05/11/2024 - 13:30 - 15:00 RC2.13 - O direito de ser, existir e lutar |
52713 - ENTRE AS OPORTUNIDADES E OS ENTRAVES DA GARANTIA DO ACESSO À SAÚDE EM UMA POPULAÇÃO VULNERÁVEL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA DUAL. ISABELA MARIA DOS SANTOS - USP, GIOVANNA NEY QUEVEDO - USP, ANA JULIA DE MAGALHÃES PINA - USP, VITÓRIA SILVA ZAIA - USP, JOSÉ GUILHERME MACHADO GUSMÃO - USP, MARCOS ANTONIO MARTON FILHO - USP, CAROLINA PERROUD DE MATOS - USP
Contextualização O “Projeto Primavera”, surgido em 2019, consiste em uma extensão universitária, composta por 53 discentes do primeiro ao quarto ano do curso de medicina de uma universidade pública do oeste paulista. Atua em ações de desenvolvimento social e de saúde da população que reside no assentamento Vila Cristiana integrado ao Sistema Único de Saúde. No assentamento, vivem 195 famílias em habitações que são, em sua maioria, de madeiras e lonas.
A Unidade Básica de Saúde e a Unidade de Pronto Atendimento mais próximas ficam a cerca de 40 minutos de caminhada, uma distância importante se considerarmos que esse recorte populacional padece de recursos básicos, como comida, água e rede de esgoto¹; ficando quase que impensável empregar recursos financeiros próprio para transportes como ônibus, carro e outros. Tal situação de negligência e desamparo com a saúde ainda é agravada pela vulnerabilidade social da população que ali reside, cujo cotidiano é permeado por questões que envolvem a insegurança alimentar, o desemprego e a falta de atividades voltadas para o lazer e cuidado com a saúde mental².
Descrição da Experiência Durante o segundo semestre de 2023 o Projeto Primavera realizou a divisão dos discentes pelas ruas do assentamento, de modo que todas as casas fossem visitadas por 1 aluno e, se o morador não estivesse presente, uma segunda tentativa seria realizada. A fim de aumentar a cobertura e adesão dos moradores, orientamos que os membros fossem fora do horário comercial, já que muitos poderiam estar trabalhando. O contato inicial com o morador seria um momento importante para apresentar melhor o projeto, então foi reforçado previamente a relevância de se criar um ambiente confortável para que, em seguida, fosse possível conduzir a conversa a respeito do acesso ao SUS. Ao longo do diálogo seguimos os seguintes tópicos: acompanhamento na unidade de saúde; tratamento de comorbidades; acesso à Unidade de Pronto Atendimento³. Com as entrevistas, esperávamos conhecer os moradores; suas morbidades, se realizam tratamentos e sabem suas consequências. E também, entender como é viver na Vila Cristiana, para poder pensar em ações que colaborem com a melhora das condições de vida, dentro da realidade de cada um ⁴.
Objetivo e período de Realização Este relato de experiência tem como objetivo compartilhar as experiências que foram obtidas pelos estudantes e dividir as metodologias empregadas para reduzir as diligências levantadas durante identificação de outros obstáculos que impedissem o acesso à saúde pela população do assentamento. Visando diagnosticar barreiras físicas, sociais e institucionais ao acesso à saúde, especialmente à UBS e à UPA, e analisar como elas afetam a qualidade de vida e o bem-estar social dos moradores.
Resultados No segundo semestre de 2023 visitamos 87 casas e, seguindo o roteiro citado, desenvolvemos diálogos importantes com essa população. Ao longo dessa atividade orientamos sobre as funções da UBS e como o conhecimento e uso correto do SUS pode melhorar a qualidade de vida. 20,6% dos entrevistados nunca foram à UBS. Entre os que frequentam, os serviços mais usados são puericultura e vacinação. Um dado levantado também em visitas anteriores foi de que não há estratégia de saúde da família ou visitas de agentes de saúde no assentamento.
Além disso, 41,09% dos entrevistados relataram que o morador ou algum membro da família apresentavam alguma comorbidade que necessitava de acompanhamento, sendo que 21,87% não se lembravam ou tinham frequentado a UBS há mais de um ano, enquanto 27,53% apontaram as mesmas respostas quanto a frequência à UPA.
Em relação ao Projeto Primavera, os entrevistados solicitaram em 28,33% das respostas mais atividades voltadas para as crianças, a fim de promover a prática do esporte e da integração. Por fim, 21,66% propuseram mais atividades como rodas de conversa e atendimentos direcionados à saúde da mulher, do homem e a atenção ao idoso.
Aprendizado e Análise Crítica Por meio dessas visitas domiciliares, os alunos puderam experienciar o processo de construção dialógico, além de conhecerem um pouco melhor a vivência desses moradores. Tal processo se mostrou enriquecedor, sendo possível ensinar e também aprender. Dentre os aprendizados, destacamos as histórias de superação e de enfrentamento das dificuldades, os momentos de desabafos sobre as inseguranças e o conhecimento popular da comunidade.
Após o mapeamento dessa população sobre o acesso à saúde pública, se tornou realizável o planejamento e a execução de ações direcionadas às reais necessidades. O projeto intermediou um contato junto à UBS de referência, visando aumentar a cobertura de agentes para abranger este bairro, infelizmente não obtivemos êxito por essa linha até o momento, pois é necessário uma discussão em instâncias superiores junto à Secretaria do município. Além disso, os discentes elaboraram cartilhas com informações sobre os meios de acesso ao serviço de saúde, garantidos e assegurados pelos Sistema Único de Saúde-já que o acesso à informação é também uma forma de resistência frente aos intempéries das mazelas do setor público.Para além das ações de informações sobre o acesso à saúde, também foram realizadas mais atividades para o público infantil e rodas de conversas com as mulheres, em formato de rodas de crochê, pedidos esses que foram levantadas durante as visitas.
Referências 1- Boing AF, Boing AC, Subramanian SV. Inequalities in the access to healthy urban structure and housing: an analysis of the Brazilian census data. Cad Saude Publica. 2021 Jun 25;37(6):e00233119.
2- OLIVEIRA LOPES, Maiara; CRISTINA MESQUITA SOARES, Themis. Perfil de vulnerabilidade diante das desigualdades sociais e seu impacto na saúde: uma revisão sistemática. Cadernos UniFOA, Volta Redonda, v. 18, n. 53, p. 1–10, 2023. DOI: 10.47385/cadunifoa.v18.n53.4382.
3-Marina Peduzzi. EQUIPE MULTIPROFISSIONAL DE SAÚDE: CONCEITO E TIPOLOGIA, UNIVERSITY OF SÃO PAULO, v.35, n.1, p.103, 2001,
4-Angélica Ferreira Fonseca, Márcia Valéria Guimarães Cardoso Morosini, Maria Helena Magalhães de Mendonça. ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E O PERFIL SOCIAL DO TRABALHADOR COMUNITÁRIO EM PERSPECTIVA HISTÓRICA, FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, ESCOLA POLITÉCNICA DE SAÚDE JOAQUIM VENÂNCIO, v.11, n.3, p.525, 2013,
Fonte(s) de financiamento: Programa Unificado de Bolsas da USP
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