06/11/2024 - 08:30 - 10:00 RC2.18 - Abrindo caminho para migrantes, pessoas privadas de liberdade e outros grupos vulnerabilizados |
52062 - SAÚDE, PERCURSOS E PERCALÇOS: OS ESTUDANTES INTERNACIONAIS NO BRASIL DURANTE A NA PANDEMIA DE COVID-19, UM ESTUDO NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FERNANDA MARIA RAIMUNDO VALENÇA BRAGA DE DEUS E MELLO - FSP - USP, MARCO AKERMAN - FSP - USP, VERONICA QUISPE YUJRA - FACULDADE SANTA MARCELINA
Apresentação/Introdução Com a pandemia de COVID-19, países ao redor do mundo fecharam suas fronteiras, impactando negativamente a migração em escala global (Kluge et al., 2020). Mesmo para aqueles que já haviam migrado no início da pandemia, as restrições impostas são geralmente mais severas para os migrantes, em meio às dificuldades econômicas comuns a essa população, como perda de renda, diminuição de oportunidades de emprego e falta de reservas financeiras. Embora a Lei de Migração – Lei nº 13.445 (Brasil, 2017) garanta acesso a serviços públicos de saúde, assistência social e previdência social sem discriminação de nacionalidade ou condição migratória, incluindo o auxílio emergencial conforme a Lei n. 13.982/2020 (Brasil, 2020), o acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS) por parte da comunidade migrante torna-se desafiador diante de barreiras como desconhecimento da legislação brasileira específica, dificuldades linguísticas, diferenças socioculturais, adesão limitada a tratamentos, acesso restrito aos serviços de saúde e falta de histórico médico (Waldman, 2011; Aguiar et al., 2015).
Este trabalho visa dar voz aos estudantes internacionais no Brasil durante a pandemia, explorando suas dificuldades com a saúde, narrativas de adoecimento por COVID-19, acesso ao sistema de saúde brasileiro e acesso às informações de saúde durante a pandemia.
Objetivos Objetivo Geral: Compreender os desafios dos estudantes internacionais no acesso à saúde no Brasil durante a pandemia, usando uma abordagem qualitativa.
Objetivos Específicos: Investigar as dificuldades enfrentadas pelos estudantes internacionais na saúde durante a pandemia de COVID-19; Avaliar as experiências dos estudantes internacionais com o sistema de saúde brasileiro; Elencar as fontes de informação sobre saúde utilizadas pelos estudantes internacionais.
Metodologia Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 19 estudantes internacionais da Universidade Federal do Ceará (UFC) que estiveram no Brasil durante os dois primeiros anos da pandemia. Sendo, 9 mulheres e 10 homens - de diversas nacionalidades (Irã, Guiné Bissau, México, Equador, Venezuela, Paquistão, Argentina, Haiti, Moçambique), áreas e cursos da Universidade Federal do Ceará, dos quais apenas dois estudantes de graduação e os demais de pós-graduação. Essa abordagem permitiu a caracterização desses indivíduos, considerando as circunstâncias específicas da sua condição como estudantes estrangeiros na UFC durante esse desafiador contexto.
As entrevistas semiestruturadas foram conduzidas com base em um conjunto de eixos temáticos previamente definidos, dos quais o ponto de “Saúde dos estudantes na pandemia” será analisado no presente trabalho. As entrevistas foram analisadas usando o método de análise de conteúdo de Bardin (1977).
Resultados e Discussão Durante a pandemia, os estudantes internacionais enfrentaram o medo de adoecer sozinhos em um país estrangeiro, agravado pela ausência de uma rede de apoio e dificuldades em estabelecer novas relações. Esse isolamento foi intensificado pela necessidade de evitar a contaminação, levando a crises de ansiedade e sintomas depressivos. Alguns buscaram terapia e medicamentos para lidar com esses sintomas. Entre os entrevistados, nove contraíram COVID-19 e cinco relataram sintomas sem conseguir testar, destacando a limitação de testagem como uma queixa comum.
As experiências com o Sistema Único de Saúde (SUS) variaram amplamente entre os estudantes. Alguns relataram atendimento eficaz, enquanto outros enfrentaram longas esperas e dificuldades no acesso a exames e especialistas. A burocracia e a falta de comunicação foram problemas comuns, agravados pela barreira linguística. No entanto, houve elogios à atitude amigável e ao suporte de alguns médicos, bem como à oferta de medicamentos gratuitos. Nenhum dos entrevistados relatou preconceito ou xenofobia, embora alguns se sentissem impotentes para questionar devido ao status de estrangeiros. Para evitar a transmissão, adotaram medidas rigorosas de isolamento, evitando espaços públicos e mantendo comunicação constante com suas famílias em seu país.
Os estudantes buscaram informações de saúde de diversas fontes, incluindo, principalmente, redes sociais, além de sites oficiais e comunicação com amigos e familiares. Muitos compararam informações entre o Brasil e seus países de origem, destacando diferenças nas políticas de saúde. A preocupação com fake news foi significativa, levando-os a verificar a veracidade das informações. Houve também uma ênfase na adesão às medidas de saúde e nas diferenças regionais nas respostas à pandemia.
Conclusões/Considerações finais A pandemia expôs os desafios enfrentados pelos estudantes internacionais, destacando a fragilidade de suas redes de apoio e dificuldades na adaptação a um novo sistema de saúde. O isolamento social teve grande impacto na saúde mental, tornando o apoio emocional e psicológico fundamental. As entrevistas ilustram a complexidade das experiências relacionadas à COVID-19, destacando a importância do acesso a serviços de saúde adequados, comunicação eficaz e apoio durante a pandemia e em processos de adoecimento.
Apesar dessas dificuldades, os estudantes mostraram resiliência ao adotar medidas rigorosas de isolamento e ao buscar informações de saúde de maneira crítica e cuidadosa. A comparação entre as políticas de saúde do Brasil e de seus países de origem reforça a necessidade de melhorar a comunicação e o acesso a informações precisas. Em suma, a pandemia evidenciou a importância de um suporte adequado para garantir a saúde e o bem-estar dos estudantes internacionais em tempos de crise.
Referências AGUIAR, B. S.; NEVES, H.; LIRA, M. T. A. M. Alguns aspectos da saúde de imigrantes e refugiados recentes no município de São Paulo, São Paulo: Secretaria Municipal de Saúde, 2015.
BRASIL. Lei nº 13.445, de 24 de maio de 2017. Estabelece a Lei de Migração. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 maio 2017.
BRASIL. Lei no 13.982, de 2 de abril de 2020. Dispõe sobre as medidas de enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus (covid-19). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 3 abr. 2020. Seção 1, p. 1. 2020.
KLUGE, Hans Henri P. et al. Refugee and migrant health in the COVID-19 response. The Lancet, v. 395, n. 10232, p. 1237-1239, 2020.
WALDMAN, T. C. Movimentos migratórios sob a perspectiva do direito à saúde: imigrantes bolivianas em São Paulo. Revista de Direito Sanitário, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 90-114, 2011.
Fonte(s) de financiamento: O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.
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