48684 - DIAGNÓSTICO SITUACIONAL EM INSTITUIÇÕES DE ENSINO MÉDIO: TECENDO SAÚDE COM ADOLESCENTES E JOVENS ESCOLARES NO MUNICÍPIO DE OURO PRETO/MINAS GERAIS. ELOISA HELENA DE LIMA - INSTITUTO RENÉ RACHOU - FIOCRUZ MINAS E ESCOLA DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO, GEORGE LUIZ LINS MACHADO-COELHO - ESCOLA DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO, ÁNGEL MARTÍNEZ-HERNÁEZ - UNIVERSITAT ROVIRA I VIRGILI - TARRAGONA/ ESPANHA, BRUNA REZENDE DO AMARAL - ESCOLA DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO, DANIELA FONSECA ABDO ROCHA - ESCOLA DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO, NATHÁLIA MARIA LADEIRA DE OLIVEIRA - ESCOLA DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO, LAURA MAGALHÃES ROCHA E SILVA - INSTITUTO RENÉ RACHOU – FIOCRUZ MINAS, GUSTAVO SOARES FARIA - ESCOLA DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO, RENAN LIMA VIEIRA - ESCOLA DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO, CELINA MARIA MODENA - INSTITUTO RENÉ RACHOU - FIOCRUZ MINAS
Contextualização
A adolescência é um período de intensas transformações podendo expor os jovens a vulnerabilidades individuais, sociais, físicas e mentais. O desenvolvimento da educação em saúde como processo político pedagógico pode estimular o pensamento crítico e reflexivo, permitindo escuta atenta a esses jovens muitas vezes negligenciados e invisibilizados (Lima et al, 2023). Face a este cenário foi proposto o projeto: “Diálogo, Reflexão e Educação em Saúde com Alunos do Ensino Médio: um estudo acerca da situação de saúde de adolescentes e jovens no município de Ouro Preto/MG“, realizado em quatro escolas públicas de Ouro Preto ao longo do ano de 2023 através do Pós-doutorado em Saúde Coletiva do Instituto René Rachou – Fiocruz Minas em parceria com a Universitat Rovira i Virgili – Espanha. O projeto foi aprovado pelo CEP UFOP / CAAE: 33453120.5.0000.5150 e teve como ponto de partida o diagnóstico da situação de saúde de adolescentes e jovens a partir de um estudo quantitativo transversal utilizando o Youth Risk Behavior Survey (YRBS), um instrumento validado que avalia comportamentos que colocam a saúde jovem em risco (Schall et al, 2012), seguido de grupos focais (Minayo, 2008). Após análise do perfil de saúde, foram organizadas oficinas e rodas de conversa para estimular a reflexão, o diálogo e a promoção da saúde sobre as principais vulnerabilidades identificadas.
Descrição da Experiência
A população total do município de Ouro Preto é estimada em 74.824 habitantes e na faixa etária de 15 a 19 anos em 5.232 pessoas, sendo 2.712 do sexo masculino e 2.520 do sexo feminino. Dentre os 1.557 alunos matriculados no Ensino Médio na Sede do município, foram selecionados 355 estudantes na faixa etária entre 15 e 18 anos cursando o primeiro e segundo ano do Ensino Médio através de amostragem aleatória simples. Para a etapa de intervenção foram realizadas oficinas educativas direcionadas para o público de estudantes que participaram da etapa de diagnóstico. A participação foi voluntária e teve expressiva adesão dos adolescentes e jovens. Após análise do perfil de saúde, foram organizadas atividades para estimular a reflexão, o diálogo e a promoção da saúde sobre temas como abuso sexual, prevenção de infecções sexualmente transmissíveis e gravidez precoce, saúde mental, diversidade sexual e de género e prevenção do racismo. As atividades foram realizadas através de metodologias dialógicas e participativas em rodas de conversas, oficinas e eventos de curta duração seguindo a disponibilidade e organização de cada escola. Esta estratégia mostrou-se eficaz no atendimento às demandas dos adolescentes e jovens. Também foi possível estimulá-los a assumirem um protagonismo nos seus projetos de vida e fortalecerem a sua resiliência para enfrentar as dificuldades identificadas.
