São paulo: Sueli Carneiro; Editora Jandaíra, 2023. 152 p.
ARAÚJO, M. F. Diferença e igualdade nas relações de gênero: revisitando o debate. Psicologia Clínica, v. 17, n. 2, p. 41-52, 2005.
BAREMBLITT, G. Compêndio de Análise Institucional e outras correntes: teoria e prática. 3. ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2012.
DELEUZE, G. e GUATTARI, F. Mil platôs 4. São Paulo: Editora 34, 1997.
DELEUZE, G. Diferença e repetição. Rio de Janeiro: Graal, 1998.
KASTRUP, V.; PASSOS, E . Cartografar é traçar um plano comum. Fractal, Rev. Psicol., v. 25 – n. 2, p. 263-280, Maio/Ago. 2013.


Realização:



Patrocínio:



Apoio: