06/11/2024 - 08:30 - 10:00 RC2.17 - Juventude nas margens da sociedade |
50006 - INVESTIGAÇÃO DE ÓBITOS POR AIDS EM JOVENS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (ERJ) EM 2022 MARCELLA MARTINS ALVES TEOFILO - SES/RJ, JULIANA REBELLO GOMES - SES/RJ, DENISE RIBEIRO FRANQUEIRA PIRES - SES/RJ, LÚCIA MARIA XAVIER DE CASTRO - SES/RJ, AMANDA DANTAS BRANDÃO - SES/RJ, RAFAEL VIEIRA BRAGA DA SILVA - UFF, JADIR FAGUNDES NETO - SES/RJ
Contextualização A taxa de mortalidade por aids por 100.000 habitantes no ERJ diminuiu (10,6 em 2011 e 7,8 em 2021) em decorrência da recomendação do “tratamento para todos” e da ampliação do diagnóstico precoce. Entretanto, o ERJ ainda tem a quarta maior taxa do país. A tuberculose (TB) é a principal causa de morte entre os óbitos por Aids. O ERJ possui a segunda maior incidência de tuberculose do país. A chance de uma pessoa vivendo com HIV (PVHA) ter tuberculose é de 16 a 27 vezes maior comparada a uma pessoa sem o HIV (BRASIL, 2019). Essa chance aumenta se estiverem presentes vulnerabilidades como viver em situação de rua, enfrentar fome e fazer uso de drogas (BRASIL, 2023). O Brasil compõe a lista global de países com alta carga de TB e da coinfecção TB-HIV. De acordo com o relatório da UNAIDS 2021, os temas centrais da agenda global da TB-HIV são a redução das iniquidades e o fortalecimento dos serviços de saúde. Essas duas ações ampliam o acesso ao cuidado e diminui as lacunas da detecção destes agravos. Esforços que vêm sendo dedicados no SUS na tentativa de difundir a importância do tratamento para Infecção Latente da Tuberculose (ILTB), uma vez que pode reduzir em até 90% o risco de TB ativa. Reitera-se ainda a importância de municiar as ONGs sobre a importância deste tratamento, de modo que possam colaborar com a disseminação de que o tratamento da ILTB é um direito das PVHA.
Descrição da Experiência Em 2022 ocorreram óbitos por aids em jovens de 13 a 21 anos em 10 municípios do ERJ. Os casos foram selecionados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) (CID B20 a B24) e em seguida pesquisadas mais informações dos pacientes nas demais bases de dados relacionadas ao HIV: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), Sistema de Controle de Exames Laboratoriais (SISCEL) e Sistema de Controle Logístico de Medicamentos (SICLOM). No mês de março de 2023, um formulário de investigação (BRASIL, 2014) para cada caso foi enviado ao respectivo município de residência para que as equipes municipais dos Programas de IST/aids pudessem buscar as informações pertinentes ao detalhamento do caso, de modo a identificar a trajetória clínico-assistencial do paciente. O objetivo desse processo de investigação é identificar os determinantes do adoecimento e mortalidade por aids, visando reduzir a mortalidade evitável em pessoas vivendo com o HIV. Foi realizado um encontro com estes municípios para explicar o processo de trabalho em 27/04/2023 no prédio da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro. Após o recebimento dos formulários preenchidos, foi realizada a análise dos mesmos e agendados encontros presenciais com os municípios/regiões para debate, apresentação dos resultados e reflexões sobre os pontos onde podem haver melhorias.
Objetivo e período de Realização Descrever os casos de óbito por aids em jovens de 13 a 21 anos ocorridos em 2022 e apresentar os casos com coinfecção e descrever os resultados do processo de investigação dos casos junto aos municípios.
Resultados Em 2022 ocorreram no ERJ 17 óbitos por aids em jovens de 13 a 21 anos sendo 53% homens e 76,5% pretos. Ninguém possuía ensino superior e 53% apresentavam apenas o fundamental. 24% apresentavam menção de tuberculose entre as causas de óbito na Declaração de Óbito, o que caracteriza presença de tuberculose ativa nestes jovens que viviam com o HIV. 29,4% não foram notificados para AIDS no SINAN. 82% dos casos eram residentes das regiões metropolitanas 1 e 2. Em 6 casos não houve coleta de carga viral e CD4 e em 7 não houve dispensa de TARV. Dos 14 formulários respondidos, 12 foram considerados evitáveis, sendo 9 por diagnóstico tardio. Seis destes 14 óbitos (43%) apresentavam tuberculose ativa no momento do óbito.
Aprendizado e Análise Crítica Como é possível observar nos resultados apresentados, a maioria dos óbitos por aids em jovens são considerados evitáveis e tem relação com diagnóstico tardio, interrupção de tratamento e presença de TB ativa. Ressalta-se número expressivo de jovens pretos, reforçando o impacto do racismo estrutural e institucional. Pessoas negras estão entre as pessoas com menor escolaridade, menor renda, enfrentam mais situações de violência e se deparam com mais barreiras para acessar os serviços de saúde (GRANCHI, 2022). Ações intersetoriais direcionadas à redução das desigualdades sociais e raciais são extremamente necessárias, uma vez que a epidemia do HIV aumenta em pessoas negras, bem como a mortalidade por aids, que em grande maioria vem acompanhada da TB ativa. O processo de investigação dos óbitos reforçou para a gestão estadual a necessidade de visitas in loco no em determinados municípios onde verifica-se problemas mais graves. Sugere-se também que estes dados sejam apresentados para outros setores da Secretaria de Estado e nas reuniões da Comissão Intergestores Bipartite com o intuito de provocar reflexões sobre novas estratégias para mitigar estes óbitos evitáveis.
Referências BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias e Inovação em Saúde. Coordenação-Geral de Gestão de Tecnologias na Saúde. Coordenação de Monitoramento e Avaliação de Tecnologias em Saúde. Dolutegravir para o tratamento de pacientes coinfectados com HIV e tuberculose – Brasília: Ministério da Saúde, 2019.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Boletim Epidemiológico de coinfecção TB-HIV 2022. Número especial – Brasília: Ministério da Saúde, fev. 2023.
GRANCHI, Giulia. O que torna a população negra mais vulnerável ao HIV e a morrer por complicações da Aids. BBC News Brasil. São Paulo, 3 de julho de 2022. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-61960207.
Fonte(s) de financiamento: não há
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