05/11/2024 - 13:30 - 15:00 RC2.11 - Conhecimento, pesquisa e saberes das populações vulnerabilizadas |
53907 - A SAÚDE COLETIVA NA REDE BRASILEIRA DE MULHERES CIENTISTAS (RBMC): EXPERIÊNCIAS E IDEIAS SOBRE GÊNERO, CIÊNCIA E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA MULHERES FRANCISCA ELIZABETH CRISTINA ARAÚJO BEZERRA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC), CARMEM EMMANUELY LEITÃO ARAÚJO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC)
Apresentação/Introdução A desigualdade de gênero é histórica, estrutural, complexa, interseccional; oprime, segrega e violenta mulheres limitando suas vidas. A pandemia da Covid-19 agravou essa condição desde a emergência em saúde pública aos desmontes de direitos no período. O debate público foi tomado por denúncias, reivindicações e pressões ao Estado. Nessa conjuntura, a Rede Brasileira de Mulheres Cientistas (RBMC), com inédito ativismo digital acadêmico, agregou mulheres de diferentes campos do conhecimento e diversas instituições de ensino e pesquisa nacionais, dentre elas cientistas da Saúde Coletiva. A Saúde Coletiva é diversa e possui história em defesa da democracia e da saúde como direito fundamental. Assim, a SC acolhe a desigualdade de gênero como problemática social que permeia experiências que impactam a saúde das mulheres e toda sociedade. Considerando que a RBMC como uma experiência que relaciona desigualdade de gênero, ciência, mulheres e políticas públicas, buscamos saber como as experiências pessoais, políticas e acadêmicas de pesquisadoras do Campo da Saúde Coletiva que integram a Rede se relacionam às suas ideias sobre gênero, ciência e política pública para mulheres?
Objetivos O objetivo geral é compreender experiências (pessoais, políticas e acadêmicas com a desigualdade de gênero) e ideias de pesquisadoras do campo da saúde coletiva sobre gênero, ciência e políticas públicas para mulheres, considerando a constituição da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas (RBMC) e a atuação delas neste espaço de ativismo digital.
Metodologia Trata-se de um estudo de natureza qualitativa que envolve Análise de Narrativas. Para seleção das participantes consultamos a lista de adesão à RBMC, na qual consta 3.609 pesquisadoras. Ao cruzarmos a relação de docentes e discentes na Plataforma Sucupira, identificamos 345 vinculadas ao Campo da Saúde Coletiva; destas, 21 foram selecionadas em função da participação em pelo menos 01 atividade da Rede (Notas Técnicas, Lives, Entrevistas, Vídeos, Projetos etc.) em seu primeiro ano de atuação (abril/2021 a abril/2022). A pesquisa foi submetida à Plataforma Brasil para apreciação e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará (CEP/UFC) (Número do parecer 5.726.953). Após aprovação, procedemos com contatos, agendamentos e realização das entrevistas que ocorreram entre novembro de 2022 e junho de 2023. Dessas 21, foi possível a realização de 16 entrevistas (01 presencial e 15 online) que foram gravadas, transcritas, mapeados tópicos recorrentes, identificação e seleção dos momentos narrativos (trechos), estabelecimento de palavras-chave e categorias; também, cada entrevista é contrastada com as demais em uma interpretação crítica.
Resultados e Discussão A desigualdade de gênero está nas experiências pessoais como violências que transitam do público ao privado; por toda vida, principalmente, na maternidade e sobrecarga do cuidado ao ocupar outros espaços. As experiências políticas, influenciadas por demandas pessoais e coletivas, aproximaram-nas de movimentos feministas e de mulheres, partidários e suprapartidários, controle social, organizações da sociedade civil e grupos de estudos que subsidiaram ações que participaram. As experiências acadêmicas reforçam a sobrecarga do cuidado e da maternidade e como a academia negligencia suas necessidades ao reforçar um sistema que reproduz opressões interseccionais, adoecedoras. Apesar do ser cientista reforçado por estereótipos tradicionais, apontam para uma ciência inclusiva, colaborativa, contra-hegemônica; principalmente na Saúde Coletiva, considerada acolhedora às mulheres e questões de gêneros. O enfrentamento aos retrocessos políticos visualiza possibilidades na ocupação de espaços de poder e aproximação de estudos de gênero e saúde coletiva como fundamentais para melhorar investimentos, concursos, seleções, editais, direitos e políticas públicas com olhar de gênero. E a RBMC, considerada uma experiência relevante, é definida como ativismo acadêmico que canaliza informações, articulações confiáveis e potencial interventivo; Entretanto, alerta-se para relações conflitantes, inclusive condutas reprodutoras de opressão e invisibilidade. Avalia-se que a atuação precisa ir além do virtual, nas relações internas e externas. Retomando as potencialidades, a atuação da Rede é importante, mas ainda não suficiente para que estudos de gênero ganhem espaço e fortalecimento na Saúde Coletiva. Faz-se necessário esforço coletivo, ampliação das articulações, com preservação de sua autonomia.
Conclusões/Considerações finais As informações analisadas em relação às experiências pessoais, políticas e acadêmicas narradas são representações das tensões, contradições e demandas históricas e interseccionais persistentes em relação à desigualdade de gênero em múltiplos espaços e do impacto que tem na vida, saúde e bem-estar das mulheres. Ficou evidenciado o quanto já foi conquistado, mas também o quanto ainda precisamos caminhar para que mulheres não apenas ocupem espaços ou sejam ouvidas, mas para que sejam consideradas, respeitadas e possam exercer sua autonomia. A junção entre ciência, ativismo e mobilizações acadêmicas e sociais, particularmente no campo da saúde coletiva, revelam-se e se ratificam como potenciais caminhos estratégicos para a implantação de uma agenda de políticas públicas focada na equidade de gênero, justiça social e proteção social das mulheres, mas também de toda a sociedade.
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