50039 - AUTOCONHECIMENTO NA CONSTRUÇÃO DE RELAÇÕES POSITIVAS ENTRE ADOLESCENTES EM ACOLHIMENTO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA JOÃO VICTOR MAGALHÃES DE SOUSA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC, TÁSCIA LIRIEL BEZERRA ALVES - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC, JÚLIA FERNANDES VIEIRA DA SILVA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC, PATRÍCIA NEYVA DA COSTA PINHEIRO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC, MIKAELLE YSIS DA SILVA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC, KIRLEY KETHELLEN BATISTA MESQUITA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC, MARIA MARYLANNE BRAGA RODRIGUES - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC, TICIANE FREIRE GOMES - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC, VICTOR ANDREW DA SILVA TEIXEIRA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC, KARINE KIMBERLLY ROCHA DA FONSÊCA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC
Contextualização Na adolescência, as mudanças físicas, psicológicas e sociais podem influenciar o bem-estar dos adolescentes, desencadeando, muitas vezes, diversos comportamentos que podem prejudicar tanto a si quanto aos outros¹. Sabe-se que os adolescentes em situação de acolhimento enfrentam essa fase com muitos desafios, visto que, somadas às dificuldades inerentes ao desenvolvimento, estão expostos a diversas vulnerabilidades, que podem contribuir para o sofrimento psíquico².
Diante desse contexto, o autoconhecimento pode ser uma ferramenta de promoção da saúde para o adolescente em situação de acolhimento, pois favorece o aumento de recursos e habilidades individuais que podem promover a saúde psicológica. Desse modo, o conhecimento das qualidades, potencialidades, fraquezas, desejos e sonhos é importante nessa fase, pois possibilita a construção de um adulto que se identifica consigo e tem ciência de suas escolhas e projetos³.
Estudos na área da psicologia positiva e intervenções baseadas em atenção plena, que promovem o autoconhecimento, têm evidenciado que essas práticas podem levar a uma série de resultados positivos, como aumento da esperança, otimismo e comportamentos pró-sociais, todos contribuindo para relações interpessoais mais positivas e satisfatórias⁴.
Descrição da Experiência A atividade foi promovida por alunos do Grupo de Pesquisa em Promoção da Saúde da Criança e do Adolescente, vinculado ao curso de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará, em fevereiro e março de 2024, em quatro acolhimentos para adolescentes em Fortaleza, envolvendo, em média, seis jovens em cada acolhimento na faixa etária de 12 a 18 anos.
Utilizando os pressupostos teóricos de Paulo Freire, como a educação dialógica e respeito à cultura do participante, conforme descrito em sua obra "Pedagogia do Oprimido"⁵, a atividade consistiu em convidar os adolescentes a participarem da interação em círculo, começando com uma breve apresentação. Logo após, cada participante lançava um dado gigante e, conforme o número sorteado, compartilhava fatos curiosos sobre si, como sonhos, vivências do cotidiano ou preferências no geral. A cada resposta, iniciava-se uma conversa mediada pelos alunos, a fim de propiciar a participação ativa e identificação entre os participantes.
Depois, eles mencionaram um personagem com o qual se identificavam. A seguir, eram estimulados a compartilhar o motivo de sua escolha e quais características os aproximavam dele. Dessa maneira, o objetivo era entender como eles se veem e quais características são aquelas com as quais se identificam.
Ao final, os adolescentes foram incentivados a realizar o feedback sobre a atividade, a fim de propor reflexão sobre a experiência.
Objetivo e período de Realização Relatar a experiência vivenciada por discentes de enfermagem na execução de uma atividade educativa junto a adolescentes em situação de acolhimento institucional.
Resultados Diante do convite feito pelos mediadores, alguns adolescentes foram resistentes e não aceitaram participar da atividade, o que causou um sentimento de receio e preocupação, pois os adolescentes são influenciados por seus pares, o que poderia gerar uma ação sem êxito. Mesmo aqueles que decidiram interagir, a princípio, apresentaram-se tímidos e retraídos. Isso demandou da equipe a utilização de estímulos positivos que facilitassem a interação, como uma linguagem informal e carismática, conquistando o interesse do público-alvo.
Os adolescentes, devido à acentuada vulnerabilidade e aos diversos motivos que os levaram ao acolhimento, enfrentam dificuldades quanto ao autoconhecimento e não sabem lidar com as emoções, tornando desafiadora a interação com o grupo. Entretanto, o respeito à cultura do participante, conforme preconizado por Paulo Freire⁵, contribuiu para criar um ambiente propício ao compartilhamento livre e simples de suas experiências.
Os adolescentes destacaram a interação com seus colegas como um aspecto positivo da atividade, especialmente devido à inclusão do dado gigante, um elemento divertido e descontraído que estimulou a reflexão entre os participantes.
Aprendizado e Análise Crítica As atividades desenvolvidas em acolhimento exigem dos discentes da graduação e pós-graduação um planejamento que contribua para minimização das iniquidades em saúde. Uma preocupação do grupo era desenvolver uma atividade que possibilitasse a participação ativa dos adolescentes e a criação de um espaço de reflexão que, consequentemente, promovesse a saúde. Diante disso, a criatividade demonstrou-se uma ferramenta de grande importância, culminando na criação do dado gigante e no uso de personagens que pertencem ao universo dos participantes.
O contexto de acolhimento é repleto de vulnerabilidades às quais os adolescentes estão expostos. Isso pode mudar as perspectivas e experimentações sociais, afetando, assim, o seu eu interior. Nesse contexto, é crucial que os agentes sociais responsáveis por estes jovens adotem abordagens multidisciplinares e de carácter holístico na formulação de estratégias que promovam a compreensão da realidade, visando a construção de um eu interior orientado para um futuro mais promissor⁶.
Por fim, ressalta-se a importância de ampliar o acesso desse público às atividades coletivas, de cunho educativo e lúdico, voltadas à promoção do autoconhecimento, visto que assim há o contato com estratégias diversificadas para ir ao seu encontro em seu espaço mais íntimo, oportunizando a ampliação do vínculo entre os jovens.
Referências 1.van der Cruijsen, R., Blankenstein, N. E., Spaans, J. P., Peters, S., & Crone, E. A. (2023). Longitudinal self-concept development in adolescence. Social Cognitive and Affective Neuroscience, 18(1).
2. Souza, L. B. de, Panúncio-Pinto, M. P., & Fiorati, R. C. (2019). Crianças e adolescentes em vulnerabilidade social: bem-estar, saúde mental e participação em educação. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional.
3. Ruiz, W. D. G., & Yabut, H. J. (2024). Autonomy and identity: the role of two developmental tasks on adolescent's wellbeing. Frontiers in psychology,.
4. Allen, J. G., Romate, J., & Rajkumar, E. (2021). Mindfulness-based positive psychology interventions: a systematic review. BMC psychology.
5. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 42. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. 213 p. ISBN 8521900058.
6. Fonseca, Patrícia Nunes da. (2017). O impacto do acolhimento institucional na vida de adolescentes. Revista Psicopedagogia.
Fonte(s) de financiamento: O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001
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