Roda de Conversa

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC2.16 - Saúde para os povos indigenas

48550 - DIÁLOGO JUNTO AOS TRABALHADORES DA SAÚDE SOBRE DIABETES MELLITUS E HIPERTENSÃO ARTERIAL NA POPULAÇÃO INDÍGENA TAPEBA, CAUCAIA, CEARÁ
MARIA LOURDES DOS SANTOS - ESP/CE, MARIA IARA SOCORRO MARTINS - UFC, LEIDY DAYANE PAIVA DE ABREU. - UECE, FRANCISCO JADSON FRANCO MOREIRA - INSTITUTO INTERNACIONAL DE PESQUISA E EDUCAÇÃO HAPVIDA NOTREDAME INTERMÉDICA, ANDERSON GOMES CAMÊLO PEREIRA - ESP/CE, JÉSSICA ARAÚJO DE CARVALHO - ESP/CE, FABÍOLA MONTEIRO DE CASTRO - ESP/CE, KATHERINE ALVES SILVA - ESP/CE, ZILVANIR FERNANDES QUEIROZ - ESP/CE, MARIA MORGANA SOUZA GOMES - ESP/CE


Contextualização
Dentre os povos marginalizados, 15% da pobreza mundial se concentra na população indígena, influenciada pelas iniquidades sociais, econômicas e de saúde, contribuindo com a alta carga de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) como a Diabetes mellitus (DM) e Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) (Santos et al., 2020). A Gerência de Pesquisa em Saúde (Gepes) da Escola de Saúde Pública do Ceará Paulo Marcelo Martins Rodrigues (ESP/CE), ao longo dos anos, desenvolve pesquisas e estratégias de cuidado em saúde às populações vulnerabilizadas e invisibilizadas, e por meio da Chamada 02/2020 do Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS/Ceará) desenvolveu uma Pesquisa junto à população indígena Tapeba de Caucaia, Ceará. Uma das estratégias foi um encontro com trabalhadores da Saúde Indígena, que atuam junto à população Tapeba de Caucaia e a gestão do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI, Ceará) para apresentar os resultados da Pesquisa “Ocorrência de Diabetes Mellitus, Hipertensão Arterial Crônica na Saúde da População Indígena Tapeba em Caucaia-ce, de 2010 a 2020: análise epidemiológica”. Na ocasião realizou-se, ainda, acolhimento com dinâmica participativa, diálogo sobre hábitos alimentares e estratégias de cuidado. Unindo Pesquisadores, Residentes, Trabalhadores da Saúde e Representantes do DSEI-CE.

Descrição da Experiência
Foi desenvolvido um relato de experiência pela equipe de pesquisa da Gepes, com parceria de duas nutricionistas residentes em Saúde da Família e Comunidade da ESP/CE lotadas no polo de Caucaia, o que ocorreu no Centro de Ensino e Treinamento em Extensão Rural (Cetrex), Capuan/Caucaia-CE. No Encontro participaram 33 pessoas, sendo 24 profissionais que atuam no território indígena e destes, 18 Agentes Indígenas de Saúde (AIS), 04 Agentes Comunitários de Saúde (ACS), e um profissional responsável técnico pelo Programa Hiper/Dia, funcionário do Ministério da Saúde, além da presença de uma liderança indígena da Aldeia Anacé. No momento foram apresentados os resultados da pesquisa e dialogado sobre “Alimentação Saudável Descomplicada”, pois ajuda a proteger contra a má nutrição em todas as suas formas e contribui para uma vida com qualidade. A experiência iniciou com uma dinâmica de acolhimento, seguida das demais exposições sobre os achados da pesquisa e avaliação, que tiveram por instrumento de coleta a Ficha de Cadastro do Ministério da Saúde, que são utilizadas pelo DSEI, com a participação ativa dos presentes e utilizou-se como instrumento de coletas de dados o diário de campo. A vivência foi analisada com base na literatura da temática abordada.

Objetivo e período de Realização
Descrever a experiência de pesquisadores da Gerência de Pesquisa em Saúde da Escola de Saúde Pública do Ceará junto aos trabalhadores da saúde que atuam no território da população indígena Tapeba do município de Caucaia, Ceará, por meio de um encontro de saberes sobre a Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus. A vivência foi realizada dia 27 de junho de 2023, das 13h30 às 17h00, no Centro de Ensino e Treinamento em Extensão Rural (Cetrex), Capuan/Caucaia-CE, com a participação de 33 pessoas.

