05/11/2024 - 13:30 - 15:00 RC2.11 - Conhecimento, pesquisa e saberes das populações vulnerabilizadas |
48719 - "A CABEÇA PENSA ONDE O PÉ PISA": CAMINHADAS GUIADAS COMO FERRAMENTA PARA PENSAR PROCESSOS DE VULNERABILIZAÇÃO. ANDRÉIA LUCIANE SOL SOUZA - INSTITUTO RENÉ RACHOU, FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, TIAGO FILIZZOLA LIMA - INSTITUTO RENÉ RACHOU, FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, PALOMA COELHO - INSTITUTO RENÉ RACHOU, FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, ZÉLIA MARIA PROFETA DA LUZ - INSTITUTO RENÉ RACHOU, FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ
Contextualização “A cabeça pensa, onde o pé pisa”: essa frase é muito utilizada pelos movimentos populares e reafirma a importância de percorrer e conhecer o território.
Conhecer o território para pensar ações de promoção à saúde a partir da mobilização social para o enfrentamento da dengue, zika e chikungunya é um dos objetivos do projeto de pesquisa “Vamo Junto? Enfrentando a dengue, zika e Chikungunya” que é uma proposta de vigilância em saúde de base territorial em Minas Gerais.
O projeto consiste na formação de comitês populares para definir e implementar estratégias participativas para o reconhecimento, análise e discussão sobre território, visando à elaboração de diagnóstico da situação de saúde e das condições de vida e de planos de ação para o enfrentamento das doenças mencionadas, que são socialmente determinadas. (Coelho et al., 2023). O presente relato diz respeito ao exercício de reconhecimento territorial a partir da realização de duas caminhadas guiadas por membros do Comitê Popular (CP) do Bairro Duque de Caxias, Betim, MG.
O bairro Duque de Caxias apresenta alta incidência de dengue e chikungunya e problemas de saneamento básico. Fatores que se agravam com as enchentes e deslizamentos, como o ocorrido em 2020, que fez quatro vítimas fatais.
Descrição da Experiência As caminhadas ocorreram em dois dias, com a participação de membros do CP, que elaboraram o percurso e locais a serem visitados, e equipe do projeto de pesquisa do “Vamos Junto?”.
No 1º dia, o percurso foi realizado a pé e teve o seguinte itinerário: 4 casas de moradores, Paróquia São João Bosco, centro comercial, curso d‘água, ocupação de moradores, Praça Viena, áreas de mata, de risco geológico, de descarte inadequado de lixo e de encosta desprotegida.
No 2º dia, o percurso, feito a pé e de carro, teve como itinerário: obras de pavimentação de ruas, fazendas, pontos de descarte inadequado de lixo, curso d’água, rua construída com recursos dos moradores e a casa de uma moradora.
As caminhadas envolveram paradas nos pontos mais relevantes para os moradores, contextualização sobre os locais, diálogos e registros fotográficos. Destacamos a visita ocorrida na Praça Viena: lá, verificamos que não havia bancos e intervenções de paisagismo. Diante disso, o grupo problematizou a realidade, moradores mais antigos discorreram sobre os diferentes usos daquele lugar, e aventaram intervenções possíveis para melhorar aquela situação. Já na casa dos/as moradores/as, fomos acolhidos/as com um lanche e aproveitamos para saber um pouco da história de vida de cada um/a.
Objetivo e período de Realização Relatar as caminhadas guiadas, realizadas no bairro Duque de Caxias/Betim, nos dias 24 de junho e 03 de setembro de 2023, e pensar como esse tipo de atividade pode contribuir para refletir sobre os processos de vulnerabilização no território e as conexões com os processos de saúde/doença.
Resultados A partir das caminhadas foi possível:
- Conhecer o território e suas particularidades sob a ótica dos moradores e obter elementos que colaboram para pensar nos processos de vulnerabilização a que estão expostos/as.
- Realizar levantamento de situações que podem subsidiar debates conjunturais que problematizam e historicizam a produção social da vulnerabilidade (Acselrad, 2011).
- Identificar a precária infraestrutura local e a ausência de espaços de cultura e de lazer. Ainda, foram identificados pontos de descarte inadequado de lixo e terrenos vagos, potenciais criadouros de vetores.
Aprendizado e Análise Crítica Os problemas relatados pelos moradores e identificados durante a caminhada no território apontam para negligência do poder público com os diferentes espaços visitados. Esse processo de vulnerabilização afeta diretamente a vida da população, que é exposta a uma série de riscos, como a alta incidência de casos de arboviroses, os deslizamentos de terra, problemas de acesso à saúde, educação e outros serviços básicos.
Para Acselrad (2011), a vulnerabilização é um processo histórico e a vulnerabilidade decorre de uma relação também histórica entre diferentes segmentos sociais. Segundo o autor, sua superação envolve compreender e atuar sobre os mecanismos que tornam sujeitos e coletivos vulneráveis e não individualizar suas condições de vulnerabilidade.
Nesse sentido, os Comitês Populares e as atividades diagnósticas no território podem contribuir para a problematização dos desafios enfrentados pelos moradores. Portanto, tais atividades compõem um esforço de estimular a tomada de consciência coletiva acerca dos processos de vulnerabilização e de possíveis ações para romper com os “circuitos de vulnerabilidade” (Acselrad, 2011).
Referências ACSELRAD, Henri. Lógicas e práticas sócio-políticas que ampliam a vulnerabilidade social: o papel da pesquisa. 2011. Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2011/12/Vulnerabilidades_-_Henri_Acselrad.pdf. Acesso em: 02 mai. 2024.
COELHO, Paloma; BATISTA, Júlia Vargas; PROFETA, Zélia. Relevância das redes sociais na mobilização social para o enfrentamento de arboviroses no Município de Betim, Minas Gerais, Brasil. Cad. Saúde Pública, [s. l.], v. 39, ed. 7, p. 1-13, 17 jul. 2023.
Fonte(s) de financiamento: As/Os autoras/es agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), pelo apoio financeiro por meio da Chamada FAPEMIG 13/2023 - Participação coletiva em eventos de caráter técnico-científico no país.
|
|