53863 - A PRODUÇÃO AUDIOVISUAL COMO PROMOTOR DE LUTA PELO DIREITO À SAÚDE E EMANCIPAÇÃO DO TERRITÓRIO MARIA PAULA PARANHOS CALDAS - ISC/UFBA, LUCAS IAGO MOURA DA SILVA - ISC/UFBA, MARCELE CARNEIRO PAIM - ISC/UFBA
Contextualização O território, no contexto do sistema de saúde, é um palco onde as diversas narrativas da vida humana se desenrolam. Cada território possui dinâmicas individuais que influenciam a saúde e bem-estar de seus habitantes, inclusive sobre a melhor forma de se comunicar. Ao ser analisado no âmbito do SUS, revela características de uma população específica, com dinâmicas individuais e problemas de saúde condicionados por tempo e espaço definidos. Nessa perspectiva, Milton Santos enfatiza que o território transcende sua delimitação física, sendo o cenário onde se entrelaçam diversas narrativas humanas, moldadas por experiências culturais e dinâmicas próprias de cada localidade que podem definir o acesso à informação. Essa complexidade territorial influencia na percepção individual de saúde, refletindo-se na saúde física, mental e emocional dos habitantes. Assim, o engajamento comunitário é essencial para implementar estratégias de comunicação adaptadas às necessidades locais, promovendo uma comunicação inclusiva. Como um aliado constante de populações em vulnerabilidade, os movimentos sociais, como o Movimento Sem Teto da Bahia (MSTB), atuam promovendo o acesso a serviços de saúde e garantindo direitos, possibilitando a construção conjunta entre comunidades e comunicadores crucialmente relevante para mapear equipamentos sociais e desenvolver abordagens de comunicação eficazes.
Descrição da Experiência Durante quatro visitas realizadas à Ocupação Quilombo Manoel Faustino e Ocupação Paraíso. Foram conduzidas rodas de conversa nas quais se constatou uma lacuna significativa na comunicação entre os serviços de saúde, equipamentos sociais e a população local. Em uma dessas ocasiões, os participantes mencionaram que os residentes se apoiam mutuamente na identificação dos serviços disponíveis por meio do WhatsApp. Além disso, foi possível realizar uma visita ao CRAS Lagoa da Paixão, o responsável pelo território para entender como se dá a comunicação instituição-território. Em resposta a essa observação, foi desenvolvido um roteiro para a produção de um vídeo que visava mapear os serviços de saúde e equipamentos sociais do território de forma acessível e fácil de disseminar entre os moradores. Esse roteiro foi validado pelos próprios residentes e, posteriormente, o vídeo foi produzido utilizando o software VideoScribe, conhecido por sua capacidade de criar animações de quadro branco, além de outros estilos de animação. O vídeo foi apresentado em um evento de encerramento da disciplina e, em seguida, distribuído a todos os moradores através do WhatsApp, proporcionando uma ferramenta útil para a comunidade acessar informações sobre os serviços disponíveis em seu território.
Objetivo e período de Realização Este trabalho tem como objetivo relatar o diálogo entre o MSTB e os serviços de saúde nas Ocupações Quilombo Manoel Faustino e Paraíso (Salvador/BA). As visitas objetivaram reconhecer as dificuldades de acesso ao serviço de saúde no que tange à comunicação, considerando a atuação independente no MSTB. Essas visitas foram realizadas durante o componente curricular Práticas Integradas em Saúde Coletiva 2, da Graduação em Saúde Coletiva, durante o período de julho de 2023 a novembro de 2023.
Resultados No distrito em análise, foi observado que o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) da localidade não estabelece diálogo com o movimento social, o que contribui para a exclusão dos residentes, privando-os de garantias de direitos e acesso à informação. Os profissionais do CRAS alegam não poder se deslocar até esses territórios. Embora o movimento social, especificamente o MSTB, esteja engajado na luta por moradia e tenha iniciativas para emitir comprovantes de residência, os serviços de saúde ainda restringem o acesso à saúde desses moradores, ignorando as particularidades dos processos comunicacionais desse território. Os moradores recorrem a diversas unidades de saúde na cidade em busca de atendimento em diferentes níveis, enquanto os meios institucionais de comunicação com essa população não são eficazes e não conseguem alcançá-la, evidenciado um descompasso entre o que os profissionais e a percepção dos moradores sobre a atuação do CRAS. Estas relataram que o CRAS nega atendimento aos moradores, contrastando com a afirmação dos profissionais de que fornecem informações por meio das redes sociais, embora os moradores prefiram e usem mais o WhatsApp para esse fim.
Aprendizado e Análise Crítica Diante dos conflitos identificados, percebeu-se que investir na produção comunicacional pelos residentes do território, em colaboração com as instituições é mais eficaz. A parceria com os movimentos sociais, portanto, é crucial, pois facilita o conhecimento necessário para mapear os equipamentos sociais e determinar a melhor abordagem de comunicação para essa população. Permitindo a identificação de contextos e representações relacionados à saúde que são particulares desse grupo, com os moradores assumindo o papel central nessa produção, criando formatos de comunicação mais acessíveis e significativos para a comunidade. A democratização da comunicação é reconhecida como uma condição essencial para garantir o direito à saúde. Em projetos de mobilização, a comunicação desempenha funções específicas para dinamizar a mobilização e fortalecer o território, evitando que se faça ações desconectadas e pouco representativas. Apesar das lacunas estruturais em relação aos princípios do SUS, a produção audiovisual, mostra uma possibilidade de resistência coletiva que fortalece as redes de cuidado, principalmente através da atuação dos próprios moradores e do movimento social em seus itinerários terapêuticos. Isso evidencia o compromisso comunitário, que fortalece os territórios, levando em consideração suas particularidades e demandas, apesar das barreiras no acesso à saúde.
Referências FAUSTINI, M. Rene Silva - Ativismo Digital E Ação Comunitária. Editora Cobogó, 2020.
HENRIQUES, M. S. Comunicação e estratégias de mobilização social. 3. ed. Belo Horizonte. Autêntica Editora, 2013.
RANGEL-S, M. L. Comunicação e saúde: perspectivas contemporâneas. Salvador. EDUFBA, 2017.
SANTOS, M. Território: globalização e fragmentação. 4. ed. São Paulo. Editora Hucitec, 1998.
STEVANIM, L. F.; MURTINHO, R. Direito à comunicação e saúde. Editora Fiocruz, 2021.
ZHANG, R. et al. Listening to voices from African American communities in the southern states about COVID-19 vaccine information and communication: A qualitative study. Vaccines, v. 10, n. 7, p. 1046, 2022.
Fonte(s) de financiamento: Este relato não obteve financiamento.
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