Roda de Conversa

04/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC5.2 - Em cena: os processos participativos

51203 - CAMINHOS PARA A SAÚDE EMANCIPATÓRIA: INTERCULTURALIDADE E PARTICIPAÇÃO POPULAR NAS POPULAÇÕES DO CAMPO, FLORESTA E ÁGUA
KEILA FORMIGA DE CASTRO - SMS CRATO-CE, VANIRA MATOS PESSOA - FIOCRUZ, ANTONIO GERMANE ALVES PINTO - URCA, ERIKA ROMERIA FORMIGA DE SOUSA - SMS CRATO-CE, DANIELLE DE NORÕES MOTA - SMS CRATO-CE, ASSIS SANTOS NICOLAU - PONTO DE CULTURA CASA DE FARINHA MESTRE JOSÉ GOMES, FERNANDO FERREIRA CARNEIRO - FIOCRUZ


Contextualização
As populações do campo, floresta e água (PCFA) possuem modos de vida, produção e reprodução social relacionados com a terra, são camponeses, comunidades tradicionais, ribeirinhos, quilombolas e as que habitam ou usam reservas extrativistas em áreas florestais ou aquáticas, entre outras (Brasil, 2013).
O reconhecimento das características culturais desses grupos e suas diferentes necessidades e concepções do pro¬cesso saúde-doença é um atri¬buto derivado da atenção primária, a competência cultural. A interculturalidade é fundamental para promover a equidade e a justiça social para essas populações (Gouveia, et al, 2019).
Associado a tal atributo, encontra-se a educação popular em saúde que busca integrar conhecimentos tradicionais com as práticas de saúde convencionais, promovendo uma abordagem inclusiva e contextualizada, que facilita o diálogo intercultural, respeitando as especificidades culturais e ambientais, contribui para a construção de práticas de saúde mais eficazes e emancipadoras (Bonetti, et al. 2020).
Emerge lançar sob essas populações uma promoção de saúde que recupere a potencialidade da participação, capacidade de produzir e circular conhecimentos, valorizar a autonomia dos sujeitos e transformar a realidade numa perspectiva emancipatória, as práticas emancipatórias em saúde, que oportuniza superar as limitações dos modelos hegemônicos (Porto et al., 2016).


Descrição da Experiência
Experiência desenvolvida e articulada pelo Conselho Local de Saúde da ESF Bx das Palmeiras, uma parceria da Equipe de Saúde da Família, o Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva da Urca (PRMSC) e equipamentos culturais de base comunitária e territorial existentes na comunidade do Baixio das Palmeiras, zona rural do município de Crato-CE.
As pessoas participantes são integrantes das PCFA, possuem uma tradição na produção de conhecimento de forma participativa e intercultural, e mantém uma relação estreita com a natureza e uma ecologia de saberes. Tal abordagem facilitou a integração entre o serviço de saúde e a comunidade. Desse modo, houve articulação e fortalecimento das práticas e cuidados emancipatórios territoriais, e emergiu a Mostra de Saberes e Cuidados Territoriais, evento que participam os equipamentos culturais de base comunitária existentes no território, como o Espaço cultural casa de Quitéria, o Grupo de artesanato fuxiqueiras da Chapada, o Grupo cultural maneiro pau, a Associação rural, o Ponto de cultura casa de farinha mestre Zé Gomes, as Coqueiras dos Baixios e a Dança do coco mestre Zé Gomes.
O planejamento da experiência teve como ponto de partida o movimento de articulação em defesa da preservação da territorialidade, que já estava estabelecido dentro da comunidade em conjunto com as lideranças locais.


Objetivo e período de Realização
Fortalecer a participação e o controle social local por meio da articulação e reconhecimento das potencialidades da educação popular em saúde, promovendo a interculturalidade e a participação social efetiva como práxis das práticas emancipatórias em saúde para as populações do campo, floresta e água. A presente atividade é realizada e desenvolvida anualmente desde 2019 até os dias atuais.

Resultados
Foram realizadas três Mostras de Saberes e Cuidados Territoriais, em 2019, com a temática "Troca de saberes entre Meisinheiras, comunidade e serviço de Saúde"; em 2022, focada em "Diálogos e fazeres em saúde no território"; e em 2023, abordando "Identidade, Tradição e Cultura nas Práticas Emancipatórias em Saúde".
Os eventos contaram com a participação de profissionais e trabalhadores da saúde, usuários, estudantes, cuidadores tradicionais, meisinheiras e benzedeiras, além de integrantes e brincantes dos grupos culturais comunitários e territoriais existentes na localidade, e representantes de universidades. Em todas as edições, houve cerca de 100 participantes.
Além das apresentações culturais, foram realizadas rodas de conversa que oportunizaram reflexões e discussões sobre práticas de saúde que defendam a vida, enfatizando a educação popular em saúde como cuidado emancipatório e a participação social que impactaram a qualidade de vida da comunidade, ao debater propostas efetivas no âmbito do SUS de forma interprofissional. Isso representa um avanço inovador por abordar questões tão pertinentes para essas populações invisibilizadas em nossa região.


Aprendizado e Análise Crítica
Os desafios da Estratégia Saúde da Família (ESF) na interculturalidade são diversos, especialmente em territórios do campo, se faz necessário uma abordagem interprofissional e participativa, para identificar suas reais necessidades e desenvolver soluções apropriadas. Isso implica compreender o território como um espaço social dinâmico, com características econômicas, políticas, sociais e culturais próprias (Forte; Pontes; Pessoa, 2023).
As práticas emancipatórias em saúde buscam superar as limitações dos modelos comportamentais ao promover uma abordagem participativa e integrada, que visa transformar as condições de vida e saúde das populações em territórios vulneráveis (Porto, 2016).
Para isso, a educação popular em saúde é uma ferramenta crucial ao promover a saúde e equidade entre as PCFA valorizando seus saberes tradicionais e fortalecendo a participação social (Bonetti et al., 2020).

Atualmente, o modelo hegemônico supervaloriza o conhecimento biomédico. Contudo, para a assistência à saúde efetiva, a valorização da cultura e das práticas de cuidado está se tornando cada vez mais necessária (Medeiros et al., 2023).
A atividade desenvolvida promoveu uma ruptura epistemológica, ao estimular o cuidado emancipatório e valorização dos saberes, através da Educação Popular em Saúde e interculturalidade no fomento ao fortalecimento da participação social em um território vivo.


Referências
Brasil, Ministério da Saúde.Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo e da Floresta.1ª. ed.Brasília : Ed: Ministério da Saúde, 2013.48 p.
Bonetti, O. P., et al. A educação popular em saúde na formação Multiprofissional em saúde: construindo novas Institucionalidades. In: Pulga, V. L. et al.,Educação popular, equidade e saúde: Dispositivos pedagógicos e práticas lúdicas de aprendizagem na saúde: a caixa de ferramentas nas relações de ensino e aprendizagem. Porto Alegre: Ed. Rede Unida, 2020.p:108-133.
Forte, M. P. N; Pontes, A. G. V; Pessoa, V.M. Trabalho e saúde em territórios do campo e das águas: perspectivas para descolonizar as práticas na Estratégia Saúde da Família. Rev Bras Saude Ocup 2023;48:e20
Porto, M. F. S. et al. Comunidades ampliadas de pesquisa ação como dispositivos para uma promoção emancipatória da saúde: bases conceituais e metodológicas. Ciência & Saúde coletiva, v. 21, n. 6. P. 1474-1756, 2016.


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