Roda de Conversa

05/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC2.12 - Saúde Mental e Território no contexto das populações vulnerabilizadas

54418 - ATENÇÃO, ATENÇÃO: CUIDADO EM SAÚDE MENTAL AS MULHERES PRETAS ATENDIDAS EM UMA UNIDADE DE ATENÇÃO PRIMÁRIA A SAÚDE
ANDRIS CARDOSO TIBÚRCIO - SMS RJ, MARCELIA ALVES DE SOUZA MARTINS - SMS RJ, DIONETE MENEZES DE BRITO FERREIRA - SMS RJ, LUIZ GUILHERME LEAL FERREIRA FILHO - SMS RJ, FRANCINETE DA CONCEIÇÃO AMORIM DO CARMO - SMS RJ


Contextualização
A história das mulheres pretas proveniente das classes populares, herdeiras do racismo e da pobreza extrema, tem vivenciado a manifestação de sofrimento psíquico causado pelo “novo normal” do período pós-pandêmico. Sofrimento emocional evidenciado pelo crescimento acelerado de usuários-cidadãos que procuram apoio psicossocial na Clínica da Família Maria Jose de Souza Barbosa (CFMJSB).
A CFMJSB é um equipamento de saúde do território de Senador Camará, área periférica Zona Oeste da Cidade do Rio de Janeiro. Território de extrema pobreza e vínculos familiares fragilizados pela violência urbana e precariedade que resiste por meio da cultura diaspórica desenvolvida em meio as “ágoras cariocas”, como descrito por SIMAS (2016).
Eram Mulheres atendendo mulheres. Profissionais e usuárias afetadas pelo medo em um misto de pânico e desejo por sobrevivência. A readequação do acolhimento seguro de casos de sofrimento psíquico bem como seu acolhimento coletivo, demonstrou a capacidade de adaptação das equipes multiprofissionais em colaborar coma resiliência dos indivíduos frente a seus próprios problemas .
As equipes não apenas trataram doenças, mas também promoveram a saúde por meio de ações educativas, buscando garantir uma abordagem integral, considerando aspectos físicos, mentais e sociais identificados em meio a resfriamento da emergência sanitária.



Descrição da Experiência
O relato da experiencia que aqui apresento, é fruto do acolhimento da equipe de atenção primária, na prestação do cuidado, que transformou a perseverança dos profissionais da equipe E-Multi em escuta qualificada com as usuárias, oportunizando momentos de reflexão sobre a vida e os direitos de cidadania negados pela pobreza. Foi utilizada a metodologia de roda de conversa em conjunto com atendimentos presencias, oportunizando um cuidado inspirado no “acesso avançado”, muito utilizado da Estratégia de Saúde da Família.
O Acesso Avançado (AA) é um sistema moderno de agendamento médico que consiste em agendar as pessoas para serem atendidas no mesmo dia ou em até 48 horas após o contato do usuário com o serviço de saúde. Diversos Sistemas Nacionais de Saúde no mundo, implementaram o acesso avançado na Atenção Primaria à Saúde (APS) com o objetivo de melhorar o acesso das pessoas aos cuidados em saúde, diminuindo o tempo de espera por atendimento e aumentando o número de atendimentos da população.
A E-Multi se apropriou dessa metodologia e a associou aos fluxos institucionais de acolhimento habituais a sua categoria, buscando evidenciar que insegurança alimentar, conflitos interpessoais e interseccionalidades muitas vezes transformam seus fatores vulnerantes em sintomas identificados como depressão, tristeza, desinteresse pela vida e preguiça.


Objetivo e período de Realização
Esse relato se propõe a descrever como profissionais e usuárias conseguiram se apoiar mutualmente em meio a acentuada precariedade presente no período pós-pandêmico: Precariedade perpetuada principalmente pela dificuldade de reconstrução de antigos vínculos e rotinas de trabalho (DEANDREA, 2021).



Resultados
Com base na definição da Organização Mundial de Saúde (OMS), a saúde é um estado completo de bem-estar físico, mental e social, não se limitando apenas à ausência de doença ou enfermidade.
Na proposta descrita nesse relato, a equipe era composta por um profissional das seguintes categorias: fisioterapeuta, psicólogo, farmacêutico, nutricionista, fonoaudiólogo e assistente social. Essa diversidade de especialidades permitiu abordagens mais abrangentes e eficazes para atender às necessidades dos pacientes no período pós pandemia.
A dificuldade em realizar reuniões periódicas, sobreposição de tarefas, sobrecarga de trabalho e uma hierarquia confusa foram alguns dos desafios enfrentados. A compreensão inadequada da proposta de trabalho por parte da população afetou negativamente o desempenho da equipe, em alguns momentos.
Mulheres continuam a cuidar e fornecer condições básicas de subsistência para suas famílias, ou seja, permanecem realizando trabalhos relativos à manutenção da vida. Ademais, muitas mulheres estão em condição de dupla exploração, ou seja, possuem também empregos informais, ou vínculos precários.



Aprendizado e Análise Crítica
A readequação do acolhimento seguro de casos de sofrimento psíquico bem como seu acolhimento coletivo, demonstrou a capacidade de adaptação das equipes multiprofissionais em colaborar coma resiliência dos indivíduos frente a seus próprios problemas .
Por outro lado, os facilitadores incluíram a disposição da equipe em não desistir dos residentes do território, o apoio de lideranças comunitárias e o vínculo previamente estabelecido com o território. Esses fatores contribuíram para superar obstáculos e promover uma abordagem mais eficaz durante os atendimentos individuais e coletivos.Foram identificados barreiras e facilitadores que interferem diretamente na qualidade do trabalho do residente em saúde.
Os sofrimentos psíquicos observado, apontam para a necessidade avanços nas estratégias de cuidado de pesquisas e estudos que reconheçam a importância do gênero na construção subjetiva e na experiência do sofrimento mental, em interface com a realidade cotidiana dos territórios periféricos de mulheres negras (FRANCO, 2013)
As equipes não apenas trataram doenças, mas também promoveram a saúde por meio de ações educativas, buscando garantir uma abordagem integral, considerando aspectos físicos, mentais e sociais identificados em meio a resfriamento da emergência sanitária.


Referências
D'ANDREA, T. P. Reflexões periféricas: propostas em movimento para a reinvenção das quebradas. São Paulo: Dandara. 2021
FOUCAULT, M. Microfísica do poder (originalmente publicado em 1979, tradução de Roberto Machado). Rio de Janeiro: Edições Graal. 2007.
FRANCO, T. B.; MERHY, E. E. Trabalho, produção do Cuidado e subjetividade em saúde. Textos reunidos. São Paulo: Hucitec, 2013.
SIMAS, Luiz Antônio. Dos arredores da Praça Onze aos terreiros de Oswaldo Cruz: uma cidade de Pequenas Áfricas. Revista Z Cultural, Rio de Janeiro, ano XI, n. 1, 2016.

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