Roda de Conversa

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC2.17 - Juventude nas margens da sociedade

51706 - ANÁLISE DA GESTÃO ESCOLAR E CUIDADO COM ALUNOS DISSIDENTES EM GÊNERO E SEXUALIDADE A PARTIR DO PIBIC-EM
LEONARDO FERREIRA DE MELO FARAH MONTENEGRO - UFC, LUCIANA LOBO MIRANDA - UFC, IGOR DE LIMA TEIXEIRA - UFC, ANTÔNIO MARLON COUTINHO BARROS - UFC, ANA JÚLIA FELÍCIA DE SOUZA REIS - UFC, MARIA BEATRIZ GONÇALVES LEITE - UFC, DOMINGOS SÁVIO ALVES MESQUITA - EEM ADAUTO BEZERRA, MARIA LETICIA MARINHO DE ALMEIDA - EEM ADAUTO BEZERRA


Apresentação/Introdução
Diante de uma binariedade imposta nas relações sociais hodiernas e de uma normatização ideológica e comportamental, a dissidência, especialmente em gênero e em sexualidade, ainda é excluída e menosprezada pela sociedade civil e pelos gestores institucionais.
Sendo um local de produção de subjetividades, a escola nem sempre se apresenta com um papel combativo no que tange à desvencilhar uma normatização social, visto que, nela, ocorre a manutenção de relações de poder sociais hierarquizantes de dominação (Patto, 1994).
Nesse sentido, torna-se fundamental analisar como essas relações estão se dando dentro de uma escola, se há, de fato, se há a reprodução de padrões e de estereótipos que norteiam a sociedade civil como um todo, ou se é possível encontrar desvinculação às expectativas sociais dentro do ambiente escolar.
Com tensionamentos entre normatizações e resistências, torna-se relevante analisar como a gestão escolar tem cuidado da demanda referente ao gênero e à sexualidade dos estudantes e como isso atravessa o cuidado e a saúde mental, uma vez que esses temas não costumam ser tratados, devido à construção de um percurso heterossexista (Silva e Menezes, 2021), dentro das escolas, por uma ótica social, mas sim sob um viés biologizante e segregacionista.


Objetivos
O objetivo do presente trabalho é analisar como a gestão lida com a dissidência sexual e de gênero, tendo como base os diários de campo de uma pesquisa realizada em uma escola pública de Ensino Médio de Fortaleza.


Metodologia
Adotamos a Pesquisa-Intervenção (PI), uma vez que buscamos horizontalizar o pesquisar. Reconhecemos o pesquisador como um sujeito que intervém sobre a realidade pesquisada, na qual todos podemos ser co-autores. Assim, buscando um pesquisar que preze pela equidade entre os agentes, nos utilizamos do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - Ensino Médio (PIBIC-EM), com dois alunos de uma escola pública de Ensino Médio da cidade de Fortaleza para, junto a pesquisadores da graduação e da pós-graduação, pesquisarCOM a escola. Nesse sentido, todos os sujeitos podem atuar de maneira direta nos seus espaços, buscando modificar uma determinada realidade.
O diário de campo foi uma das ferramentas adotadas com os estudantes PIBIC-EM, visto que ele é um ator de pesquisa e é utilizado visando potencializá-la (Medrado; Spink; Méllo, 2014).
Diante disso, buscaremos, aqui, analisar os diários de campo da pesquisa, buscando entender: a) como a gestão lida com a dissidência sexual e de gênero. b) como jovens dissidentes buscam maneiras de resistir e de expressar seus gêneros e sexualidades dentro do espaço escolar.


Resultados e Discussão
Microviolências relacionadas a gênero e sexualidade ocorrem de maneira muitas vezes imperceptível à gestão no ambiente escolar. A partir daí, cabe uma análise referente à maneira na qual a gestão lida e enfrenta esse tipo de situação e como isso pode ser usado para a garantia de uma saúde mental aos estudantes dissidentes.
Foi relatado nos diários de campo algumas situações de LGBTFobia dentro da escola e de como essas agressões, em sua maior parte verbais, acarretam um prejuízo ao bem-estar de cada sujeito.
Ademais, a questão do cuidado com o outro e da garantia de espaços de fala às pessoas LGBT+, como grupos de debate que promovam um elo entre os alunos é de extrema necessidade e de interesse dos alunos dissidentes, visto que incita as maneiras de (re)existir.. A pauta referente à inclusão de banheiros para pessoas que fogem dos padrões de binariedade também foi levantada pelos alunos, fazendo-se de extrema relevância à saúde mental de jovens dissidentes e que já se coloca como política pública aprovada pelo Senado Federal (BRASÍLIA, 2023).
Os próprios alunos acabam por buscar modos de resistir às microviolências que lhes são atravessadas. O debate nem sempre é estimulado pela gestão escolar, sendo muitas vezes reprimido. Grupos de estudos, rodas de conversas, palestras e dinâmicas que fomentem um pensamento crítico referente à temática são comumente negligenciados pela gestão e são promovidos, em algumas circunstâncias, pelos próprios alunos como forma de resistir não só à repressão escolar, mas também social como um todo.


Conclusões/Considerações finais
Quando falamos de gestão do cuidado e da saúde, não podemos deixar de lado as microviolências que atravessam cada sujeito no seu cotidiano, sendo de suma importância analisarmos às condições de saúde mental que as populações invisibilizadas e minoritárias apresentam e como mazelas na saúde é desencadeada a partir de imposições sociais. A escola é um ambiente que atravessa a maioria dos sujeitos e é de extrema relevância para o processo de formação de uma subjetividade.
Atividades que dialoguem sobre direitos humanos e gestão de saúde mental deveriam ser estimuladas dentro dos ambientes escolares como forma de expor e buscar soluções para a realidade enfrentada pela comunidade LGBT+, sendo necessária uma posição da gestão escolar de modo a prezar pela qualidade de cada indivíduo, mediando rodas de conversas que visem a debater sobre temas como gênero e sexualidade que nem sempre são analisados dentro de um viés atravessado pelo cuidado e pela saúde mental dentro das escolas.


Referências
Aguiar, K. F. D., & Rocha, M. L. D. (2007). Micropolítica e o exercício da pesquisa-intervenção: referenciais e dispositivos em análise. Psicologia: ciência e profissão, 27, 648-663.

MEDRADO, Benedito; SPINK, Mary Jane Paris; MÉLLO, Ricardo Pimentel. Diários como atuantes em nossas pesquisas: narrativas ficcionais implicadas. In: Spink, Mary Jane Paris.; Brigagão, Jacqueline Isaac Machado; Nascimento Vanda Lúcia Vitoriano do; Cordeiro, Mariana Prioli (Orgs.). A produção de informação na pesquisa social: compartilhando ferramentas. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2014. p. 274-294.

PATTO, Maria Helena Souza. Psicologia e ideologia: uma introdução crítica à psicologia escolar. Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, 2022.


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