48688 - AVALIAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DA POPULAÇÃO PEDIÁTRICA DO ASSENTAMENTO VILA CRISTIANA – EVIDENCIANDO A VULNERABILIDADE DAS NOSSAS CRIANÇAS! CAROLINA PERROUD DE MATOS - HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE BAURU, FACULDADE DE MEDICINA DE BAURU – FMBRU-USP, THAIS NOGUEIRA ATAIDES - FACULDADE DE MEDICINA DE BAURU – FMBRU-USP, GIOVANNA NEY QUEVEDO - FACULDADE DE MEDICINA DE BAURU – FMBRU-USP, MAYLLA RODRIGUES DE OLIVEIRA - FACULDADE DE MEDICINA DE BAURU – FMBRU-USP, ISABELA MARIA DOS SANTOS - FACULDADE DE MEDICINA DE BAURU – FMBRU-USP, RODRIGO CARDOSO DE OLIVEIRA - FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE BAURU - FOB-USP, ISABEL CRISTINA DRAGO MARQUEZINI SALMEN - FACULDADE DE MEDICINA DE BAURU – FMBRU-USP, LUIZ FERNANDO FERRAZ DA SILVA - FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - FMUSP
Com a urbanização importante do país, parte considerável da população brasileira vive em assentamentos precários (1) caracterizado por moradia inadequada e difícil acesso a políticas públicas básicas. Nestes grupos populacionais há sabidamente maior incidência de doenças (2,3), a alimentação é deficitária (4). Na saúde infantil, estudo mostram também uma maior incidência de cáries quando comparado à população geral (4,5).
O assentamento Vila Cristiana em Bauru localizava-se inicialmente no Jardim Marabá, mas em 2019, após a reintegração judicial de posse do terreno original, as 195 famílias foram desalojadas, submetidas a triagem social e foram viver provisoriamente na nova área localizada no Parque Primavera posteriormente formalizado como assentamento municipal. O assentamento apresenta moradias e infraestrutura urbana precárias como ausência de esgoto e água tratada, além de inúmeras dificuldades de acesso ao sistema de saúde.
Apesar de desafiador para todas as faixas etárias, nas crianças as condições precárias, limitações de acesso e dificuldade de acesso a serviços públicos, num contexto de vulnerabilidade econômica e social, podem gerar os maiores e mais duradouros impactos. Assim este projeto foi concebido no contexto maior de um projeto dos estudantes de medicina da FMBRU para o desenvolvimento de atividades de saúde focadas nas necessidades desta população (6).
Objetivos
O presente projeto teve por objetivo primário fazer a caracterização social, epidemiológica e nosológica da população pediátrica do Assentamento Vila Cristiana em Bauru e incluiu como objetivos específicos a avaliação, nesta população:
Caracterização do perfil socioeconômico;
Avaliação e caracterização da prevalência das principais doenças e agravos à saúde;
Avaliação dos principais indicadores de saúde das crianças e adolescentes;
Avaliação do uso de dispositivos eletrônicos e tempo de tela.
Metodologia
Foram mapeadas todas as crianças nos 115 núcleos familiares existentes no Assentamento Vila Cristiana a partir de um questionário familiar com questões referentes às características da moradia, renda, e indicadores socioeconômicos. Para as moradias com crianças, foram aplicados questionários individuais de Saúde da Criança e do Adolescente a todos os indivíduos de 0 a 19 anos do domicílio, de forma individual, para obtenção de informações pessoais de saúde, hábitos alimentares, de saúde bucal entre outros.
Os questionários foram aplicados em formulário impresso, sempre por estudantes de medicina da USP em Bauru que passaram por treinamento específico para aplicação de cada questionário. Os dados foram compilados em um banco de dados eletrônico.
Todas as informações dos questionários individuais e familiares foram submetidas a análises descritivas e comparativas utilizando-se o software SPSS (SPSS Inc©) versão 17.0
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FOB-USP e todos os responsáveis dos pacientes incluídos no estudo assinaram o TCLE e, adicionalmente, os indivíduos menores de idade assinaram adicionalmente o TALE.
Resultados e Discussão
Dentre os 362 indivíduos dos 115 núcleos familiares do Assentamento Vila Cristiana foram mapeadas 145 crianças, sendo 73 (50,3%) do sexo masculino (M) e 72 (49,7%) do sexo feminino (F). A categorização por faixa etária mostrou 6 (4,1%) neonatos, 26 (17,9%) lactentes, 37 (25,5%) pré-escolares, 25 (17,2%) escolares, e 51 (35,3%) adolescentes.
Destes, foi possível obter o consentimento e o questionário individual de saúde da criança e do adolescente em 50 crianças assim distribuídas: 15 adolescentes, 10 escolares, 19 pré-escolares e 6 lactentes. Nossos achados mais interessantes incluíram:
Acesso ao serviço de saúde: Apenas os lactentes são integralmente atendidos. As demais faixas etárias no máximo 50% das crianças é atendida regularmente. A imunização não está adequada em 25% das crianças avaliadas, sendo pior no grupo dos adolescentes (33,7%)
Mais de 33% das crianças bebe água não tratada em todas as faixas e estes dados se correlacionam significativamente com a incidência de doenças diarreicas nestas crianças (p
Mais de 50% das crianças está exposta à fumaça de queima de lixo ou lenha e e estes dados se correlacionam significativamente com a incidência de rinite e chiado no peito (p
Me média 30% das crianças nasceu com a mãe tendo 18 anos ou menos, em média 85% das gestações destas crianças não foi planejada, sendo em média 20% não desejada.
O tempo de tela variou de menos de 1 hora por dia (para lactentes), para índices alarmantes de 70% com uso por mais de 3 horas diárias entre os pré-escolares.
Escolares (80%) e adolescentes (53%) reportaram pior desempenho escolar durante a pendemia de COVID-19
O número de internações hospitalares prévias também é significativo sendo de 25% em escolares, 22% em pré-escolares e 33% em lactentes.
Conclusões/Considerações finais
Nosso estudo demonstra, em números, a realidade crítica de crianças de assentamentos urbanos de diferentes grupos etários e seu potencial impacto em saúde. Assim, ao mesmo tempo em que estas crianças estão expostas a diferentes agressores (fumaça e água não tratada) correlacionados com a incidência de doenças, elas também têm dificuldade de acesso ao sistema de saúde com baixos índices de seguimento regular, imunização entre outros.
De particular interesse é observar o alto tempo de tela destas crianças, especialmente entre os pré-escolares. Embora não seja possível definir isso pode envolver uma combinação de fatores como carga de trabalho, limitação de acesso a serviços públicos como creches.
Estes são apenas alguns aspectos que demonstram claramente a vulnerabilidade da população pediátrica nos assentamentos urbanos e a necessidade de um olhar especial para as condições desta população de forma a desenvolver estratégias e políticas para minimizar os impactos futuros nestas gerações.
Referências
1 - BRASIL. Ministério das Cidades. Política Nacional de Habitação. Brasília, 2004.
2 - SCOPINHO, R. A. Condições de vida e saúde do trabalhador em assentamento rural. Ciência & Saúde Coletiva, v.15, p.1575-1584, 2010.
3 - CORDEIRO, Q.; et al.. Dor musculoesquelética na atenção primária à saúde em uma cidade do Vale do Mucuri, nordeste de MG. Acta fisiátrica, v.15, n.4, p.241-244, 2008.
4 - CASTRO, T. G. et al. Saúde e nutrição de crianças de 0-60 meses de um assentamento de reforma agrária, Vale do Rio Doce, MG. Rev Nutrição, v.17, p.167-176, 2004.
5 - FRIAS, A. C. et al. Odontologia no Projeto Bandeira Científica 2015 – Limoeiro de Anadia – AL. Rev Cultura e Extensão USP, , v. 16, p. 21-32, 2017.
6 - DANTAS, A.C.M.T.V. et al. Relatos e reflexões sobre a Atenção Primária à Saúde em assentamentos da Reforma Agrária. Physis: Rev de Saúde Coletiva, v.29, 2019.
Fonte(s) de financiamento: Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USPFundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São PauloPrograma Uniicado de Bolsas da USP
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