Roda de Conversa

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC3.3 - Barreiras e facilitadores da regulação do acesso na produção do cuidado

49104 - ACESSO A CONSULTA ESPECIALIZADA DE PACIENTES COM DIAGNÓSTICO DE CÂNCER HEMATOLÓGICO EM UM CENTRO DE REFERÊNCIA DO CEARÁ: RELATO DE EXPERIÊNCIA
LUCÉLIA RODRIGUES AFONSO - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ-UECE, ESPEDITO AFONSO JÚNIOR - UNINASSAU, ANTÔNIA WALDIANA LIMA LEANDRO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ-UFC, MARIA DO SOCORRO DE SOUZA NOGUEIRA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ-UFC, MARCELO GURGEL CARLOS DA SILVA - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ-UECE


Contextualização
A espera por atendimento ambulatorial especializado, tem sido um problema preocupante para os gestores do SUS, essa espera pode durar cerca de um a dois anos, Segundo Farias et al., 2019, este é um problema recorrente em cerca da metade dos países da organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a principal causa de insatisfação relatada pelos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) é a longa espera para consultas, exames especializados e cirurgias.
As neoplasias hematológicas (NH) estão entre os tipos cânceres que são originados a partir de células hematopoiéticas (BATISTA et al., 2016), e podem ser classificadas clinicamente como leucemias, linfomas, mieloma múltiplo e as síndromes mielodisplásicas (SMD). O tratamento das NHs depende muito do estágio em que se encontra a doença, portanto, quanto antes se inicia o tratamento, as chances de cura são aumentadas.
Esse relato pretende contribuir de forma positiva com algumas reflexões de como acontece a regulação da saúde, verificando quais os possíveis problemas que encontrados até a chegada no serviço secundário, levando em consideração a urgência da doença que estão acometidos, assegurando seu direito legal de rapidez no atendimento a fim de que os mesmos tenham uma condição de tratamento eficaz para sua enfermidade.


Descrição da Experiência
Durante três dias, no ambiente de trabalho, uma das pesquisadoras deste estudo observou todo o processo de busca por um atendimento ambulatorial no serviço de hematologia referência no Ceará.
No período de observação, percebeu-se que algumas pessoas já chegam com diagnóstico definido e se apresentam ao serviço com exames específicos e encaminhamento dado pelo médico indicando a procura do serviço, o que os fazem pensar que serão prontamente atendidos quando chegam ao serviço.
Percebe-se uma maior para as pessoas vindas do interior do estado, já que a consulta deveria ser ofertada pelo município de origem, no entanto isto não ocorre por haver carência de profissionais especializados em municípios cearenses. Há por parte da população e alguns profissionais de saúde desinformação de como deve ser realizado o processo desse atendimento especializado.
Os pacientes são informados pelos profissionais do serviço que precisam ir em busca de serem inseridos no sistema da prefeitura para ficar em uma fila de espera, porém este paciente já não tem tanto tempo para esperar. Se for do interior do estado, é necessário que este paciente seja referenciado para o serviço especializado, no entanto a maioria das prefeituras enviam o paciente sem informação alguma e os deixam vivenciar um processo de sofrimento e busca incessante por esse atendimento tão necessário.


Objetivo e período de Realização
Relatar a experiência das dificuldades de acesso a uma consulta especializada de pacientes com diagnóstico de câncer hematológico em um centro de referência do Ceará.
A pesquisa foi realizada no mês de abril de 2024, em 3 dias distintos, nos horários de 07:00 da manhã ás 18:00 horas, atuando de forma observacional quanto ao atendimento de pacientes que buscam o acesso a uma consulta especializada com um profissional hematologista.


Resultados
Na prática vivenciada, foi possível perceber, que inúmeros são os pacientes em busca de uma consulta especializado com um médico hematologista em um centro de referência em hematologia do estado do Ceará.
No entanto, para que esta consulta aconteça é necessário que o paciente seja inserido no sistema de referência das prefeituras e aguardar em fila de espera para conseguir esse atendimento, o que pode reverberar em problemas maiores na saúde dessas pessoas, por se tratar de doenças graves e precisam de tratamento imediato.
Contudo, os pacientes que buscam uma consulta no serviço, em sua maioria chegam sem serem referenciados ou inseridos no sistema, os profissionais que fazem os encaminhamentos, desconhecem o funcionamento do sistema, e isso prejudica bastante o paciente, uma vez que esta pessoa acredita que será prontamente atendido ao chegar no serviço.
Percebeu-se também que muitos usuários de planos de saúde também buscam o serviço citado por argumentarem não conseguir a consulta pelo plano, já outros informam que pagaram uma consulta em uma clínica popular e que ao obterem o diagnóstico são orientados a procurar pelo serviço de referência onde o relato foi realizado.


Aprendizado e Análise Crítica
Na prática, desde de a regulamentação do SUS pela Lei 8080: o paciente deve procurar a UBS antes mesmo de apresentar os sintomas de alguma doença. E só deve ser encaminhado para outros serviços temporariamente, para realizar procedimentos especializados, em locais como Policlínicas e Hospitais, por encaminhamento da atenção primária. Após o procedimento, o paciente deve voltar para a UBS de origem para acompanhamento. Esse fluxo é chamado referência e contrarreferência, que são organizados e planejados pelos gestores do SUS.
Vários atores do SUS caracterizaram a rede de cuidados especializados como “ insuficiente” tornando-se a atenção especializada um grande problema na construção do Sistema (TESSER; NETO, 2017). Os municípios são responsáveis pela rede ambulatorial especializada, já que são repassados recursos federais para que os munícipios ofereçam a população procedimentos e consultas especializadas (BRASIL, 2014).
Quando se trata de pacientes usuários de planos de saúde, Cavalcante, (2023) expõe que a pessoa beneficiária de algum plano privado de assistência, escapa completamente a qualquer tipo de lógica integrada de atenção. Pois, facilmente é possível marcar uma consulta com um especialista, o que de certa forma agiliza o atendimento, no entanto muitas vezes resulta em uma solução muito pontual, tratando a consequência, deixando de lado a causa do problema de saúde.


Referências
CAVALCANTE, C.C. Atenção Especializada no SUS, o que precisa mudar para alcançar a efetividade. Observatório de Política e Gestão Hospitalar. Jun. 2023. Disponível em: https://observatoriohospitalar.fiocruz.br/debates-e-opinioes/atencao-especializada-no-sus-o-que-precisa-mudar-para-alcancar-efetividade. Acesso em mai. 2024.
FARIAS, C.M.L., GIOVANELLA, L., OLIVEIRA., ADAUTO, E., SANTOS NETO, EDSON, T. Tempo de espera e absenteísmo na atenção especializada: um desafio para os sistemas universais de saúde; SAÚDE DEBATE, RIO DE JANEIRO, V. 43, N. ESPECIAL 5, P. 190-204. DEZ 2019.
TESSER, C.D; NETO, P.P. Atenção especializada ambulatorial no Sistema Único de Saúde: para superar um vazio. Ciênc. saúde colet. 22 (3) Mar 2017 https://doi.org/10.1590/1413-81232017223.18842016
BATISTA J.L, et al. Epidemiology of Hematologic Malignances. In: M. Loda et al. (eds.). Pathology and Epidemiology of Cancer. Springer; 2016. p. 543-569.

Fonte(s) de financiamento: Sem financiamento


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