Resultados
A dinâmica “rede tecida afeto e partilha”, utilizando-se barbante e balões, foi a acolhida. Os presentes escreveram em um balão preso ao barbante uma palavra sobre a temática, formando uma teia, objetivando fortalecer a intersetorialidade, relações pessoais, saberes e sentimentos. Uma vez quebrada a teia, expunha-se a fragilidade simbolizando o prejuízo ao serviço, impactando a comunidade. A participação de todos demonstrou entendimento, sintonia e aceitação. Posteriormente, as pesquisadoras apresentaram os resultados da pesquisa. Entre todas as variáveis testadas, seguir orientação alimentar pela Equipe de Saúde foi a única associada a ocorrência de DM e HAS, significando que, ao não seguir orientação alimentar a pessoa tem 7 vezes mais chances de ter DM e 4 vezes mais chance de ter DM e HAS. Seguiu-se com um diálogo sobre “Alimentação Saudável Descomplicada”, mediado por residentes, discorrendo sobre alimentação saudável, alimentos ultra-processados e processados, cultura e tradições da culinária indígena proveniente da agricultura, caça e pesca. Ao final, realizou-se a avaliação do encontro e todos reconheceram a importância da participação e do aprendizado por meio do diálogo.

Aprendizado e Análise Crítica
A compreensão dos saberes e das práticas dos cuidados em Saúde Indígena são plurais e distintas, a depender das tradições de cada povo e do processo de urbanização, ocasionando mudanças de hábitos alimentares e Doenças Crônicas Não Transmissíveis, como HAS e DM (Corrêa., et al, 2021). A pesquisa apresentou a necessidade de fortalecer o cuidado educativo em saúde junto à população indígena por meio das atividades de Educação em Saúde, que é um processo construtivo e contributivo do conhecimento em que as pessoas possam apropriar-se e melhorando a participação no cuidado educativo e atenção à saúde (Schweickardt; Silva; Ahmadpour, 2020). A experiência também enfatizou que as estratégias interprofissionais, por meio da intersetorialidade, apresentam a importância do diálogo entre diferentes saberes, tal como o Subsistema de Atenção à Saúde Indigena, que se constitui, com suas especificidades em tradições e fragilidades de saúde. A iniciativa promoveu encontro da pesquisa com o serviço, ampliando a aproximação de pessoas e saberes de forma interdisciplinar e transcultural. Com isso, constituindo a tarefa árdua de nos aproximarmos dos universos simbólicos, das crenças cotidianas e culturais para o exercício de um diálogo intercultural entre os saberes e práticas. Ademais, desenvolvendo conhecimento necessário a ampliação do cuidado e visibilidades dos povos mais vulnerabilizados.

Referências
CORRÊA, Perla Katheleen Valente; TRINDADE, Fernanda Araújo; NASCIMENTO, Camilla Cristina Lisboa do; ARAUJO, Aliny Cristiany Costa; SOUZA, Igor Kenji YAMAMOTO; NOGUEIRA, Laura Maria Vidal. Prevalência da Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes Mellitus entre Indígenas. Cogitare Enferm. 2021;26:e72820.
SCHWEICKARDT, Júlio Cesar; SILVA, Joana Maria Borges de Freitas; AHMADPOUR, Bahiyyeh (org.). Saúde indígena: práticas e saberes por um diálogo intercultural. Porto Alegre, RS: Editora Rede Unida, 2020. Coleção Saúde & Amazônia, v.9.
SANTOS, Kennedy Maia dos; TSUTSUI, Mario Luiz da Silva; MAZZUCCHETTI, Lalucha; GALVÃO, Patrícia Paiva de Oliveira; GRANADO, Fernanda Serra; RODRIGUES, Douglas; TOMITA, Luciana Yuki; MAIA, Raquel da Rocha Paiva; GIMENO, Suely Godoy Agostinho. Concordância entre estado nutricional e percepção da imagem corporal em indígenas khisêdjê do Parque Indígena do Xingu. Rev. bras. epidemiol. 2020, vol.23, e200040.


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