49930 - PERSPECTIVA DE EDUCADORES DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM DISFORIA DE GÊNERO EM FASE ESCOLAR: SAÚDE COMO DIREITO À CIDADANIA DE POPULAÇÕES VULNERÁVEIS AUGUSTO KRINDGES - UFFS, EMANUELY SCRAMIM - UFFS, JANE KELLY OLIVEIRA FRIESTINO - UFFS, VALÉRIA SILVANA FAGANELLO MADUREIRA - UFFS, JEFERSON SANTOS ARAUJO - UFFS
Apresentação/Introdução A Disforia de Gênero (DG) é um diagnóstico reconhecido pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), caracterizado pelo desconforto ou sofrimento significativo decorrente da incongruência entre o gênero atribuído ao nascimento e o vivenciado pelo indivíduo (American Psychiatric Association, 2022). Essa condição, presente em diversas fases da vida, possui maior prevalência em crianças e adolescentes, sendo que segundo a sua Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP, 2020) a prevalência em crianças varia de 1:11.900 a 1:45.000 para meninos que se identificam como meninas e de 1:30.400 a 1:200.000 para meninas que se identificam como meninos. Ainda, conforme a DSM-5 (2013), a proporção entre meninos e meninas na infância é de 2:1 a 4,5:1. Na adolescência, essa proporção varia de 1:1 a 6,1:1, próximo da paridade. Do mesmo modo, durante a idade escolar, esse público infantojuvenil enfrenta inúmeros desafios adicionais relacionados à sua identidade de gênero, como preconceito, bullying, isolamento social e violências diversas (SBP, 2020). Nesse viés, os educadores são fundamentais nesse processo, pois podem criar um ambiente acolhedor e inclusivo, promovendo o Direito à cidadania e a saúde mental dessa população. Justifica-se a realização desse estudo devido a escassez de pesquisas, somado ao aumento da incidência de DG em idade escolar nos últimos anos.
Objetivos Interpretar as percepções dos educadores sobre os sentimentos disfóricos relacionados ao gênero em crianças e adolescentes em fase escolar.
Metodologia A pesquisa é um recorte de um Trabalho de Conclusão de Curso de Enfermagem, trata-se de um estudo interpretativo de abordagem qualitativa fundamentada na percepção dos educadores frente a disforia de gênero. A coleta de dados ocorreu entre Junho de 2022 a Janeiro de 2023, contou com a participação de 10 educadores de oito Centros Educacionais da formação básica, situados em uma cidade do interior do Estado de Santa Catarina, Brasil. Para o recrutamento dos participantes foi utilizado a técnica Snowball (bola de neve) (NADERIFAR et al., 2017), a amostragem foi por conveniência, não probabilística. As entrevistas duraram em média 30 minutos, ocorreram de forma presencial, todos os participantes optaram que fossem nos próprios centros de ensino por ser mais confortável. Foi utilizado um roteiro semiestruturado de pesquisa e realizado notas de campo pelo pesquisador. Para a análise, as entrevistas foram transcritas e analisadas por meio da técnica indutiva (BRAUN; CLARKE, 2006). Para esta etapa, utilizou-se o software de análise de dados qualitativo MaxQDA®(Kuckartz e Rädiker, 2019). A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e o TCLE foi assinado pelos participantes.
Resultados e Discussão Os participantes relataram que conseguem perceber muito cedo esses sentimentos, e que é um desafio pois, precisam acolher de uma forma diferente, sem minimizar ou supervalorizar, tem que ser igualitário e ter uma sensibilidade no olhar.
Dainte disso, o estudo evidenciou que os educadores assumem posturas e um olhar sensibilizado com esses estudantes, em contrapartida, um outro estudo brasileiro com professores, mostrou que eles não acreditam que a transgeneridade exista na fase escolar, contribuído para a discriminação e a exclusão escolar desses estudantes (SILVA FV, et al., 2021).
Ainda os educadores narram que “além das dificuldades de se aceitar, tem o preconceito, você ser transgênero é mais uma coisa para sociedade te julgar”. Embora ainda exista uma cultura heteronormativa escolar, somado ao desconhecimento sobre a transgeneridade, as percepções precoces a acerca do processo disfórico vivenciado pelos estudantes transgênero é positivo, pois os professores desempenham um papel central e assumem a função de ouvintes atentos, acolhendo os sentimentos e desconfortos expressos pelos estudantes em relação à sua identidade de gênero, como é exemplificado “Para os que se assumem e enfrentam esse processo, eu daria um abraço bem apertado porque eles são bem corajosos!”
Contudo um estudo realizado na Noruega mostrou que indivíduos transgêneros apresentam mais problemas psicossociais, relacionados a solidão, baixa autoestima e comportamento suicida, em comparação com indivíduos cujas identidades ou expressões de gênero são congruentes com o sexo atribuído ao nascimento (ANDERSSEN N, et al., 2020).
Conclusões/Considerações finais Conclui-se que as percepções dos educadores sobre a Disforia de Gênero infantojuvenil são cruciais para criar um ambiente escolar inclusivo. Entretanto diversos estudos mostraram que, apesar de sensibilizados sobre isso, os professores enfrentam dificuldades para entender os conceitos e abordagens necessários para promover a inclusão e reduzir a discriminação entre os estudantes, persistindo um ensino heteronormativo nas escolas que dificulta a implementação dessas práticas inclusivas. Portanto, para promover o bem-estar emocional dos alunos e garantir seus direitos à saúde e cidadania, é fundamental que os professores recebam capacitações adequadas para compreender e abordar as questões de DG de maneira eficaz. Por fim, recomenda-se a realização de mais pesquisas para desenvolver estratégias que reduzam a discriminação enfrentada por crianças e adolescentes em relação à identidade de gênero.
Referências American Psychiatric Association: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5th ed. Text Revision (DSM-5-TR). Washington, DC, 2022.
Sociedade Brasileira de Pediatria. Guia prático de atualização: Incongruência/Disforia de Gênero Atualizado e revisado. 2020.
NADERIFAR, M.; GOLI, H.; GHALJAIE, F. Snowball Sampling: A Purposeful Method
of Sampling in Qualitative Research. Strides in Development of Medical Education. v. 14, n.3, 2017. DOI: 10.5812/sdme.67670.
SILVA, F.V. et al. Childhood transgenderity under the perspective of elementary school teachers. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 29, p. 1-10, 2021. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/1518-8345.3792.3459.
ANDERSSEN, N. et al. Life satisfaction and mental health among transgender students in Norway. Bmc Public Health, v. 20, n. 1, p. 1-11, 30 jan. 2020. http://dx.doi.org/10.1186/s12889-020-8228-5.
Fonte(s) de financiamento: Bolsa de Iniciação científica da UFFS por meio do edital complementar ao edital no 717/GR/UFFS/2022
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