Roda de Conversa

05/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC2.11 - Conhecimento, pesquisa e saberes das populações vulnerabilizadas

50479 - ESTÁGIO PARA RESIDENTES E EGRESSOS EM SERVIÇOS DE SAÚDE EM LOCALIDADES RURAIS RIBEIRINHAS COMO ESTRATÉGIA PARA QUALIFICAR E FIXAR PROFISSIONAIS NA AMAZÔNIA.
CAMILA ROSE GUADALUPE BARCELOS - HOSPITAL SÍRIO LIBANÊS, RODRIGO WILSON DE SOUZA - HOSPITAL SÍRIO LIBANÊS, EDUARDO CERVI CANESSO - HOSPITAL SÍRIO LIBANÊS, DUANE RODRIGUES BATISTA - HOSPITAL SÍRIO LIBANÊS, AMANDIA BRAGA LIMA SOUSA - HOSPITAL SÍRIO LIBANÊS, RITA DE CASSIA PENETTA ASAFU - HOSPITAL SÍRIO LIBANÊS


Contextualização
Iniquidades na distribuição dos recursos humanos em saúde no Brasil têm sido registradas em vários estudos (Campoy et al., 2021). Na Amazônia, entre os anos 2017 e 2019, a relação de médicos por habitante era metade daquela observada no resto do país. Além dessa presença desigual de médicos quando comparada ao restante do país, a Amazônia Legal apresenta, dentro do seu próprio território, desigualdades entre as capitais e os demais municípios. Nesse mesmo período, a razão entre o número de médicos por mil habitantes atuando em capitais versus demais municípios na Amazônia Legal chegava a 3,15 (2,05 vs 0,65), enquanto na região Sudeste a razão era de 1,99 (Rocha et al., 2021). Em áreas rurais e remotas, uma das estratégias consideradas mais relevantes para a superação desse desafio é a exposição, durante a formação, a currículos que contemplem estágios rurais e o desenvolvimento de oportunidades regionais de formação de pós-graduação (Battye et al., 2019). Em razão disso, este relato considerou relevante produzir conhecimentos sobre a implantação de um estágio voltado para residentes de cursos de saúde e egressos em localidades em áreas rurais e remotas desta região, que privilegiou a atuação desses estagiários diante de populações do campo, floresta e águas (CFA) e povos e comunidades tradicionais (PCTs).


Descrição da Experiência
O estágio foi implantado no ano de 2023 pelo Hospital Sírio-Libanês por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS) e foi realizado em sete municípios amazônicos, sendo cinco deles no Amazonas e dois no Amapá. Ao todo, participaram 146 estagiários, sendo 100 residentes e 46 egressos de diversas áreas da saúde e oriundos de diversas regiões do país. Durante a vivência, os estagiários tiveram a oportunidade de acompanhar e participar de ações realizadas pelos diversos modelos de serviços de atenção primária nas áreas rurais desses municípios. O estágio iniciou com uma seleção realizada por meio de edital, que privilegiou a escolha de residentes e egressos com formação e experiência na área da saúde pública. Em seguida, os estagiários passaram por um processo de formação e, após isso, permaneceram por 30 dias atuando nos municípios. Durante esse período, foram acompanhados semanalmente por consultores e orientados a fazer o registro dos atendimentos realizados, tanto de forma quantitativa quanto qualitativa, o que compreendia o registro diário das suas impressões e principais aprendizados. Ao final, apresentaram um trabalho final e participaram de uma avaliação que buscava entender como tinha sido a experiência, quais os desafios e os ganhos para sua formação.


Objetivo e período de Realização
O estudo teve como objetivo relatar a experiência de implantação de um estágio em áreas rurais remotas amazônicas, voltado para a formação de residentes e egressos, como estratégia para a fixação de profissionais de saúde nessas localidades. As experiências aqui relatadas referem-se ao ano de 2023, iniciadas em janeiro e finalizadas em outubro do referido ano.


Resultados
Foram analisados os registros dos diários de campo preenchidos pelos estagiários, formulários das avaliações e apresentação do trabalho final. O estudo se baseou em dados quantitativos e qualitativos, sendo esses últimos analisados com o uso da metodologia da análise de conteúdo, com auxílio do software Maxqda 2022. No total, o estágio contabilizou 18.623 atendimentos, com destaque para consulta de orientação, prescrição e/ou entrega de medicamentos, que correspondia a 23,8% da maioria dos atendimentos. Destacam-se ainda os atendimentos diante das especificidades amazônicas, como o caso de contato com doenças infecciosas típicas da região, que contabilizaram 497 atendimentos registrados como "doenças infecciosas, exceto DST". Nos registros também foi possível identificar vivências específicas de áreas remotas, como a realização de um parto prematuro em ambulancha. A análise qualitativa da avaliação do estágio identificou quatro categorias predominantes: conhecimento sobre a região amazônica, mudanças nos processos de trabalho, compreensão do seu papel no sistema de saúde e crescimento pessoal e profissional.


Aprendizado e Análise Crítica
A experiência mostrou resultados promissores na possibilidade de fixação de profissionais de saúde na região, na medida em que funciona de forma contextualizada e amplia os conhecimentos sobre a atuação dos profissionais de saúde com foco na atenção primária. Isso possibilitou um contato com a atuação de serviços de saúde para residentes e egressos de áreas diversas, que, na maioria das vezes, nunca tinham tido contato com a região amazônica. Nesse sentido, o estágio contribuiu para desmistificar conhecimentos distorcidos sobre a região, aproximar os estagiários da cultura local e sensibilizá-los diante da importância da presença de profissionais de saúde na região, com a possibilidade de contribuir para a qualidade de vida das pessoas locais. Um fator fundamental para uma maior satisfação dos estagiários foi o fato de eles optarem pela realização do estágio, não sendo algo obrigatório, o que possibilitou que aqueles que já apresentavam interesse em atuar na região amazônica pudessem ter a oportunidade de um contato mais próximo com as especificidades existentes nos diversos contextos da região amazônica, tornando o que era apenas um interesse e curiosidade em uma possibilidade mais concreta de um futuro vínculo.


Referências
1. CAMPOY, Laura Terenciani et al. A distribuição espacial e a tendência temporal de recursos humanos para o Sistema Único de Saúde e para a Saúde Suplementar, Brasil, 2005 a 2016. Epidemiologia e Serviços de Saúde, Brasília, v. 29, n. 2, e2018376, 2020.

2. ROCHA, R.; CAMARGO, M.; FALCÃO, L.; SILVEIRA, M.; THOMAZINHO, G. A Saúde na Amazônia Legal: Evolução Recente e Desafios em Perspectiva Comparada. Amazonia 2030, 2021.

3. BATTYE, K.; ROUFEIL, L.; EDWARDS, M.; HARDAKER, L.; JANSSEN, T.; WILKINS, R. Strategies for increasing allied health recruitment and retention in Australia: A Rapid Review. Services for Australian Rural and Remote Allied Health (SARRAH), 2019.

Fonte(s) de financiamento: Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde ( PROADI-SUS)


Realização:



Patrocínio:



Apoio: