06/11/2024 - 13:30 - 15:00 RC2.19 - Barreirras, Acesso e Direito a integralidade do cuidado |
51444 - ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: ESTRATÉGIAS DE CUIDADO NA SAÚDE RIBEIRINHA CRISTIANO GONÇALVES MORAIS - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA. PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA, AYLENE BOUSQUAT - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA. DEPARTAMENTO DE POLÍTICA, GESTÃO E SAÚDE
Apresentação/Introdução A Amazônia conta com uma vasta extensão territorial e hidrográfica, além de uma população diversa, composta por ribeirinhos, indígenas, quilombolas; esses aspectos são alguns dos fatores que compõem o amplo debate envolvendo saúde na Amazônia, que apresenta conhecidos desafios envolvendo: vulnerabilidade social, dispersão populacional, barreiras geográficas e organizacionais que dificultam o acesso à serviços de saúde, além de ser uma região que sofre com a falta e a rotatividade de profissionais de saúde. A Atenção Primária à Saúde (APS) se insere nesse contexto como sendo um dos principais modos de acesso da população aos serviços de saúde e que conta, na região amazônica, com estratégias distintas adequadas ao território para o acesso à saúde que são: a unidade básica de saúde fluvial e as equipes de saúde da família ribeirinha. Incorporar estratégias como essas, previstas em políticas públicas, é uma parte do processo de fortalecimento da APS, no entanto se faz necessário somá-las a outras iniciativas para sanar os complexos problemas na região e atender à crescente e pouco atendida demanda da população.
Objetivos Identificar estratégias para o fortalecimento da APS em um município rural remoto na região Norte, que tem sua dinâmica socioespacial marcada pelos cursos dos rios.
Metodologia Trata-se de um estudo de caso de cunho qualitativo, é um recorte da pesquisa “Atenção Primária à Saúde em Territórios Rurais e Remotos no Brasil”, cujo campo foi realizado em 2019 e contou com atividades de análise de dados e de divulgação até 2023. A pesquisa propôs a classificação de 323 municípios rurais remotos em 6 clusters, a região Norte foi dividida em Norte Estradas e Águas, classificação esta que reflete a dinâmica do acesso dos usuários aos serviços da APS. A coleta de dados se deu através de entrevistas com questionários estruturados, tendo como público-alvo: gestores, profissionais e usuários. O recorte de dados apresentado no presente estudo é referente ao município de Boa Vista do Ramos (AM), localizado na região do Baixo Amazonas. As entrevistas utilizadas envolveram: dois gestores municipais (secretaria municipal de saúde e coordenadora de atenção básica), ainda foram entrevistados na sede e no interior: enfermeiro (2), médico (2), agente comunitário de saúde (2) e usuários (6). A partir da observação participante e de anotações de diário de campo, realizou-se a síntese dos achados.
Resultados e Discussão O município apresentou uma população constituída por pescadores, ribeirinhos e indígenas. No âmbito da saúde, em particular da APS, das seis equipes de saúde da família (ESF), quatro delas tratavam-se de ESF ribeirinha. Importantes esforços da gestão local envolvendo o fortalecimento da APS, ainda mais nas áreas rurais mais afastadas (interior), foram identificados: a) disponibilização de uma casa localizada na comunidade para residência dos profissionais da equipe ESF, b) grande oferta de medicamentos e de equipamentos para atendimento da população, o que inclui a presença de um desfibrilador externo automático, c) oferta do telessaúde para educação permanente e consultas, d) disponibilização de “rabeta” (barco pequeno movido a motor) e de combustível para o deslocamento dos agentes comunitários de saúde, e) Atendimento dos casos de urgência fora do horário tradicional de funcionamento da unidade básica de saúde, f) Ampliação das equipes de ESF ribeirinha. Além disso, foi realizada a capacitação para o estreitamento do diálogo com as parteiras atuantes na região, o programa Mais Médicos foi elencado enquanto um importante mecanismo de fixação de profissionais em áreas afastadas. Foi relatada a melhoria na atuação e no processo de trabalho das equipes ESF, sendo indicada a maior resolubilidade às demandas existentes.
Conclusões/Considerações finais As estratégias identificadas contribuíram para a proximidade e a oferta de serviços de saúde e para a maior adesão aos programas de saúde ofertados na APS, principalmente nas áreas mais afastadas. A problemática envolvendo o acesso da população a serviços de saúde ainda está longe de ser solucionada, tendo a discussão ganhado outras camadas com as mudanças climáticas e com alteração no ciclo das águas (cheia e vazante dos rios) com impacto direto na vida da população local. A unidade básica de saúde fluvial e as equipes de saúde ribeirinhas são importantes conquistas no processo de adaptação nos modelos de cuidado envolvendo a população ribeirinha, que devem somar e serem potencializadas por estratégias já existentes, tais como as identificadas no presente estudo, para o fortalecimento da APS em áreas remotas.
Referências Fausto MCR, Lima JG, Seidl H, Gonçalves MJF, Sousa ABL, Cabral LMS, Silva LÁN, Silva WRS. Condições de Acesso e Implicações para o Cuidado na Atenção Primária à Saúde em Municípios Rurais Remotos: Norte Águas. In: Atenção primária à saúde em municípios rurais remotos no Brasil / organizado por Fausto MCR, Almeida PF, Maia A, Bousquat A, Giovanella L. – Rio de Janeiro, RJ: Editora Fiocruz, 2023. p.173-199.
Bousquat A, Fausto MCR, de Almeida PF, Lima JG, Seidl H, Sousa ABL, et al. Different remote realities: health and the use of territory in Brazilian rural municipalities. Rev Saude Publica. 2022; 56:1-11. doi:10.11606/s1518-8787.2022056003914.
Fonte(s) de financiamento: Ministério da Saúde
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