49045 - ANÁLISE DO PERFIL DE SAÚDE DE ADOLESCENTES E JOVENS DO ENSINO MÉDIO DO MUNICÍPIO DE OURO PRETO - MINAS GERAIS - BRASIL: UM RELATO DE PESQUISA ELOISA HELENA DE LIMA - INSTITUTO RENÉ RACHOU - FIOCRUZ MINAS E ESCOLA DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO, GEORGE LUIZ LINS MACHADO-COELHO - ESCOLA DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO, ÁNGEL MARTÍNEZ-HERNÁEZ - UNIVERSITAT ROVIRA I VIRGILI, DANIELA FONSECA ABDO ROCHA - ESCOLA DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO, NATHÁLIA MARIA LADEIRA DE OLIVEIRA - ESCOLA DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO, LAURA MAGALHÃES ROCHA E SILVA - INSTITUTO RENÉ RACHOU - FIOCRUZ MINAS, BIANCA CARDOSO LOPES ( LOPES, B.C.) - ESCOLA DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO, MARINA ANDRADE BARROS - ESCOLA DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO, MARIANNA SILVA DEZEMBRO LEONELO - ESCOLA DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO, CELINA MARIA MODENA - INSTITUTO RENÉ RACHOU - FIOCRUZ MINAS
Apresentação/Introdução A adolescência é um período de muitas mudanças, influenciada por diversos fatores incluindo os aspectos sociais, de modo que as transformações vividas pelos jovens também estão associadas ao contexto no qual eles estão inseridos (BARBOSA-SILVA et al., 2021). Além disso, nessa fase, os jovens sofrem influências econômicas, de gênero e de raça/cor. Todas essas mudanças podem aumentar a exposição dos adolescentes a vulnerabilidades em saúde, entre elas, o sofrimento mental. Estudos revelam alta prevalência de sentimentos de tristeza, irritabilidade, desânimo entre os adolescentes, o que pode culminar em adoecimento psíquico (WROBLEVSKI et al, 2022).
Percebe-se que tal cenário impacta na inserção dos jovens na sociedade e em sua vida adulta. Desse modo torna-se relevante discutir o desenvolvimento de políticas públicas centradas na promoção da saúde dos adolescentes no ambiente escolar. Diante do exposto, foi realizado um estudo em quatro escolas públicas de Ouro Preto ao longo do ano de 2023 através do Pós-doutorado em Saúde Coletiva do Instituto René Rachou – Fiocruz Minas em parceria com a Universitat Rovira i Virgili – Espanha. O projeto foi aprovado pelo CEP UFOP / CAAE: 33453120.5.0000.5150 e teve como ponto de partida o diagnóstico da situação de saúde de adolescentes e jovens a partir de um estudo quantitativo transversal utilizando o Youth Risk Behavior Survey (YRBS).
Objetivos O objetivo deste estudo foi traçar um perfil acerca da saúde dos adolescentes matriculados no Ensino Médio de escolas do município de Ouro Preto (OP), Minas Gerais, por meio de dados coletados no ano de 2023 e, a partir da análise desses dados, identificar as vulnerabilidades desse grupo demográfico. Dessa forma, almejava-se embasar a formulação de políticas públicas voltadas para a promoção da saúde no ambiente escolar.
Metodologia Trata-se de estudo de delineamento do tipo misto, a partir de uma abordagem quali-quantitativa transversal. Para este relato, centraremos na análise dos dados quantitativos. Foram selecionados, por meio de uma amostragem aleatória 355 estudantes entre 13 e 18 anos, de ambos os sexos, matriculados no primeiro ou no segundo ano do Ensino Médio das quatro escolas públicas situadas na sede da cidade de Ouro Preto, Minas Gerais. Os dados foram coletados nas próprias escolas, onde os alunos responderam ao questionário Youth Risk Behavior Survey (YRBS) em tablets por meio dos softwares Kobo Toolbox e Kobo Collect.
Foram determinadas as frequências absolutas e relativas para todas as variáveis, de modo que a análise univariada foi conduzida utilizando-se o teste do qui-quadrado de Pearson, com um nível de significância estabelecido em 5%. As variáveis que apresentaram significância com p<20% foram selecionadas para compor o modelo inicial da regressão logística multivariada, utilizando o método ENTER. O modelo final foi construído com as variáveis significantes no nível de 5%, calculando-se as Odds Ratio e os Intervalos de Confiança a 95%, ajustados para as demais variáveis significantes.
Resultados e Discussão Cerca de 68% dos estudantes relataram alguma questão de saúde mental, refletindo sofrimento mental relevante entre os adolescentes de OP.
As meninas possuíam chance três vezes maior de sofrimento mental do que os meninos (OR=3,22; IC95%: 1,85-5,61). Isso pode ser associado à desigualdade de gênero histórica e busca por padrões de beleza irreais encontrados na mídia, levando à insatisfação com a própria imagem (DA SILVA et al, 2023).
Ademais, dos alunos LGBTQIA+, 93,5% tinham sofrimento mental. Esse grupo possui mais chance de adoecimento (OR=5,95; IC95: 2,39-14,83). Isso pode ser associado à insegurança que enfrentam por terem que lidar com rejeição, exclusão social, bullying, estigmatização e discriminação (FARIA et al, 2022).
Quem deseja ganhar ou perder peso possui maior chance de adoecimento mental (OR=1,91; IC95%: 1,11-3,28). Vê-se que a autopercepção corporal negativa pode ser formada por influência de fatores externos, refletindo a influência da mídia, da pressão dos familiares/colegas e do contexto social e podendo inclusive estar associada ao bullying (WROBLEVSKI et al, 2022).
Outro destaque foi a má ou péssima percepção da saúde (OR=13.24; IC95%: 1,71-102,40). Isso pode estar relacionado a visão fragmentada entre saúde física e mental, como se esta não fizesse parte do conceito de saúde. Há também relação positiva entre já ter tido relação sexual durante a adolescência e chance quase duas vezes maior de adoecimento mental (OR=2,09; IC95%:1,17-3,73; p=0,013), que pode estar vinculada a uma dificuldade de diálogo sobre sexualidade no ambiente familiar (CIRINO et al, 2024).
Por fim, o uso diário de internet (>7 horas) aparece como fator significativo (OR=2,02; IC95%: 1,01-4,05), havendo provável relação entre seu uso excessivo e problemas de saúde mental.
Conclusões/Considerações finais Verificou-se uma associação significativa entre a saúde mental e variáveis que incluem gênero/sexo, orientação sexual, percepção da saúde pessoal, imagem corporal e comportamentos como atividade sexual e uso da internet. O sofrimento mental dos adolescentes participantes destaca a urgência de mais estudos e políticas públicas voltadas para a saúde mental. Nesse sentido, a escola surge como um potencial agente de intervenção, capaz de abordar questões cruciais da adolescência, como sexualidade, saúde mental e bullying. Recomenda-se uma integração mais profunda das políticas de saúde mental nas escolas, fortalecendo-as como promotoras de saúde e ambientes propícios ao crescimento e aprendizado seguro.
Referências BARBOSA-SILVA, LH et al. Reflexões sobre os conceitos de adolescência e juventude: uma revisão integrativa. Revista Prática Docente, v. 6, n. 1, 2021.
CIRINO, MGL et al. REPERCUSSÕES DAS AÇÕES EDUCATIVAS NO PROGRAMA SAÚDE NA ESCOLA (PSE) PARA SAÚDE SEXUAL DOS ADOLESCENTES. Revista de Ciências da Saúde Nova Esperança, v. 21, p. 556–573, 2024.
DA SILVA, SMP et al. Mulheres e saúde mental: Reflexões a Partir da Bibliografia e de um Relato de Experiência. Revista PsicoFAE: Pluralidades em Saúde Mental, v. 12, n. 2, p. 43-56, 2023.
FARIA, MA et al. “Mar de bullying”: turbilhão de violências contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais na escola. Educação e Pesquisa, v. 48, 2022.
WROBLEVSKI, B et al. Relação entre insatisfação corporal e saúde mental dos adolescentes brasileiros: um estudo com representatividade nacional. Ciência & Saúde Coletiva, v. 27, n. 8, p. 3227–3238, 2022.
Fonte(s) de financiamento: As/os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais ( FAPEMIG), pelo apoio financeiro por meio da Chamada FAPEMIG 13/2023 - Participação coletiva em eventos de caráter técnico-científico no país. Agradecemos também à PROEX - Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade Federal de Ouro Preto pelo apoio na concessão de bolsistas ao longo da realização do projeto.
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