51224 - SITUAÇÕES SOCIAIS E PROGRAMÁTICAS VULNERABILIZANTES NO CENÁRIO DAS INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS TAINA DE JESUS ALVES PORTELA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC) - CAMPUS SOBRAL, JOSÉ DAVI JOVINO FARIAS - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UVA, MARIA ADELANE MONTEIRO DA SILVA - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UVA, NIELE DUARTE RIPARDO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC) - CAMPUS SOBRAL, ANTONIA TAINÁ BEZERRA CASTRO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC) - CAMPUS SOBRAL, ANTÔNIO RODRIGUES FERREIRA JÚNIOR - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE, CIBELLY ALINY SIQUEIRA LIMA FREITAS - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UVA, ANA ALICE BATISTA RODRIGUES - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UVA, ALLYCIA DE FÁTIMA MELO PIMENTA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC) - CAMPUS SOBRAL
Apresentação/Introdução Florêncio; Moreira (2021) consideram Vulnerabilidade em Saúde (VS) como condição que envolve questões sociais relacionadas à renda, violência, letramento, acesso aos direitos fundamentais e a situações que envolvem preconceito, estigma e discriminação. Nesse sentido, destaca-se a dimensão institucional e programática na produção de sujeitos invisíveis perante as políticas públicas.
Percebidas como problema de saúde pública, as Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) comprometem a saúde e repercutem nas relações familiares, afetivas e sociais. Nessa perspectiva, é preciso que a abordagem dos profissionais da saúde às pessoas com IST considerem as diversas situações de vulnerabilidade vivenciadas por estas pessoas. A equipe de saúde, além de estar sensível para perceber essas situações, ainda precisa estar preparada para construir estratégias para o seu enfrentamento. Assim, é fundamental capacitações, como também segurança técnica, humanização e aconselhamentos para mitigar tais situações vulnerabilizantes (GARCIA et al., 2021).
O desenvolvimento de pesquisas nessa área, bem como a construção de estratégias intersetoriais buscam transformar a realidade que envolve situações de vulnerabilidade e a interseccionalidade de marcadores sociais e estruturais da opressão, que repercutem na prevenção, no controle e nos cuidados às pessoas com IST, como sífilis, hepatites e HIV/Aids.
Objetivos Conhecer os desafios para a prevenção e controle da transmissão das IST/HIV/AIDS relacionadas às vulnerabilidades em saúde sob a óptica dos gestores dos municípios de uma área descentralizada em saúde do Ceará.
Metodologia Estudo qualitativo realizado na 12ª Área Descentralizada de Saúde de Acaraú composta por 7 municípios. A escolha desse cenário foi motivada pelos indicadores desfavoráveis com base nos boletins epidemiológicos desde o ano de 2020, visto a divisão do Sistema Estadual de Saúde do Ceará em cinco macrorregiões e 22 regiões de saúde, de acordo com o Plano de Regionalização instituído, em virtude do processo de regionalização e municipalização da saúde, conforme princípios do SUS.
Os participantes selecionados corresponderam a 11 gestores em saúde dos municípios com exercício no cargo a pelo menos um ano. A coleta de dados correspondeu ao período de maio a agosto de 2022, por meio da aplicação de entrevistas semiestruturadas, com cerca de 20 minutos de duração, gravadas e com posterior transcrição para análise por meio da Técnica de Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) de Levéfre. O projeto de pesquisa obteve apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa com aprovação sob o parecer 5.406.014.
Resultados e Discussão Os discursos dos gestores envolvem vulnerabilidades sociais e também de ordem estrutural relacionadas ao âmbito dos serviços de saúde que são responsáveis pelo acompanhamento das populações acometidas pelas infecções por sífilis, hepatites e HIV/Aids. As questões sociais favorecem o aumento das IST e apresentam interligação direta com a não aceitação dos sujeitos ao diagnóstico e tratamento, por receio ao estigma de cunho institucional.
O estigma representa impacto negativo na contenção das IST pois resulta em desinteresse da população aos cuidados em saúde. A resistência à testagem por medo do diagnóstico e por desconfiança da ética profissional impede o tratamento precoce, gerando condições vulnerabilizantes de autocuidado, discriminação social e não adesão às orientações, que atreladas, configuram-se como fatores que perpetuam a cadeia de transmissão de tais doenças (GARCIA et al., 2021).
Grande parte das pessoas não se consideram vulneráveis às IST devido escassez da realização de abordagens e aporte dos protocolos/programas governamentais sobre o assunto pelo setor saúde, na aproximação da comunidade às informações cruciais de contenção e prevenção de casos. A abordagem do uso dos preservativos, continua sendo um dos fatores decisivos para perpetuação da vulnerabilidade social (CERWENKA et al., 2022).
A gestão e os profissionais devem (re)pensar estratégias de educação em saúde, considerando as singularidades dos sujeitos e as influências do meio em que vivem frente às situações de violência, pobreza e residências em locais de risco. Destaca-se o respeito aos direitos humanos fundamentais da população, acolhimentos inclusivos, suporte psicossocial e monitoramento epidemiológico, por meio de estratégias de ação em saúde coletiva.
Conclusões/Considerações finais Contextos de grande vulnerabilidade, como violência e pobreza, se associam a fatores sociais, culturais e econômicos e favorecem o aumento de barreiras de acesso à cidadania, e como consequência, aos serviços de saúde. O medo dos acometidos por IST está relacionado ao preconceito e estigma, principalmente institucional, que geram relutância à testagem, impedindo a procura por atendimento e comprometendo o seguimento precoce para o sucesso terapêutico. Assim, o estigma e não aceitação dessas pessoas pela sociedade os distanciam cada vez mais do acesso aos direitos fundamentais.
A gestão necessita apoiar o desenvolvimento de estudos pautados na epidemiologia social, que busque investigar o contexto de vulnerabilidades e interseccionalidades envolvidas no universo das pessoas acometidas por IST. É mister o desenvolvimento de competências dos profissionais da saúde para o desenvolvimento de ações mais eficazes no combate a estes agravos e seu impacto na sociedade.
Referências FLORÊNCIO, R.S; MOREIRA, T.M.M. Modelo de vulnerabilidade em saúde: esclarecimento conceitual na perspectiva do sujeito-social. Acta Paul Enferm., v. 34, 2021. Disponível em: http://www.scielo.br/j/ape/a/j5R4zLdBMPzwyPjKqYRHsFz/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 26 maio de 2024.
GARCIA PJ, MIRANDA AE, GUPTA S, et al. The role of sexually transmitted infections (STI) prevention and control programs in reducing gender, sexual and STI-related stigma. EClinicalMedicine, n. 33, 2021. DOI:10.1016/j.eclinm.2021.100764. Acesso em: 26 maio de 2024.
CERWENKA S, WIESSNER C, MERCER CH, et al. Factors associated with non-use of condoms among heterosexually-active single people in Germany: Results from the first representative, population-based German health and sexuality survey (GeSiD). Int J STD AIDS, n. 33, v. 8, p. 766-772, 2022. DOI:10.1177/09564624221100309. Acesso em: 26 maio de 2024.
Fonte(s) de financiamento: Bolsa de Produtividade em Pesquisa, Estímulo à Interiorização e à Inovação Tecnológica – BPI/FUNCAP
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