Roda de Conversa

06/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC2.20 - Problemas negligenciados nas populações vulnerabilizadas

48878 - DETERMINANTES DA ADESÃO À ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL ADEQUADA: RESULTADOS DA COORTE ZIKA FORTALEZA
STHEFANI DA COSTA PENHA - UFC, BERNARD CARL KENDALL - TULANE UNIVERSITY, LIGIA REGINA FRANCO SANSIGOLO KERR - UFC


Apresentação/Introdução
O pré-natal corresponde ao cuidado disponibilizado a mulheres com o intuito de garantir melhores condições de saúde na gestação, devendo ser realizadas 6 consultas mínimas (WHO, 2016). Este inclui a estratificação de risco desde a primeira consulta, sendo realizado o encaminhamento da gestante a serviços especializados de referência de acordo com a condição avaliada (Brasil, 2022; Liao, 2021).
A estrutura social está diretamente associada ao acesso a ações em saúde, já que níveis de escolaridade e renda tendem a minimizar a capacidade da mulher de cuidar de si mesma. Assim, gestantes com menor instrução buscam por serviços de pré-natal com menor frequência, repercutindo no atraso em cuidados obstétricos. Além disso, mães solteiras apresentam maior chance de realizar pré-natal inadequado (Defilipo et al., 2022; Penha et al., 2019).
A Rede Cegonha está entre as iniciativas de aprimoramento do acesso ao pré-natal no Brasil (Nagai et al., 2022). Esta foi instituída em 2011, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), como uma rede de cuidados ao binômio materno-infantil com ações voltadas ao planejamento reprodutivo, gestação, parto, puerpério, nascimento seguro, crescimento e desenvolvimento adequados à criança (Brasil, 2011).
Neste contexto, a identificação de fatores que influenciam a adesão às consultas de pré-natal pode possibilitar ações que promovam maior frequência ao cuidado.

Objetivos
Analisar os fatores determinantes da adesão à assistência pré-natal adequada por gestantes na Coorte Zika Fortaleza.

Metodologia
Estudo transversal, recorte da primeira onda da Coorte Zika Fortaleza, realizada com mulheres de 15 a 39 anos, residentes em Fortaleza/CE, de fevereiro de 2018 a setembro de 2019.
Foram feitas entrevistas, coletando dados sociodemográficos e obstétricos. A variável de desfecho foi número de consultas de pré-natal, avaliando assistência adequada realizar pelo menos 6 consultas. As variáveis de exposição foram fatores sociodemográficos (escolaridade, renda mensal pessoal e situação conjugal) e obstétricos (número de gestações e histórico de aborto).
Realizaram-se análises descritiva através de frequências absoluta e relativa e analítica pelo teste qui-quadrado ou exato de Fisher. Foi feita associação entre variáveis de exposição e desfecho por análise bivariada e multivariada com modelo de regressão logística. A variável de desfecho foi dicotomizada em maior ou igual a 6 consultas e menor que 6 consultas. O critério para inserção da variável no modelo multivariado foi p<0,20 na análise bivariada. Consideraram-se significativos p<0,05. Utilizou-se Stata versão 17.0 para análises estatísticas.
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal do Ceará (Nº 2.108.291).

Resultados e Discussão
Do total de 776 mulheres, a faixa etária predominante foi de 20 a 34 anos (72,39%), 69,86% se autodeclararam pardas, 55,56% possuíam ensino médio e 70,32% viviam com cônjuge. 79,25% realizaram pelo menos 6 consultas de pré-natal, 87,03% tiveram até 3 gestações e 20,21% possuíam histórico de aborto.
A análise bivariada demonstrou que idade mais avançada quando comparada à menor idade foi associada a realizar 6 ou mais consultas de pré-natal (OR 2,24; IC95% 1,11-4,50). Mulheres com ensino médio comparadas àquelas com ensino fundamental apresentaram associação com ter realizado pelo menos 6 consultas (OR 1,65; IC95% 1,16-2,36). Não ter histórico de aborto expôs maior chance de realizar 6 ou mais consultas comparado a ter histórico de aborto (OR 2,28; IC95% 1,54-3,38). Estes resultados coincidem com estudo sobre a qualidade do pré-natal em Sergipe, que constatou que gestantes mais velhas, com maior escolaridade e que planejavam gestar tiveram 6 consultas mínimas (Mendes et al., 2020). Mulheres sem cônjuge tinham menor chance de realizar 6 ou mais consultas do que aquelas com cônjuge (OR 0,62; IC95% 0,43-0,89), explicando-se pela ausência de companheiro torná-las mais vulneráveis pela falta de apoio emocional e incentivo ao cuidado de si (Magalhães et al., 2021).
Na análise multivariada, observou-se maior chance de realizar 6 ou mais consultas no modelo 1, caracterizado por mulheres mais velhas, com maior escolaridade e sem histórico de aborto. Houve maior chance de realizar pelo menos 6 consultas em modelo 2, constituído por mulheres com cônjuge, maior escolaridade e sem histórico de aborto. Estes resultados confirmam que a efetividade das ações em saúde é influenciada por fatores sociodemográficos, sobretudo na assistência obstétrica (Magalhães et al., 2021).

Conclusões/Considerações finais
Conclui-se que os determinantes da assistência de pré-natal adequada incluem fatores sociodemográficos e obstétricos, como idade mais avançada, maior escolaridade, viver com cônjuge e não ter histórico de aborto. Diante disso, observa-se que a estrutura social repercute sobre o acesso aos cuidados em saúde, refletindo as desigualdades sociais existentes.

Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Manual de Gestação de Alto Risco. Brasília: Ministério da Saúde, 2022.

DEFILIPO, E. C. et al. Prenatal and perinatal care in Governador Valadares, Minas Gerais state, Brazil. Fisioter Mov, v. 35, Spec Iss, e35608, p. 1-10, 2022.

LIAO, A. Ginecologia e obstetrícia Febrasgo para o médico residente. 2. ed. Barueri, SP: Manole, 2021.

MENDES, R. B. et al. Avaliação da qualidade do pré-natal a partir das recomendações do Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento. Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, n. 3, p. 793-804, 2020.

PENHA, S. C. et al. Fatores de risco maternos associados à prematuridade em uma maternidade-escola. SANARE (Sobral, Online), v. 18, n. 2, p. 43-51, 2019.

WORLD HEALTH ORGANIZATION - WHO. WHO recommendations on antenatal care for a positive pregnancy experience. Geneva: WHO, 2016.

Fonte(s) de financiamento: Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - FUNCAP (BMD-0008-02111.01.13/23)


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