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52383 - O FUNCIONAMENTO DAS REGIÕES DE SAÚDE NO AMAZONAS E O DESLOCAMENTO DOS CASOS GRAVES DE COVID-19 NOS MUNICÍPIOS RURAIS E REMOTOS AMANDIA BRAGA LIMA SOUSA - ILMD - FIOCRUZ, FERNANDA RODRIGUES FONSECA - ILMD - FIOCRUZ, ANDRÉ LUIZ SILVINO CORRÊA - ILMD - FIOCRUZ
Apresentação/Introdução No primeiro ano da pandemia, 84,61% das regiões de saúde não possuíam estrutura hospitalar adequada (Ferraz et al., 2021). A pandemia evidenciou vazios assistenciais e a desigualdade na estrutura hospitalar existente no país. Mais do que nunca, o funcionamento em regiões de saúde, com estruturas de redes e fluxos de transporte estruturados mostraram-se essenciais. O estado do Amazonas, maior estado do Brasil, com uma área que compreende 1.559.168,117 km², onde vivem 3.941.175 pessoas (IBGE, 2022) os problemas históricos na organização, disponibilização e oferta dos serviços de saúde tornaram-se ainda mais evidentes neste período. Dados demonstram que, durante a pandemia, o estado ocupou, em diversos momentos, as maiores taxas de infecção em âmbito nacional, com consequente esgotamento da rede de assistência à saúde e um aumento expressivo do número de sepultamentos (Orellana et al., 2020). Destaca-se também que este é o estado da federação com a maior extensão territorial classificada como rural remota, em razão de critérios de densidade demográfica associadas à acessibilidade aos centros urbanos (IBGE, 2017). Neste sentido, considerou-se como fundamental analisar como se deu transporte de pacientes graves de Covid-19 oriundos dos municípios rurais e remotos no Amazonas e como funcionou a organização das regiões de saúde neste período.
Objetivos Analisar como se deram as transferências de casos graves de Covid-19 oriundos dos municípios rurais e remotos do Amazonas, tendo como foco o funcionamento das regiões de saúde no ano de 2021.
Metodologia Trata-se de um estudo exploratório, retrospectivo, que envolveu a análise da literatura, bem como, dados disponíveis no Banco de Dados de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), incluindo dados da COVID-19 e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a partir dos quais foi possível realizar a espacialização em mapas e identificar a situação da estrutura dos municípios rurais e remotos para o enfrentamento da Covid-19 no ano de 2021.
Primeiramente, foram identificados os municípios considerados rurais e remotos no estado do Amazonas. Após isso, foram coletados os dados de internação por Covid-19 desses municípios no SRAG. Neste banco também foram identificados os números de pacientes internados por Covid-19 que haviam sido transferidos para outros municípios no ano de 2021. E posteriormente, com o uso do QGIS 3.0, foram construídos mapas que demonstram o destino e a quantidade das transferências de pacientes internados por Covid-19 que tiveram como origem os municípios rurais e remotos. Para a construção dos mapas e análises levou-se em conta as regiões de saúde existentes no estado do Amazonas e seus respectivos municípios de referência.
Resultados e Discussão No Amazonas, 29 municípios são classificados como rurais remotos (IBGE, 2017). Em geral esses municípios possuem grandes extensões territoriais, baixa densidade demográfica, com mais da metade deles apresentando baixo IDH-M. Dentre os municípios com menor densidade demográfica chama atenção municípios como Japurá, Atalaia do Norte, Itamarati e Canutama, com densidade demográfica de 0,16 hab/km²; 0,20 hab/km²; 0,43 hab/km²; e 0,50 hab/km², respectivamente. Em 17 deles, a população residente nas áreas rurais é igual ou superior ao número de pessoas que vivem nas sedes destes municípios (IBGE,2010). Conforme dados do SRAG, no ano de 2021 foram internados para tratamento de Covid-19 nos municípios rurais e remotos do Amazonas um total de 2006 pacientes. Destes, 384 pacientes foram transferidos para outros municípios, o que representou a transferência de 19,1% dos pacientes internados por Covid-19 nestes municípios (Brasil, 2021). O transporte em casos de urgência é uma das estratégias utilizadas em localidades rurais e remotas, tendo sido um recurso de grande valia para essas localidades durante a pandemia (Ageta et al., 2020). Entretanto, a observação retrospectiva realizada neste estudo mostrou que a transferências das pessoas desses municípios teve como destino, na maior parte das vezes, a cidade de Manaus, com pacientes oriundos de outras regiões de saúde e até de outras macrorregionais que foram transferidos para esse município. Esses dados demonstram que durante a pandemia de Covid-19 houve uma concentração de pacientes enviados para um único município do estado.
Conclusões/Considerações finais Para os municípios rurais remotos do Amazonas a garantia de sistema de transporte adequado e o fluxo organizado para atendimento dos pacientes que necessitavam de cuidados de alta complexidade mostrou-se um elemento com alto potencial de contribuir com a manutenção de vidas durante o período da pandemia. Entretanto, a análise do que ocorreu na transferência de pacientes no ano de 2021no estado do Amazonas, evidenciou que nesse ano ainda houve muitas pessoas que foram transferidas de municípios rurais remotos para o município de Manaus, pertencentes a outras regiões de saúde, muitas vezes atravessando longas distâncias, para as quais Manaus não era o município de referência. Isso sugere que o estado do Amazonas, ainda no ano de 2021 convivia com limites para o funcionamento das regiões de saúde, conforme previsto no ano de 2011, quando o estado estabeleceu as regiões de saúde e os municípios de referência para cada uma delas.
Referências FERRAZ, D. et al. COVID Health Structure Index: The Vulnerability of Brazilian Microregions. Social Indicators Research, [s.l.], v. 158, n. 1, p. 197–215, 1 nov. 2021.
IBGE. Panorama do Censo 2022. 2022. Panorama do Censo 2022.
ORELLANA, J. D. Y. et al. Explosão da mortalidade no epicentro amazônico da epidemia de COVID-19. Cadernos de Saúde Pública, [s.l.], v. 36, n. 7.
IBGE. Classificação e caracterização dos espaços rurais e urbanos do Brasil: uma primeira aproximação. 2017.
IBGE. Censo Demográfico 2010: características gerais da população, religião e pessoas com deficiência. Rio de Janeiro: IBGE, 2010.
Ministério da Saúde, 2021. SRAG 2021 a 2024 - Banco de Dados de Síndrome Respiratória Aguda Grave - incluindo dados da COVID-19.
AGETA, K. et al. Delay in Emergency Medical Service Transportation Responsiveness during the COVID-19 Pandemic in a Minimally Affected Region. [s.l.], dez. 2020.
Fonte(s) de financiamento: Bolsa de Pibic, financiada pela FAPEAM
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