Roda de Conversa

05/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC2.12 - Saúde Mental e Território no contexto das populações vulnerabilizadas

50269 - REPERCUSSÃO DA ASSISTÊNCIA INTERDISCIPLINAR NO DESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA)
ANAILDA FONTENELE VASCONCELOS - UFC, RICARDO JOSE SOARES PONTES - UFC


Contextualização
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurológica complexa caracterizada por desafios nas áreas de comunicação, comportamento e interação social. A diversidade e a intensidade das necessidades associadas ao TEA requerem uma abordagem interdisciplinar, objetivando melhorar o desenvolvimento dos indivíduos. Assim, através dessa experiência, foram colhidos relatos sobre as intervenções e melhorias após a inserção de indivíduos com autismo em uma unidade de assistência interdisciplinar, que incluíram terapia ocupacional, fonoaudiologia, psicologia, apoio pedagógico e entre outras especialidades. Além das ações diretas, a capacitação e o suporte contínuo às famílias também foram elementos importantes, pois as orientações e o acompanhamento fornecidos aos cuidadores contribuíram para a criação de um ambiente doméstico mais favorável ao desenvolvimento. Com isso, pode-se compreender que a assistência especializada não apenas facilita o progresso em áreas críticas do desenvolvimento infantil, mas também promove uma maior qualidade de vida para as crianças e suas famílias. Pautou-se ainda a importância de políticas públicas que garantam o acesso a serviços especializados mais eficazes e humanizadas no atendimento, de forma equitativa e contínua, proporcionando assim, um terreno fértil para a implementação de práticas colaborativa em saúde.

Descrição da Experiência
O estudo é oriundo de uma Pesquisa Avaliativa de Campo, no município de Fortaleza, Ceará, especificamente na Unidade Conecta, que faz parte do Instituto da Primeira Infância (IPREDE). Para a pesquisa foi usado o diário de campo, objetivando registrar informações detalhadas sobre a vivência e tudo foi conduzido com rigor ético e legal, tendo recebido a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará sob nº 6.103.195, CAAE: 68341523.8.0000.5054. A Unidade Conecta reúne profissionais de diversas áreas, incluindo pediatria, psicologia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e entre outras áreas. As intervenções são planejadas e executadas de maneira conjunta, com reuniões semanais para discutir o progresso dos atendimentos e ajustar as estratégias terapêuticas conforme necessário. O diálogo com os familiares foi pensado para compreender a satisfação com os atendimentos e identificar áreas de melhoria, possibilitando ajustar as abordagens terapêuticas de forma a atender melhor às necessidades das crianças e de suas famílias, bem como entender a diferença entre o contexto no viés teórico e vivencial. Ademais, a experiência foi gratificante e enriquecedora, estimulando o pensamento crítico, bem como uma consciência coletiva em articulação com a prática clínica e o contexto social.

Objetivo e período de Realização
A experiência deste estudo foi vivenciada ao decorrer do ano de 2023 e objetiva relatar a repercussão da assistência interdisciplinar para o desenvolvimento de crianças com TEA com base nas vivencias em uma unidade especializada, incluindo as percepções e reflexões dos familiares destas crianças obtidas através de diálogos e observações.

Resultados
A Unidade Conecta, surgiu em resposta à crescente carência de serviços especializados para crianças com TEA. A repercussão dos serviços no desenvolvimento das crianças foi unanimemente positiva entre os familiares entrevistados. Relatos como “ele começou a falar mais, antes ele só falava uma palavrinha” ilustram claramente o impacto significativo das intervenções interdisciplinares na comunicação. Os avanços não se limitaram apenas à fala, mas também se estenderam à aceitação alimentar e à interação social, conforme expressado: “ele não aceitava comer nada. E agora eu fico realizada. Ele já aceita ovo, frango e antes era só biscoito”, “eu notei quando ela aceitou brincar com a filha do meu vizinho, antes ela não queria papo com ninguém”. Essas mudanças refletem a eficácia das abordagens conjuntas no progresso em áreas críticas do desenvolvimento infantil, promovendo assim uma maior qualidade de vida para todos. Contudo, a demanda por esses serviços é grande, e há uma necessidade urgente de mais vagas em instituições que ofereçam tais atendimento e isso reforça a necessidade de políticas públicas que garantam o acesso a serviços especializados de maneira mais ampla e equitativa.

Aprendizado e Análise Crítica
A experiência ofereceu valiosas lições e reflexões sobre a importância de uma abordagem interdisciplinar no acompanhamento de criança com TEA, revelando avanços significativos. Assim, compreendeu que esse modelo de cuidar permite uma abordagem holística e personalizada, essencial para abordar as múltiplas facetas do autismo. Todavia, relatos de famílias e profissionais indicaram claramente a necessidade de expandir o número de unidades com tais serviços. A alta demanda e a consequente superlotação desses locais comprometem a qualidade do atendimento, uma vez que a inclusão de muitos pacientes simultaneamente torna inviável a dedicação necessária a cada caso, possibilitando resultar em atendimentos menos eficazes, onde a personalização e o cuidado intensivo, características essenciais do tratamento interdisciplinar, ficam prejudicados. Além disso, a existência de longas filas de espera agrava ainda mais o cenário, atrasando o início do acompanhamento e potencialmente comprometendo a situação. A expansão desses serviços não só aliviaria a carga sobre as instituições existentes, como também reduziria significativamente o tempo de espera, possibilitando um início de acompanhamento mais precoce. Portanto, é imperativo que os governantes invistam na ampliação das unidades especializadas, garantindo um atendimento interdisciplinar de qualidade e acessível a todos que dele necessitam.

Referências
ACURCIO, Francisco de Assis; CHERCHIGLIA, Mariângela Leal; SANTOS, Max André dos. Avaliaçäo de qualidade de serviços de saúde. Saúde debate, p. 50-3, 1991.
FOUCAULT, Michel. História da loucura: na idade clássica. São Paulo: Perspectiva, 1997.
GARCIA, Sônia Cardoso Moreira; DO NASCIMENTO, Mayara Andrine; PEREIRA, Marília. Autismo infantil: acolhimento e tratamento pelo sistema único de saúde. Revista Valore, v. 2, n. 1, p. 155-167, 2017.
SILVA, Lucas Silveira da; FURTADO, Luis Achilles Rodrigues. O sujeito autista na Rede SUS:(im) possibilidade de cuidado⋆. Fractal: Revista de Psicologia, v. 31, p. 119-129, 2019.

Fonte(s) de financiamento: Financiamento próprio


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