Roda de Conversa

05/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC2.12 - Saúde Mental e Território no contexto das populações vulnerabilizadas

49994 - REPERCUSSÕES DO RELACIONAMENTO COM PESSOAS QUE VIVENCIAM O ADOECIMENTO PELO USO DE ÁLCOOL NA SAÚDE DE MULHERES: REVISÃO INTEGRATIVA
LAIZA CARVALHO COSTA - UFBA, MARIA LIDIANY TRIBUTINO DE SOUSA - UFOB, GEORGE GONÇALVES MACHADO - UFBA, LORENA MENEZES DE SOUZA CORDEIRO - UFBA, CAROLAYNE PRATES FERNANDES - UFBA, GEOVANA MAGESTADE DA SILVA BITENCOURT - UESB, GABRIELA DA SILVA FERNANDES - UESB


Apresentação/Introdução
Estudar mulheres é estudar as diferentes formas de ser mulher dentro do contexto sociocultural. O acesso a saúde e seus promotores, a forma de vivenciar as relações conjugais e a maternidade, as formas de discriminação e exclusão constroem-se de modos distintos entre as mulheres(1). Em paralelo, apesar da redução de internações e óbitos atribuíveis ao álcool, em contexto nacional, o adoecimento pelo uso de álcool ainda atinge um número expressivo em todo mundo(2). Neste contexto, há implicações deste adoecimento no individuo e seus entes próximos. Relações familiares permeadas pelo álcool acabam por constitui-se em desarmonia, conflitos, com experiências de sofrimento e violência, cujas repercussões afetam a todos membros familiares(3). Ademais, compreende-se que essas famílias precisam reestruturar-se à medida que o uso do álcool afeta as condições de autonomia, de trabalho e de responsabilidade ora executados pela pessoa adoecida(4). Assim, é notável que o contexto familiar permeado pelo adoecimento pelo uso de álcool seja posto como importante componente na subjetividade de mulheres, sendo desejável a compreensão de fatores que confluem nessas relações, localizando essas mulheres no campo sociocultural que estão/são submetidas. Assim, questiona-se quais os efeitos das relações conjugais permeadas pelo adoecimento pelo consumo do álcool nas mulheres-companheiras?

Objetivos
Esse estudo tem por objetivo investigar, por meio de uma revisão integrativa, quais os efeitos do convívio conjugal com pessoas adoecidas pelo uso álcool nas mulheres-companheiras.

Metodologia
Trata-se de uma revisão integrativa realizada de fevereiro a abril de 2024. Foram realizadas buscas nos bancos de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde, Scientific Electronic Library Online , Google Scholar, Literature Analysis and Retrieval Sistem on-line, PsyINFO, Web of Science, Scopus e Sience direct. Como critérios de inclusão buscaram-se artigos originais completos, disponíveis na íntegra para leitura, publicados entre os anos de 2001 a 2024, em qualquer idioma. O ano de 2001 foi considerado como marco inicial devido criação da Lei de Saúde Mental no Brasil. Foram excluídos os estudos que incluíam outros membros da família e não abordassem exclusivamente relações conjugais. Foram utilizados os seguintes Descritores em Ciências da Saúde – DECS, e seus respectivos pares Medical Subject Headings – MESH: mulheres/women; esposas/wife/spouse; alcoólicos, alcoolistas/alcoholic; alcoolismo/Alcoholism; casamento, relacionamento conjugal//Marriage; minorias, relações homoafetivas/ Sexual and Gender Minorities, associados ao operador booleano AND. A coleta de dados ocorreu extraindo os resultados dos artigos e realizando análise descritiva dos dados

Resultados e Discussão
Evidenciaram-se vinte e sete estudos. O estabelecimento do adoecimento pelo uso do álcool do companheiro faz emergir problemas de cunho individual e familiar, além de situações de violências contra as mulheres e/ou a seus filhos. A violência contra as mulheres estava associada ao padrão de consumo de álcool dos homens, e as violências mais comumente referidas são a verbal e a física. Mulheres nestas relações apresentaram maiores chances de desenvolver hipertensão arterial sistêmica, insegurança alimentar, violências, e sofrimento psicológicos, além de apresentarem menores taxas de resiliência. Ademais, informam incapacidade em realizar negociações acerca dos comportamentos sexuais seguro com seus companheiros, destacando o medo de sofrerem abuso sexual casos se opusessem aos seus parceiros. Estudos apontam, ainda, que essas mulheres apresentam stress, ansiedade e depressão decorrentes da relação conjugal, e que a exposição de violência está associada a maiores chances de desenvolver ansiedade e depressão moderada e grave. Relacionados a medidas de enfrentamento, aponta-se que, para essas mulheres, as estratégias dependem da atmosfera familiar, comportamento dos esposos e personalidade das esposas. A participação nas terapias conjugais, individuais e em grupo apresentaram maiores possibilidade de compreensão e/ou resiliência das experiências vividas por essas mulheres. Ademais, o tratamento dos esposos, e a vivência religiosa mostraram-se como formas de esperança para mudança conjugal. Neste contexto, o uso de questionário de Dependência Emocional apresenta-se como útil ferramenta para direcionamento de metas terapêuticas individuais e coletivas para essas mulheres.

Conclusões/Considerações finais
A vivência de mulheres em relações conjugais com pessoas adoecidas pelo uso de álcool evidencia exposição a adoecimentos físicos, psíquicos e violências. A realização de terapias tem se mostrado como importante ferramenta de enfrentamento e suporte para essas mulheres. Contudo, vale pontuar que todos estudos selecionados, foram realizados com mulheres/cis em relações heterossexuais. Neste ponto, chamamos atenção para manutenção de estudos que primam dados epidemiológicos onde o adoecimento pelo uso do álcool é majoritariamente masculino. Além disso, em nenhum dos estudos encontrados houve uma discussão analítica acerca da classe e cor/etnia em intersecção a discussões de gênero. Assim, salientamos que no campo da Saúde Coletiva, são necessários estudos que abordem de forma interseccional essas relações, em suas diferentes configurações, possibilitando evidências que melhor direcionem o cuidado integral dessas mulheres, contribuindo para políticas públicas mais abrangentes.

Referências
1. AKOTIRENE C. Interseccionalidade. EDITORA JANDAÍRA; 2022. (Ribeiro D. Feminismos Plurais).
2. WHO WHO. Global status report on alcohol and health 2018 [Internet]. Geneva: World Health Organization; 2018 [citado 15 de março de 2023]. 450 p. Disponível em: https://apps.who.int/iris/handle/10665/274603
3. Carias AR, Granato TMM. A experiência de rosa vermelha no contexto do alcoolismo paterno. Estud Interdiscip Em Psicol [Internet]. 18 de dezembro de 2020 [citado 20 de abril de 2023];11(3):116–37. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/eip/article/view/38755
4. Rosa CR. O Álcool e a Violência Doméstica: Efeitos e Dramas. Virtuajus [Internet]. 4 de julho de 2017 [citado 19 de maio de 2023];2(2):243–69. Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/virtuajus/article/view/15099

Fonte(s) de financiamento: Próprio


Realização:



Patrocínio:



Apoio: