Roda de Conversa

06/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC2.20 - Problemas negligenciados nas populações vulnerabilizadas

51849 - A ARTE COMO RECURSO DE SENSIBILIZAÇÃO E MOBILIZAÇÃO DE GESTORES EM PROL DA HANSENÍASE: RELATO DE PESQUISA
DAVI KAUAN SOARES LEAL - GRADUANDO DO CURSO DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ; BOLSISTA DO PROGRAMA DE PIBIC 2023-2024 SOBRE O NÚMERO PICCS10665-2023, EDUARDA MARIA SANTOS SILVA BARBOSA - CIRURGIÃ DENTISTA DA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA DO MUNICÍPIO DE FLORIANO; DOCENTE DA FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DE FLORIANO; DOUTORANDA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE DA FAMÍLIA DA REDE NORDESTE DE SAÚDE DA FAMÍLIA/DOUTORADO PROFISSIONAL(UFPI, FÁBIO SOLON TAJRA - DOCENTE DO DEPARTAMENTO DE MEDICINA COMUNITÁRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ; DOCENTE DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE DA FAMÍLIA DA REDE NORDESTE DE SAÚDE DA FAMÍLIA/MESTRADO E DOUTORADO PROFISSIONAL (UFPI-RENASF-FIOCRUZ); SUPERVISOR DA PLATAFOR


Apresentação/Introdução
A hanseníase acomete, em sua maioria, grupos sociais em situação de maior vulnerabilidade, por fatores sociais, econômicos e ambientais. É uma enfermidade infectocontagiosa crônica causada pelo Mycobacterium leprae, um bacilo álcool-ácido resistente, parasita intracelular com predileção pela célula de Schwann e pela pele (JESUS et al., 2023). Em 2022, o Piauí registrou 683 novos casos de hanseníase, e mais de 17 mil novos casos de hanseníase foram diagnosticados no Brasil (BRASIL, 2023), dados que alertam para a importância da conscientização e atenção aos primeiros sintomas dessa patologia.
Diante dessa realidade, a arte é uma forma de comunicação que questiona, que interpreta e que retrata a realidade abstrata ou concreta, e devido a essa capacidade de transmitir conhecimentos e sentimentos profundos, ela pode ser usada para a transmissão de significados relacionados à saúde com fins de pesquisa, uma vez que, a partir da Arte, pode-se estudar e entender a natureza socialmente construída da realidade, a relação íntima entre o pesquisador e o que é estudado e as condições que configuram a pesquisa (DENZIN & LINCOLN, 2003). Nesse sentido, usar a arte como recurso para a promoção de ações em saúde pode contribuir para a sensibilização e mobilização de gestores em prol da prevenção e do controle dessa patologia.

Objetivos
Apresentar relato de pesquisa qualitativa em saúde sobre a experiência de cuidado de pessoas acometidas com hanseníase no estado do Piauí, a partir do recurso arte.

Metodologia
A produção das telas foi realizada após pesquisa qualitativa em saúde. Foram realizadas visitas ao Centro Maria Imaculada(Centro de Atenção Especializado em Hanseníase) em Teresina (PI), acompanhando-se a rotina dos serviços ofertados, como Medicina, Enfermagem, Fisioterapia, Assistência Social, Psicologia, com a intenção de coletar relatos sobre o contexto de quem experiencia a Hanseníase. A partir disso, foram produzidas Versões de Sentido, que se trata de “um relato livre, que não tem a pretensão de ser um registro objetivo do que aconteceu, mas sim de ser uma reação viva a isso, escrito ou falado imediatamente após o ocorrido, e como uma palavra primeira” (AMATUZZI, 2001). As Versões de Sentido foram utilizadas para a elaboração de símbolos que retratam essa doença e que foram adquiridos por meio das afetações geradas nas visitações, sendo materializadas através da produção de desenhos e da pintura desses, para a transmissão dos conceitos característicos do contexto de quem sofre com a Hanseníase. O presente estudo dispensou os procedimentos éticos, uma vez que utilizou observação de campo.

Resultados e Discussão
As versões de sentido fazem referência à fisiopatologia da doença, como: sinais e sintomas, e a transmissão. Porém, observou-se que, apesar de serem informações conhecidas, elas são pouco difundidas no meio social. A maioria das pessoas não associaram os sinais e sintomas a algo grave de início, o que dificultou a busca precoce por atendimento médico, e o pouco conhecimento sobre a transmissão pode colaborar com o aumento do estigma social. Tal cenário dificulta a execução de medidas de controle e profilaxia, apontando para a educação em saúde como um instrumento necessário(COROLIANO-MARINUS ET AL, 2012).
Outra afetação faz menção ao diagnóstico errado, sendo relatado por pessoas que começaram tratando Pitiríase Versicolor e Lúpus Eritematoso Sistêmico. E além de dermatologistas, os usuários do serviço de saúde afirmaram terem procurado outros especialistas, como ortopedistas. Essa situação pode ocorrer pela ausência de capacitação continuada para Hanseníase ofertada aos profissionais da saúde(MOREIRA et al., 2014).
Além disso, as afetações também fazem referência às dores negligenciadas das pessoas acometidas pela Hanseníase, como estigma social, autoestima, destacando-se a necessidade do cuidado integral nas Unidades Básicas de Saúde para o tratamento dessa patologia, que afeta fisicamente, mentalmente e socialmente cada pessoa acometida.
Os desenhos, que transmitem as versões de sentido, foram apresentados por meio de uma exposição artística aberta no Museu do Piauí – Casa de Odilon Nunes, durante o Janeiro Roxo, além da realização de roda de conversa com a participação de movimentos sociais, de gestores e da população, com debates sobre a vivência com essa patologia na sociedade e no sistema de saúde.

Conclusões/Considerações finais
Conclui-se, com a pesquisa, que, apesar da presença de uma estrutura de saúde pública direcionada para o cuidado da pessoa com Hanseníase, ainda há um longo caminho a ser percorrido para que essa estrutura garanta de forma efetiva a integralidade direcionada a essa população. Dentre as principais questões a serem consideradas para a ampliação de políticas e planejamento da gestão em saúde voltadas para essa temática, podemos destacar, a importância de intervenções educativas para a promoção da saúde na sociedade, como também, para a capacitação eficiente dos profissionais de saúde, além da importância do cuidado integral em todo o itinerário terapêutico das pessoas acometidas. Diante disso, utilizar a arte para sensibilização de gestores acerca da Hanseníase torna-se viável, uma vez que esse recurso compreende um meio de divulgação e de debate sobre temáticas sociais com alcance para toda a população.

Referências
AMATUZZI, Mauro Martins. Uso da versao de sentido na formacao e pesquisa em psicologia. Repensando a Formacao do Psicologo: da Informacao a Descoberta. Tradução. Campinas: Alinea, 1996.
BRASIL. Ministério da Saúde. Piauí registrou 683 novos casos de hanseníase em 2022. 2023.
DENZIN, Norman. & LINCOLN, Yvonna. (Eds.) The landscape of qualitative research – theories and issues. London: Sage, 2003.
JESUS, I. L. R. DE . et al.. Hanseníase e vulnerabilidade: uma revisão de escopo. Ciência & Saúde Coletiva, v. 28, n. 1, p. 143–154, jan. 2023.
MOREIRA, A. J. et al.. Ação educativa sobre hanseníase na população usuária das unidades básicas de saúde de Uberaba-MG. Saúde em Debate, v. 38, n. 101, p. 234–243, abr. 2014.
COROLIANO-MARINUS, M.W. L. et al. Saúde do escolar: uma abordagem educativa sobre Hanseníase. Sau. & Transf. Soc, Florianópolis, v.3, n.1, p.72-78, 2012.

Fonte(s) de financiamento: Programa de PIBIC 2023-2024 da Universidade Federal do Piauí, sobre o número PICCS10665-2023


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