Roda de Conversa

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC2.17 - Juventude nas margens da sociedade

51960 - RELAÇÃO ENTRE JOVENS GAYS, LÉSBICAS E BISSEXUAIS E SUAS FAMÍLIAS NUCLEARES: UMA ANÁLISE A PARTIR DO RECONHECIMENTO COMO MINORIA SEXUAL
FLÁVIO MURILO REGINATO - UNESP, ELEN ROSE LODEIRO CASTANHEIRA - UNESP


Apresentação/Introdução
Jovens gays, lésbicas e bissexuais enfrentam complexos processos de compreensão de sua orientação sexual e aceitação pessoal, familiar e social. A depender de como essas experiências se desenvolvem podem gerar vivências positivas ou negativas que interferem diretamente na saúde dessas pessoas, uma vez que podem desencadear quadros agudos e crônicos de sofrimento associado (1). Pautado nesse pressuposto, este trabalho faz uma análise a partir da visão de jovens gays, lésbicas e bissexuais do desenvolvimento e manutenção de suas relações intrafamiliares em um contexto de auto-descoberta da sexualidade.

Objetivos
Compreender a perspectiva de jovens gays, lésbicas e bissexuais a respeito do papel de suas famílias nucleares durante seu processo de construção da identidade sexual.

Metodologia
Trata-se de um estudo qualitativo realizado por meio de entrevistas semiestruturadas com jovens auto identificados como lésbicas, gays ou bissexuais na faixa etária de 18 a 26 anos, de cidade do interior paulista. O roteiro de entrevistas aborda a relação com a autodescoberta e exploração da sexualidade e das interfaces e desdobramentos da dinâmica familiar nuclear neste processo.
Para encontrar contatos conforme os critérios da pesquisa, foi feita busca ativa entre os usuários do Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) e em cursinhos populares da cidade. A partir dos primeiros entrevistados a quantia de voluntários para entrevistas foi ampliada pela técnica da “bola de neve” (2).
Foram realizadas 11 entrevistas, 6 com homens gays e 2 com mulheres lésbicas e 3 com mulheres bissexuais, sendo que os homens gays são identificados pela letra G seguidos de números 1 a 6, as mulheres lésbicas por L1 e L2 e as mulheres bissexuais pela letra B seguida dos números de 1 a 3. As entrevistas foram gravadas e transcritas, e após esse processo foi feita análise de conteúdo do material, segundo Minayo (3).

Resultados e Discussão
Na análise dos dados, foram estabelecidas as 6 categorias listadas a seguir: “Identificação”, “Compensação”, “Omissão”, “Letramento”, “Reconstrução” e “Pertencimento”.

Identificação. Abrange a compreensão de como ocorre a descoberta da sexualidade, um estranhamento inicial com a não identificação com o padrão heteronormativo e descoberta de outras possibilidades.

Compensação. A orientação sexual diferente da heterossexual é vista como negativa por eles mesmos antes do entendimento da sua própria sexualidade e tendem a internalizar que são motivo de sofrimento para sua família nuclear, o que promove um movimento compensatório do suposto sofrimento que estão causando.

Omissão. Há um período em que escondem da família sua sexualidade e os familiares omitem que estão desconfiando de algo.

Letramento. Em ambientes com comportamentos homofóbicos da família nuclear há tentativas de educar os familiares sobre o respeito à população LGBT, visto que tais comportamentos os colocam como alvo.

Reconstrução. O desenvolvimento da relação familiar após a revelação da orientação sexual para algum familiar ganha novos significados, para melhor ou pior, acarretando uma relação mais acolhedora ou mais distanciada.

Pertencimento. O acolhimento pelas famílias nucleares e o sentimento de pertencimento se mostrou um apoio para aqueles que tiveram acolhimento na expressão de sua sexualidade. De modo contrário, aqueles que não foram aceitos, enfrentaram complexos desafios uma vez que a família nuclear constituiu uma fonte de sofrimento.

Conclusões/Considerações finais
Os resultados do trabalho demonstram importantes desafios que jovens gays, lésbicas e bissexuais enfrentam na dinâmica social da família nuclear, seja para se reconhecerem como minorias sexuais, aceitarem sua sexualidade, construírem uma relação saudável com a família e conseguir fazer a manutenção do bem-estar mental mesmo em contextos familiares conflituosos. Dessa forma, se faz necessário que o serviço de saúde esteja apto a identificar jovens a partir do momento em que eles se reconhecem como minoria sexual para que o serviço constitua parte de uma rede de apoio no enfrentamento de tais desafios, que podem estar sendo causados pela maneira como dinâmica da família nuclear está estabelecida. As categorias levantadas na pesquisa podem servir de apoio para os profissionais de saúde na compreensão das experiências da população gay, lésbica e bissexual e na construção de mecanismos de acolhimento e de ampliação da rede de apoio.

Referências
1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Política nacional de saúde integral de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. Brasília: Ministério da Saúde; 2013.
2. Vinuto J. A amostragem em bola de neve na pesquisa qualitativa: um debate em aberto. Temáticas. 2014;22(44):203–20.
3. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 14 ed. São Paulo:HUCITEC, 2014. 407 p.

Fonte(s) de financiamento: FAPESP


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