Roda de Conversa

05/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC2.11 - Conhecimento, pesquisa e saberes das populações vulnerabilizadas

52680 - RELATO DE EXPERIÊNCIA: A EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE E CIDADANIA POR MEIO DE AÇÕES NO PROGRAMA CORRA PRO ABRAÇO.
VANESSA DA SILVA DE JESUS SANTOS - EBMSP, ISABELA SILVA REIS DE SANTANA - EBMSP, CLARA DE ARAÚJO E SOUZA - EBMSP, JÚLIA CARVALHO MEIRA CORDEIRO - EBMSP, JULIANA COSTA DOS SANTOS - EBMSP, ROBERTA LUCIANA RODRIGUES BRASILEIRO DE CARVALHO - EBMSP


Contextualização
A Educação Popular consiste em uma concepção política, pedagógica e social, que tem como ponto de partida a realidade de vida das pessoas e como princípios fundamentais: a escuta, o diálogo, a problematização da realidade, a ação-reflexão-ação, o respeito e a valorização dos saberes e práticas dos atores envolvidos, a amorosidade (FREIRE, 1987; 1996). Ocorre em diferentes espaços de vivências e de aprendizagens, para a construção coletiva do conhecimento, democracia, solidariedade, emancipação e justiça social (MENEZES & SANTIAGO, 2014; VASCONCELOS, VASCONCELOS, SILVA, 2015; FREIRE, 1987; 1996). Foi incorporada pela área de saúde no final da década de 1970, denominada como Educação Popular em Saúde (EPS), e passou a orientar as relações entre as pessoas das comunidades e os profissionais de saúde, proporcionando diálogo e construção compartilhada dos processos de cuidado em saúde, com foco na promoção da saúde. A Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (Bahiana), em Salvador-BA, desenvolve atividades educativas em saúde em diversos contextos sociais/instituições, por meio do Componente Curricular Prática Interprofissional em Saúde (PIS), que tem como referencial teórico e metodológico a EPS. Esse componente reúne estudantes da graduação numa perspectiva interprofissional, potencializando uma formação ética e humana e a responsabilidade social da universidade.

Descrição da Experiência
Foram desenvolvidas atividades de extensão universitária, na perspectiva da educação popular em saúde, entre estudantes do Componente Curricular PIS da Bahiana e assistidos do Programa Corra pro Abraço, pessoas em situação de rua, na sede do Programa localizada na cidade de Salvador. O Programa é uma iniciativa do Governo do Estado da Bahia, que tem como objetivo promover a garantia de direitos, de cidadania e do incentivo à prática de redução de danos para pessoas que vivem em contextos de vulnerabilidade, de forma que os assistidos se beneficiem do Sistema único de Saúde (SUS), à assistência social e à regulamentação jurídica. As ações tiveram como foco o diálogo e o compartilhamento de conhecimentos e experiências sobre saúde e políticas públicas, a partir da escuta das temáticas sugeridas pelos integrantes da comunidade. Assim, foram abordadas questões relacionadas ao direito à saúde, ao envelhecimento saudável, à relação da saúde com a moradia e o trabalho, à redução de danos na perspectiva do uso de substâncias psicoativas, à saúde mental e à importância da mobilização social e luta coletiva para a garantia dos direitos da população em situação de rua. As atividades foram desenvolvidas, semanalmente, por meio de encontros entre os assistidos e as estudantes dos cursos de graduação em saúde da Bahiana (psicologia, medicina, odontologia e biomedicina).


Objetivo e período de Realização
Desenvolver ações de educação popular em saúde, com foco no diálogo e reflexão crítica sobre os determinantes sociais do processo saúde-doença-cuidado, buscando-se contribuir com a promoção da saúde da população em situação de rua e uma formação profissional em saúde mais ética, humana, crítica, interprofissional e compromissada com a garantia do direito à saúde e a cidadania. O período de realização da experiência foi de abril a junho de 2024.


Resultados
A experiência se resumiu em oito encontros, com duração média de 80 minutos cada, com a presença da professora/orientadora, a partir de planejamentos elaborados previamente, conforme as demandas norteadas pela comunidade. A participação dos assistidos foi de forma voluntária e de assiduidade variada. Os momentos realizados tiveram uma média de 14 pessoas participantes, sendo estes adultos e idosos de ambos os sexos. Utilizou-se o método da roda de conversa nos encontros, recorrendo-se a estratégias como apresentação de imagens, vídeos e músicas relacionados aos temas escolhidos, além de perguntas geradoras, que possibilitaram a sensibilização e o estímulo para o diálogo e problematização, de forma lúdica e interativa. Os resultados observados a partir das ações incluíram: a ampliação dos conhecimentos dos assistidos em relação a temas diversos da saúde; o desenvolvimento da consciência dos membros da comunidade acerca da importância da mobilização social para o acesso à direitos, incluindo a saúde; a compreensão das iniquidades no acesso aos serviços públicos, concomitantemente à necessidade de recorrer ao asseguramento da garantia dos direitos dos assistidos enquanto cidadãos.


Aprendizado e Análise Crítica
Conclui-se que houve aprendizado significativo sobre o papel da prática interprofissional como fator diferencial para o alcance de uma atenção à saúde integral e efetiva, que reconhece as interseccionalidades no que tange a aspectos biopsicossociais. Além disso, foi possível a construção horizontal e crítica do conhecimento, entendendo que há formas de comunicação e recursos adequados ao desenvolvimento do diálogo para cada público, de modo a fomentar a ecologia de vivências e saberes. Observou-se a potencialidade das atividades realizadas com os participantes, relacionada ao incentivo à emancipação social dos sujeitos, por meio da escuta, diálogo e problematização dos determinantes sociais do processo saúde-doença-cuidado. Nesse viés, refletiu-se sobre estratégias individuais e coletivas de enfrentamento às situações de vulnerabilidade, visando à promoção da saúde. Essa experiência possibilitou a percepção de que a assistência nos serviços públicos de saúde na cidade de Salvador ocorre de forma precária e forjada numa estrutura historicamente construída sob bases discriminatórias e excludentes. Assim, para humanizar e dignificar o atendimento à população em situação de rua, é necessária uma atuação ética e responsável dos gestores e profissionais da saúde pública, bem como da sociedade civil, com vistas à concretização dos princípios básicos do SUS.

Referências
BRASIL. Política Nacional de Extensão Universitária. Fórum de Pró-Reitores das Instituições Públicas de Educação Superior Brasileiras. 2012.
FREIRE P. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1987.
FREIRE P. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, Coleção Leitura, 1996.
MENEZES MG, SANTIAGO ME. Contribuição do pensamento de Paulo Freire para o paradigma curricular crítico-emancipatório. Pro-Posições, v. 25, n. 3 (75), p. 45-62, set.- dez., 2014.
VASCONCELOS EM, VASCONCELOS MOD, SILVA MO. A contribuição da Educação Popular para a reorientação das práticas e da Política de Saúde no Brasil. Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, v. 24, n. 43, p. 89-106, jan./jun. 2015.
WIJK LBV, M NGIA EF. Atenção psicossocial e o cuidado em saúde à população em situação de rua: uma revisão integrativa. Ciência & Saúde Coletiva, v. 24, n. 9, p. 3357–3368, set. 2019.


Realização:



Patrocínio:



Apoio: