Roda de Conversa

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC2.18 - Abrindo caminho para migrantes, pessoas privadas de liberdade e outros grupos vulnerabilizados

52903 - DESAFIOS ENFRENTADOS POR MIGRANTES INTERNACIONAIS EM CUIABÁ/MT EM TEMPOS DE COVID-19: UMA ANÁLISE CRÍTICA
MONALISA ROCHA DE CAMPOS CHAVES - ISC/UFMT, CASSIA MARIA CARRACO PALOS - ISC/UFMT, MARIA ANGELA CONCEIÇÃO MARTINS - ISC/UFMT, SILVIA ANGELA GUGELMIN - ISC/UFMT, JULIANA FERNANDES KABAD - ISC/UFMT


Apresentação/Introdução
Populações em situação vulnerabilizada e invisibilizada enfrentam inúmeros desafios que dificultam o acesso à saúde, educação e à inclusão social que, com a epidemia de Covid-19, tiveram sofrimentos exaberbados. Migrantes internacionais representam um grupo afetado por diversas formas de vulnerabilidade. A migração é um fenômeno social complexo que envolve a movimentação de indivíduos e grupos para além das fronteiras nacionais. Embora possa trazer benefícios tanto para migrantes quanto para os países de destino, há inúmeros processos vulnerabilizantes imbricados a esse processo (Granada, et al, 2017).

Partindo do campo da Saúde Coletiva, que utiliza o conceito de vulnerabilidade para descrever as suscetibilidades e necessidades de grupos marginalizados e muitas vezes, de forma simplista e reducionista, apresentando limitações e desafios que se fazem necessários para uma compreensão crítica das condições de vulnerabilidades as quais esta população enfrenta e como se apresenta na sociedade (Ayres, 2009.; Goldberg, Martin e Silveira, 2015).

Esta análise exige uma abordagem ampla e reflexiva para lidar com essa questão complexa e multifacetada, assim oferecer contribuições valiosas para políticas mais inclusivas, humanisticas e resolutivas, visto que, migrantes não são sujeitos passivos, mas agentes ativos com capacidade de adaptação e resistência.


Objetivos
Buscamos explorar e analisar criticamente as diversas condições de vulnerabilidades enfrentadas por migrantes internacionais em tempos de COVID-19 a partir de entrevistas realizadas em Cuiabá/MT, o intuito é proporcionar uma compreensão das suas necessidades e suscetibilidades, além de discutir as limitações das abordagens simplistas frequentemente adotadas.

Metodologia
Os dados apresentados são provenientes das entrevistas realizadas pelo núcleo de Cuiabá (ISC/UFMT) para o projeto nacional "Acesso à saúde e vulnerabilidades de migrantes internacionais no contexto de disseminação da COVID-19: uma pesquisa interinstitucional em rede colaborativa" coordenado pela Universidade Federal de São Paulo, com o apoio da FAPESP (processo: 2021/06792-2) e do CNPQ (processo 403913/2021-7). Foram entrevistados 14 migrantes venezuelanos e haitianos representados por homens e mulheres. O método desenvolvido é de caráter qualitativo e exploratório, justificado pela necessidade de compreender suas percepções em relação as vivencias o que permite uma análise detalhada dos processos e fenômenos envolvidos no cotidiano explicitando as interrelações sociais existentes (Silveira e Córdova, 2009.; Minayo, 2012).

Para a produção de dados foi realizada uma combinação de pesquisa bibliográfica, observação de campo e entrevistas semiestruturadas em profundidade. As narrativas foram transcritas na íntegra, categorizadas em temas focando no subjetivo e na interpretação dos significados expressos permitindo, assim, uma análise coletiva a partir dos dados individuais.


Resultados e Discussão
A pesquisa revelou um panorama complexo que afeta diretamente a integração e qualidade de vida dessa população na sociedade. Desde a falta de reconhecimento das suas qualificações e experiências profissionais como um dos principais obstáculos enfrentados no mercado de trabalho até o descompasso forçado de muitos a aceitarem empregos informais e condições de trabalho inadequadas.

Do ponto de vista cultural, a questão linguística é um tema bastante relevante que leva ao isolamento social e dificuldades de integração na sociedade. Casos de preconceito discriminação étnico-racial e xenofobia se manifestam de formas distintas, como insultos, tratamento desigual e até atos de violência física, criando ambiente hostil. No que se refere aos serviços de saúde, as dificuldades enfrentadas se devem a falta de compreensão e de acolhimento por parte dos profissionais que resultam em cuidados inadequados, mal-entendidos, atrasos de diagnósticos e, em última análise, piores resultados de saúde.

A questão da habitação aparece como uma preocupação premente. As dificuldades para encontrar e manter moradias adequadas e acessíveis levam muitos á situações de superlotação e condições precárias. Outra questão diz respeito à demora na regularização que se deve aos processos burocráticos lentos e complexos dificultando a obtenção dos documentos necessários para a legalização da permanência no país. Finalmente, ausência de políticas públicas eficazes, agrava a vulnerabilidade. Sem programas de acolhimento e integração, tendem a enfrentar dificuldades adicionais para estabelecer uma vida estável e segura, perpetuando o ciclo de exclusão e vulnerabilidade.


Conclusões/Considerações finais
Identificou a necessidade de compreensão crítica do conceito de vulnerabilidade, frequentemente aplicado de forma simplista e reducionista à população migrante o que exige da Saúde Coletiva uma abordagem que considere campos de conhecimento distintos e situada capaz de analisar além dos determinantes biológicos incorporando fatores sociocomportamentais e ambientais que influenciam a saúde.

Sugerimos como medidas a criação de programas de qualificações profissionais, iniciativas de aprendizado de línguas e suporte cultural para reduzir barreiras de comunicação e integração e que promovam campanhas de sensibilização para combater a discriminação étnico-racial reconhecendo a complexidade e multidimensionalidade da vulnerabilidade.

Assim, não só contribuirá para o avanço teórico-metodológico na Saúde Coletiva, mas também oferecer subsídios práticos para o enfrentamento das iniquidades em saúde e inclusão social para o desenvolvimento de uma sociedade justa e humanizada.



Referências
AYRES, J. R de C. M. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: Novas perspectivas e desafios. In: Promoção da saúde: Conceitos, reflexões, tendências. 117-139, (2003). CZERESNIA, D.; FREITAS, CM. SciELO - Editora FIOCRUZ, 1 de jan. de 2009 - 176 páginas

GOLDBERG, A.; MARTIN, D.; SILVEIRA, C. Por um campo específico de estudos sobre processos migratórios e de saúde na Saúde Coletiva. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, v. 19, n. 53, p. 229–232, jun. 2015.

GRANADA, D. et al. Discutir saúde e imigração no contexto atual de intensa mobilidade humana. Interface (Botucatu) [online], v. 21, n. 61, p. 285-296, 2017.
MINAYO, M. C. DE S. Análise qualitativa: teoria, passos e fidedignidade. Ciência & Saúde Coletiva, v. 17, n. 3, p. 621–626, 1 mar. 2012.

SILVEIRA, D. T., & CÓRDOVA, F. P. A pesquisa científica. Métodos de pesquisa. Porto Alegre: Editora: UFRGS 2009.

Fonte(s) de financiamento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)


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