53946 - ATENÇÃO À SAÚDE DE PESSOAS ATINGIDAS PELA HANSENÍASE NO MUNICÍPIO DE TERESINA/PI: DIÁLOGOS E REFLEXÕES RAÍ DE MOURA RIBEIRO - GRADUANDO DO CURSO DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ; PARTICIPANTE DO PROGRAMA DE ICV 2023-2024 SOB O NÚMERO PICCS10680-2023., MAURÍCIO DE SOUSA CARVALHO REIS - CIRURGIÃO DENTISTA DA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA DO MUNICÍPIO DE MIGUEL ALVES/PI; MESTRANDO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE DA FAMÍLIA DA REDE NORDESTE DE SAÚDE DA FAMÍLIA/MESTRADO PROFISSIONAL (UFPI-RENASF-FIOCRUZ)., DAVI KAUAN SOARES LEAL - GRADUANDO DO CURSO DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ; BOLSISTA DO PROGRAMA DE PIBIC 2023-2024 SOB O NÚMERO PICCS10665-2023., FÁBIO SOLON TAJRA - DOCENTE DO DEPARTAMENTO DE MEDICINA COMUNITÁRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ; DOCENTE DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE DA FAMÍLIA DA REDE NORDESTE DE SAÚDE DA FAMÍLIA/MESTRADO E DOUTORADO PROFISSIONAL (UFPI-RENASF-FIOCRUZ); SUPERVISOR DA PLATAFOR
Apresentação/Introdução A Hanseníase é uma doença infectocontagiosa de evolução crônica causada pelo Mycobacterium leprae que, apesar de curável, ainda permanece presente endêmica em diversas regiões do mundo. O M. leprae afeta primariamente os nervos periféricos e a pele, podendo acometer também a mucosa do trato respiratório superior, olhos, linfonodos, testículos e órgãos internos, de acordo com o grau de resistência imune da pessoa infectada (Brasil, 2022). Segundo Deps e colaboradores (2023), o estigma sobre Hanseníase inclui um preconceito nas diversas esferas, seja individual, pública e estrutural. Essa última sendo representada pela oferta de serviços subfinanciados, pela falta de inovação em técnicas de diagnóstico e pela desvalorização da pesquisa. Nesse sentido, a vivência das pessoas atingidas pela Hanseníase é ultrapassada por diversos elementos, os quais interferem diretamente no acesso aos atendimentos em saúde. O acesso aos serviços de saúde faz referência a um tema amplo e que abrange diversas dimensões, como disponibilidade, acessibilidade, adequação funcional, capacidade financeira e aceitabilidade (Chávez et al., 2020). Desse modo, o entendimento das diferentes trajetórias para acessar os cuidados torna-se pertinente para se compreender as possíveis fragilidades de garantia do serviço integral das redes de cuidado e direcionar intervenções de gestores em saúde.
Objetivos Compreender as experiências de pessoas atingidas pela hanseníase no município de Teresina/PI.
Metodologia Trata-se de uma pesquisa qualitativa em saúde por privilegiar os sentidos e os afetos dos movimentos de uma comunidade (BOSI; MERCADO-MARTÍNEZ, 2004). Os sujeitos foram abordados no Centro Maria Imaculada (CMI). Para o recrutamento foram utilizados os momentos de sala de espera e após o fim dos atendimentos ofertados, sendo as amostras propositais. Sobre os critérios de inclusão, foram considerados os usuários que acessaram os serviços do CMI. Foram excluídos adolescentes e pessoas com transtornos psiquiátricos, na tentativa de reduzir qualquer tipo de risco relacionado à pesquisa. Na perspectiva metodológica assumida, foram feitas entrevistas semi-estruturadas de natureza individual, gravadas, partindo de perguntas condutoras e elaboradas a partir dos objetivos da pesquisa. As entrevistas foram transcritas pelo próprio pesquisador e analisadas, intercaladas ao processo de imersão em campo, a partir do referencial teórico de Paul Ricoeur. Os entrevistados assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido concordando com a participação no estudo e o projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal do Piauí (número do parecer: 3.429.590).
Resultados e Discussão A partir desse estudo, foi possível abordar 8 participantes e traçar seus movimentos para acessar os serviços terapêuticos. A análise das entrevistas possibilitou a identificação de três unidades de significado, a saber: a desinformação; a acessibilidade; e as condições socioeconômicas para o seguimento do tratamento. Inicialmente, faz-se menção à necessidade da difusão de informações sobre o alerta aos primeiros sinais e sintomas acerca da Hanseníase, com o intuito de favorecer o reconhecimento precoce, uma vez que, em alguns casos, há uma resistência em buscar serviços de saúde por conta da desinformação, a exemplo: “Na verdade eu já percebia os sintomas, só não sabia que era Hanseníase. As pessoas que suspeitaram e me pediram pra procurar um médico pra saber se não era. Eu duvidava, achava que não, e aí realmente foi constatado que era Hanseníase mesmo.” (O Caseiro). Além disso, tem-se o fator acessibilidade, que remete à relação entre localização da oferta e dos usuários, distância entre eles, forma de deslocamento e custos (Assis e Jesus, 2012). Assim, a distância torna-se um obstáculo ao acesso às redes de cuidado, já que muitas vezes as pessoas moram em bairros ou municípios distantes desses serviços. A exemplo: “Quer dizer, pra mim eu tô achando bom, só que a distância, papai é longe ó, cidade leste pra cá. É quatro ônibus por dia.” (O Inacessível). Quanto às condições socioeconômicas para o seguimento do tratamento, foi relatada a necessidade de trabalhar para a garantia da sobrevivência, mesmo diante da recomendação de repouso e da limitação física provocada pela patologia. A exemplo: “Esse remédio disse que tinha que ter repouso, e hoje eu estou sofrendo né. Mas não me arrependo não, eu não ia é deixar meus filhos morrerem de fome.” (A Altruísta).
Conclusões/Considerações finais Conclui-se com a pesquisa que, apesar da presença do cuidado integral ofertado às pessoas atingidas com Hanseníase, ainda, há um longo caminho a ser percorrido para que esse cuidado esteja ao alcance de todos os usuários do serviço de saúde. Dentre os principais obstáculos, pode-se destacar os relacionados ao acesso e à acessibilidade, que dificultam a garantia da integralidade quanto à oferta do cuidado multiprofissional, apontando para a necessidade de políticas em gestão voltadas para essa temática. Esses desafios, observados no atendimento aos pacientes em Teresina/PI, estão presentes também em diversas partes do país e até mesmo fora dele, o que levanta a importância da compreensão, avaliação e intervenção nesta temática
Referências ASSIS, Marluce Maria Araújo; JESUS, Washington Luiz Abreu de. Acesso aos serviços de saúde: abordagens, conceitos, políticas e modelo de análise. Ciência & Saúde Coletiva, v. 17, p. 2865-287, 2012.
BOSI, M.L.M.; MERCADO-MARTÍNEZ, F.J. (Org.). Pesquisa Qualitativa de Serviços de Saúde. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Hanseníase. Brasília : Ministério da Saúde, 2022.
CHÁVEZ, Giannina Marcela et al. Acesso, acessibilidade e demanda na estratégia saúde da família. Escola Anna Nery, v. 24, p. e20190331, 2020.
DEPS, Patrícia et al. Steps towards eliminating Hansen‘s disease stigma. International Health, v. 15, n. Supplement_3, p. iii7-iii9, 2023.
Fonte(s) de financiamento: Sem financiamento.
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