52374 - SAÚDE MENTAL E A DISCUSSÃO DE GÊNERO: REPARAÇÃO EM SAÚDE A PARTIR DA EXPERIÊNCIA EM UMA ESCOLA PÚBLICA MARIA BEATRIZ GONÇALVES LEITE - UFC, JOÃO PAULO PEREIRA BARROS - UFC, CECÍLIA OLIVEIRA CUNHA - UFC, LEVI DE FREITAS COSTA ARAÚJO - UFC, ARTHUR FÉLIX OLIVEIRA COELHO - UFC, JÚLIO CÉSAR CARDOSO RODRIGUES - UFC, LEONARDO FERREIRA DE MELO FARAH MONTENEGRO - UFC
Contextualização O presente relato objetiva refletir acerca do papel da escola como local de promoção da saúde mental para estudantes dissidentes em gênero e sexualidade a partir de uma oficina realizada por alunos e pelo projeto Artes Insurgentes.
A escola, além da transmissão de conteúdos,tem uma função de disciplinar e de docilizar os indivíduos (Foucault, 2008) de forma a adequá-los aos costumes sociais. A partir disso, a negação institucional sobre as formas de os indivíduos se expressarem acaba por produzir sofrimento, perpetuando preconceitos e violências.
A questão de gênero vem à tona uma vez que o binarismo é imposto aos alunos pela cisnormatividade da sociedade refletida na escola, visto que esta reproduz padrões sociais vigentes, invisibilizando modos de existir.
Apesar disso, a escola é um local importante na produção de subjetividade, uma vez que é nela que o sujeito vai ao encontro de novas formas de existir. Assim, o ambiente escolar pode caracterizar-se como um local promotor do cuidado à saúde mental, à medida que for receptiva às diferentes formas de ser, sobretudo da população LBTQIAPN+.
A partir disso, a escola deve ser um local de combate às violências, buscando proteção juvenil e promovendo a saúde mental (Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza, 2023, p.16), especialmente da comunidade LBTQIAPN+, uma vez que repressões cisheteronormativas são impostas a eles.
Descrição da Experiência Para a realização do presente relato, toma-se como base uma oficina de colagem realizada em uma escola pública de ensino médio da periferia de Fortaleza para a discussão da promoção de saúde mental em jovens da comunidade população LBTQIAPN+ nas escolas. A atividade objetivou debater sobre temas referentes a gênero e sexualidade, rede de apoio no ambiente escolar e como essas relações afetam o psicológico deles, com a construção coletiva de um cartaz com as colagens.
A oficina foi pensada por 4 estudantes da escola junto a alunos da graduação e pós-graduação do curso de Psicologia da Universidade Federal do Ceará, os quais pertencem ao projeto de extensão Artes Insurgentes.
Durante a dinâmica, foi realizada uma roda de conversa na qual debateu-se acerca da experiência dos alunos como indivíduos dissidentes em sexualidade, das violências que sofrem no cotidiano e da importância das redes de apoio que criaram, sobretudo, na escola.
Após esse momento de trocas, cada indivíduo presente criou uma colagem na qual representasse a sua relação com seu gênero e sexualidade, assim como as redes de apoio que o envolve e sua relação com a escola. Todos compartilharam experiências próprias ou de pessoas próximas que, de alguma forma, chegaram até eles, pensando, em conjunto, em formas de resistir.
Objetivo e período de Realização A oficina foi realizada no mês de Dezembro de 2023, levando cerca de 4 encontros anteriores com os estudantes ao longo de 3 meses para planejar.
Assim, objetivou-se refletir acerca das normas sociais de gênero e de sexualidade, reconhecendo as violências cotidianas e seus efeitos na saúde mental, buscando relacionar com as vivências da juventude dissidente dentro das escolas, além de mapear seus efeitos na saúde mental e da importância de uma rede de apoio de forma a combater essas problemáticas.
Resultados A partir das discussões acerca das questões de gênero e sexualidade, dos efeitos diretos destas na saúde mental e como a comunidade escolar se apresenta frente a estas, os alunos presentes trouxeram relatos de preconceitos disfarçados de brincadeiras em meio a outros estudantes, conflitos dentro da própria família e um estado de angústia mental quase que de forma constante.
Apesar disso, os participantes da dinâmica também falaram da importância das novas redes de apoio que criaram dentro do ambiente escolar, permitindo compartilhar suas vivências antigas enquanto criavam novos rumos para si em conjunto. Também, abordaram a importância das trocas que realizam com seus amigos de forma a encontrar novas formas de entender suas relações com gênero e sexualidade para além dos modos que foram repassados pela família.
Dessa forma, percebe-se a importância do incentivo a criação de novas redes de apoio, sobretudo dentro do ambiente escolar, com a criação de debates acerca de gênero e sexualidade. Assim, tais iniciativas configuram-se como forma de cuidado e de reparação da saúde mental de indivíduos dissidentes da hegemonia social ao incentivar trocas de vivências desassociadas dos tabus.
Aprendizado e Análise Crítica Pensar em estratégias de cuidado em saúde vai muito além de focalizá-las apenas a serviços clínicos, já que a promoção de saúde envolve uma teia de relações entre questões sociais, econômicas e culturais. As instituições escolares apresentam-se como um local tanto adoecedor quanto potencializador do cuidado da saúde dependendo da forma como a comunidade escolar cria ações de forma a contemplar a pluralidade dos indivíduos.
A construção de espaços abertos para a discussão e a expressão de gênero e sexualidade, pensando criticamente acerca dos preconceitos impostos pelas instituições sociais, mostra-se como uma estratégia de desestruturamento de fatores adoecedores da saúde mental. Assim, é essencial voltar-se para as instituições educacionais como locais-chave para a realização de políticas públicas voltadas para a promoção ao cuidado em saúde mental.
Dessa forma, as escolas, ao incentivarem esses locais de encontros de diferentes vivências, findam por construir novos vínculos entre diferentes indivíduos, relações as quais baseiam-se no respeito e no apoio às dificuldades (Juliano, 2014, p.139). Essas redes de amparo mostram-se como uma ferramenta potente no combate às violências cotidianas, na garantia dos direitos fundamentais às populações invisibilizadas e, sobretudo, na articulação do cuidado à saúde em seus diversos níveis.
Referências FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Tradução de Raquel Ramalhete. 35. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.
JULIANO, Maria Cristina Carvalho; YUNES, Maria Angela Mattar. Reflexões sobre rede de apoio social como mecanismo de proteção e promoção de resiliência. Ambiente & Sociedade, v. 17, p. 135-154, 2014.
CENTRO DE DEFESA DA VIDA HERBERT DE SOUZA, Cartilha Recomendações para o Fortalecimento da Escola Pública como Espaço de Proteção Juvenil, Prevenção e Combate à Violência. Fortaleza: Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza, 2023. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1X_5sSBZfDuAVACwZNlpchjapMaceN7mP/view. Acesso em: 06 de junho de 2024.
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