Objetivo e período de Realização
Os objetivos deste projeto são contribuir para a formação de conhecimento e autonomia crítica dos adolescentes, visando a redução de vulnerabilidades e fomentar o interesse na formação e desenvolvimento de projetos de vida em escolas do Ensino Médio da rede pública de Ouro Preto. Somado a isso, propiciar uma análise do perfil de saúde mental destes jovens e fornecer subsídios para a implementação de políticas públicas de promoção da saúde mental. As ações foram realizadas durante o ano de 2023.
Resultados
Foram realizadas 8 oficinas educativas e um evento de promoção da saúde pautados nos temas Abuso Sexual, Prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) e Gravidez Precoce, Saúde Mental, Diversidade Sexual e de Gênero e Prevenção ao Racismo. Durante as oficinas observou-se participação ativa dos alunos. As discussões permitiram a identificação de necessidades específicas, possibilitando a preparação de intervenções mais direcionadas. Procurou-se sanar as dúvidas mais recorrentes e fortalecer o elo entre pesquisadores e adolescentes, para que estes se sentissem amparados e seguros em compartilhar temas delicados com o grupo. Os temas foram discorridos a partir das experiências cotidianas dos alunos, junto a uma base científica que desmistificou, retificou e/ou corrigiu informações. Através de atividades interativas e discussões abertas, os participantes puderam identificar riscos e vulnerabilidades associados às próprias vivências e explorar maneiras de prevenção e promoção da saúde. As atividades permitiram não somente a transmissão de informações, mas também a construção de um ambiente de aprendizado colaborativo, onde todos contribuíram para o conhecimento mútuo.
Aprendizado e Análise Crítica
O diagnóstico da situação de saúde através da utilização de metodologias mistas aliado à realização de oficinas e eventos temáticos mostrou-se muito potente na abordagem das demandas de saúde dos adolescentes e jovens. Na etapa de coleta de dados, a utilização de tablets equipados com aplicativos KoboToolbox e Kobocolect despertaram o interesse dos participantes e tornaram esta etapa mais lúdica (Lakshminarasimhappa, 2022). A reafirmação da escola como principal local de promoção à saúde nas faixas etárias mais jovens mostrou-se de grande relevância e centralidade no presente estudo (Rocha et al, 2024). A experiência contribuiu para a construção de um ambiente educativo mais consciente e despertou discussões valiosas entre alunos, equipe pedagógica e pesquisadores. Ao adotar uma abordagem participativa e inclusiva, os adolescentes não apenas absorveram conhecimento, mas também se tornaram agentes ativos na disseminação de informações sobre saúde entre os colegas. Importante atentar-se para a abordagem dos problemas de saúde que afetam a população juvenil considerando os aspectos psicossociais, contextuais, de desigualdades e iniquidades e em especial os problemas referidos ao sofrimento mental que se mostraram de grande impacto explicitando a necessidade urgente de colocar em curso dispositivos de acolhimento e promoção da saúde mental em ambiente escolar.
Referências
LAKSHMINARASIMHAPPA, M. C. Web-based and smart mobile app for data collection: Kobo Toolbox/Kobo collect. Journal of Indian Library Association, v. 57, n. 2, p. 72-79, 2022.
LIMA, E. H., CABRAL, G. F. C., ROCHA, D. F. A., SILVA, P. de A., FIGUEIREDO, T. M., MACHADO, I. E., ARAGÃO, C. M. C., SILVA, I. A. Diálogos, reflexão e educação em saúde: um relato de experiência. Contribuciones a las Ciências Sociales, 2023, 16(2), 592–610.
MINAYO, M.C.S. O Desafio do Conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec, 2008.
ROCHA, D.F.A.; CABRAL, G.F.C.; SILVA, P.A.; MACHADO, I.E.; LIMA, E.H. Análise do Perfil de Saúde dos alunos matriculados no ensino médio da Escola Estadual Ouro Preto: um estudo transversal descritivo. Revista Médica de Minas Gerais, 2024, 34:e-34103.
SCHALL, V. T. et al. YRBS: Validação do Instrumento para Análise Anual de Comportamento de Risco entre Adolescentes Brasileiros. Relatório Final. FIOCRUZ-MG. 2012.
Fonte(s) de financiamento: As/Os autoras/es agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), pelo apoio financeiro por meio da Chamada FAPEMIG 13/2023 - Participação coletiva em eventos de caráter técnico-científico no país e à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade Federal de Ouro Preto.
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