05/11/2024 - 13:30 - 15:00 RC2.11 - Conhecimento, pesquisa e saberes das populações vulnerabilizadas |
53093 - VISÃO HUMANÍSTICA NA VULNERABILIDADE: A EXPERIÊNCIA DE PARCERIA ENTRE UNIVERSIDADE, CLÍNICA DA FAMÍLIA E ESCOLA MUNICIPAL NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. CAIO MARX DE ARAUJO DOS REIS - UFRJ, MARIA DE LOURDES TAVARES CAVALCANTI - UFRJ, AMANDA DE MOURA SOUZA - UFRJ, ANTÔNIO JOSÉ LEAL COSTA - UFRJ, MARCONDES AGUIAR BARBOSA - SMSRJ, RITA DE CÁSSIA CORRÊA MANSO - SMERJ, ELDO MARCELINO FAGUNDES - SMERJ
Contextualização Em 2022, iniciou-se uma parceria entre o Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC/UFRJ), uma Clínica da Família (CF) e uma Escola Municipal (EM), vinculadas à Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, através dos projetos de extensão “Fortalecimento das ações de vigilância em saúde e produção de linhas de cuidado no município do Rio de Janeiro" e “Promoção da atividade física entre escolares: proposta de integração entre Universidades e escolas da rede pública do estado do Rio de Janeiro”. O segundo projeto busca promover a prática de atividades físicas e a alimentação saudável entre escolares adolescentes em escolas com o Programa Saúde na Escola (PSE).
A CF abrange os bairros de Ramos e parte do Morro do Alemão, uma das comunidades do Rio de Janeiro com alta vulnerabilidade social. A EM é próxima à CF e possui estudantes residentes em ambos os bairros, entre os quais, alguns vivem em situação de insegurança alimentar e/ou de sofrimento psíquico.
As ações do projeto são feitas por um Agente Comunitário de Saúde (ACS), uma educadora física, uma nutricionista da eMulti, três professores da EM, a coordenadora da EM e graduandos e docentes do IESC.
A pedido da direção da EM, foram realizadas práticas de Terapia Comunitária Integrativa (TCI) com os professores e três rodas com estudantes, como uma forma de atender a demanda de trabalhar a saúde mental dos alunos.
Descrição da Experiência O primeiro contato com os alunos ocorreu na feira de ciências cujo tema foi “energia”. Os graduandos extensionistas organizaram uma apresentação, junto com o ACS e a Educadora Física, sobre a geração de eletricidade através de exercícios físicos utilizando dínamos, e explicando como uma alimentação saudável traz energia para o corpo.
Durante a apresentação, um dos alunos apontou para um cartaz com uma foto de várias frutas e verduras e comentou: “Nunca vou comer isso. Aqui na favela esse aqui nunca vi [aponta para uma fruta] e o outro é muito caro”. Naquele momento um graduando se emocionou e não conseguiu responder, se limitando a explicar que na ausência de determinada fruta ou legume ele poderia trocar por algum alimento mais acessível, ao que ele respondeu “Tio, aqui não tem nada barato não” deixando o universitário mais uma vez sem palavras.
Outra atividade foi uma aula interativa para uma turma do 9º ano sobre vida saudável ministrada por uma docente do IESC com a participação de um ACS.
Na atividade, foi solicitado aos alunos escrever o que consideravam uma vida saudável. As respostas foram variadas, desde “comer legumes e verduras” a “ter uma mente boa com pensamentos bons, pro seu psicológico ficar bem!”, respostas relacionadas com a saúde mental foram recorrentes. Os alunos declararam ter escrito o que não praticavam, mas desejavam alcançar.
Objetivo e período de Realização Apresentar as dificuldades, potencialidades e aprendizados decorrentes da interação entre graduandos e professores de saúde coletiva juntamente com profissionais de saúde da família ao desenvolverem atividades com adolescentes, visando a promoção da saúde, em uma escola municipal, , no período de 2022 a 2023, e como essa interação pode contribuir para uma visão mais humanística e acurada da realidade de pessoas em vulnerabilidade.
Resultados A intersetorialidade é um dos eixos operacionais da Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) e envolve a mescla e a coordenação de saberes distintos, habilidades e experiências de várias pessoas, grupos e setores da sociedade. Esse processo visa desenvolver intervenções colaborativas, promovendo a criação de laços entre os envolvidos.
Além disso, implica na gestão conjunta das ações, de modo que haja sinergia para alcançar objetivos comuns. Fortalecendo a cooperação, tornando as soluções mais abrangentes e sustentáveis.
Graças às ações realizadas em parceria foi possível ver a situação por várias óticas, permitindo o planejamento e prática de atividades que abrangiam diversos tipos e áreas do saber, favorecendo a comunicação com os alunos e aumentando nossa compreensão quanto às suas necessidades, formas de se expressar e modo de vida.
Além disso, muito embora a CFVF e a EMJB estejam próximas, elas não possuíam uma articulação que fosse além do PSE, ou seja, a diretoria não conseguia articular com a Clínica idas à escola quando surgia determinada demanda, como por exemplo a saúde mental dos escolares. A partir da parceria com o IESC a escola passou a ter mais acesso à CFVF.
Aprendizado e Análise Crítica Por mais que a intersetorialidade traga resultados positivos e multifacetados, sua aplicabilidade não é muito fácil e pode até ser desanimadora. Por tratar-se de três instituições distintas, com diferentes agendas e fluxos, algumas vezes a comunicação era comprometida, dificultando o agendamento de visitas e reuniões até que haja uma data em comum a todos os participantes. Uma estratégia utilizada para mitigar esse problema foi a criação de grupos no aplicativo Whatsapp para adiantar pequenas decisões acerca do projeto.
Além disso, muito embora a academia conceda uma base teórica rica e sólida, apenas com a prática podemos perceber que a realidade pode ser muito mais complexa. Felizmente, o processo de formação de um sanitarista permite o contato com diversos cenários de prática desde o começo da graduação, passando por diversos tipos e níveis de serviços de saúde, desde a atenção básica até o nível central. Essa visão permite que o sanitarista possa planejar (macro ou micro) políticas de saúde capazes de alcançar variados estratos sociais.
Em suma, a intersetorialidade é uma estratégia crucial para o sanitarista, capaz de enriquecer debates, esclarecer visões e fortalecer intervenções. Ao integrar diferentes perspectivas e saberes, promove abordagens mais holísticas e eficazes, facilitando a elaboração de soluções abrangentes para a saúde coletiva.
Referências CARMO, M. E. DO .; GUIZARDI, F. L.. Desafios da intersetorialidade nas políticas públicas de saúde e assistência social: uma revisão do estado da arte. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 27, n. 4, p. 1265–1286, out. 2017.
Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS). MINISTÉRIO DA SAÚDE. Brasília, 2018. Disponível em https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_promocao_saude.pdf. Acessado dia 18 de Maio de 2024.
Schneider, Stéfani Almeida, Magalhães, Cleidilene Ramos e Almeida, Alexandre do Nascimento. Percepções de educadores e profissionais de saúde sobre interdisciplinaridade no contexto do Programa Saúde na Escola. Interface - Comunicação, Saúde, Educação [online]. v. 26 [Acessado 19 de Maio de 2024] , e210191. Disponível em: . ISSN 1807-5762. https://doi.org/10.1590/interface.210191.
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