05/11/2024 - 13:30 - 15:00 RC2.11 - Conhecimento, pesquisa e saberes das populações vulnerabilizadas |
48701 - CUIDADO ENTRE PARES: A IMPORTÂNCIA DA VALORIZAÇÃO DOS SABERES DAS ´POPULAÇÕES VULNERABILIZADAS SOBRE A PRÓPRIA SAÚDE MARIA CECÍLIA ASSIS ARAÚJO - FIOCRUZ MINAS, PALOMA FERREIRA COELHO SILVA - FIOCRUZ MINAS, RÔMULO PAES DE SOUSA - FIOCRUZ MINAS
Apresentação/Introdução O cuidado é uma dimensão fundamental da vida humana, que foi transformado em estratégias biopolíticas de governo da vida e regulação das populações, valorizando determinados saberes em detrimento de outros (Nespoli et al, 2020). Dessa forma, muito se perdeu ao desconsiderar o conhecimento criado a partir das experiências de vida e, consequentemente, basear o cuidado em conhecimentos exclusivamente técnicos e científicos. A partir disso, entende-se a importância de incluir os saberes das populações sobre a própria saúde e a própria vida para a construção de um cuidado que seja efetivo.
O cuidado de pessoas com experiências de vida parecidas, conhecido como cuidado entre pares, é uma estratégia utilizada em diversos contextos para o auxílio de pessoas que estão passando por situações de vulnerabilidade. Essencialmente, a diferença entre o cuidado de pares e outras formas de cuidado está no fato de que o conhecimento de tais cuidadores está atrelado às suas respectivas experiências de vida e não apenas à educação formal. Pares normalmente compartilham características sociodemográficas e apresentam similaridades relacionadas ao território em que vivem, à identificação racial, à identidade de gênero, ao passado familiar, entre outros fatores que possibilitam a proximidade entre as experiências de vida (Fuhr et al., 2014).
Objetivos O presente trabalho pretende apresentar um panorama a respeito das produções acadêmicas nacionais que tratam do cuidado entre pares a partir do entendimento de que ele se configura internacionalmente como uma importante tecnologia de cuidado (Mead, Macnail, 2004; Puschner et al., 2019). Além disso, auxilia no enfrentamento das iniquidades no acesso, promove vínculos entre trabalhadores e usuários e reforça a importância do saber das populações vulnerabilizadas sobre a própria saúde.
Metodologia Trata-se de um estudo de revisão narrativa, cuja pergunta norteadora foi: “Como o cuidado entre pares no contexto da saúde é pensado no Brasil?”. Para responder a esse questionamento, foi realizado um levantamento bibliográfico nas plataformas Scielo, Pubmed e Lilacs durante os meses de abril/2024 e maio/2024 com os termos “cuidado entre pares”, “cuidado de pares”, “suporte entre pares”, “suporte de pares” e “peer support” AND “brazil”. Utilizando os termos em português não foi encontrado nenhum artigo nas plataformas escolhidas e com os termos em inglês foram encontrados 14 artigos na plataforma Pubmed e 5 na plataforma Lilacs. A partir da falta de publicações nessas plataformas, realizou-se uma pesquisa no Google Acadêmico que identificou 78 publicações em português. Dessas publicações, foram incluídas aquelas que estavam completas e com acesso livre; disponíveis em português, inglês ou espanhol e com resultados referentes ao Brasil. Foram excluídas, publicações repetidas; artigos de revisão de literatura e notas técnicas. Dessa forma, restaram 10 artigos e uma tese a serem analisados.
Resultados e Discussão As publicações encontradas com resultados referentes ao Brasil a respeito do cuidado entre pares em saúde são relacionadas, principalmente, às populações vulnerabilizadas, sendo elas: população LGBT, pessoas em situação de rua, pessoas em sofrimento mental e seus familiares. Foram analisados 10 artigos e uma tese. Os temas relacionados ao cuidado entre pares foram: saúde mental na universidade, estratégia de matriciamento, recovery em saúde mental, gestão autônoma da medicação, redução de danos, uso prejudicial de álcool e outras
drogas, juventudes e estigma. Um dos artigos discute a relação entre os saberes científicos e os saberes cotidianos. Todos os trabalhos analisados identificam o cuidado entre pares como uma importante ferramenta de cuidado, principalmente no que diz respeito às populações vulnerabilizadas e às pessoas em sofrimento mental.
Uma das hipóteses a respeito da escassez de trabalhos encontrados é a existência de publicações que abordam o cuidado entre pares, mas não utilizam esse termo. Agentes comunitários de saúde e redutores de danos com experiência vivida são exemplos de estratégias de cuidado entre pares utilizadas no sistema único de saúde que muitas vezes não são reconhecidas como tal. Ainda assim, identifica-se a necessidade de uma maior investigação a respeito do cuidado entre pares que, apesar de ser um tema relevante internacionalmente, é pouco discutido no Brasil.
Conclusões/Considerações finais Nos últimos anos, as práticas de saúde têm passado por uma crise de legitimação que resultou no surgimento de diversas propostas para sua atualização. Uma delas é o cuidado entre pares, que se apresenta como uma intervenção clínico-política que reforça a importância do desenvolvimento da autonomia e do protagonismo dos usuários dos serviços de saúde em relação aos seus próprios tratamentos. Pode ser considerado uma estratégia e movimento político que visa ao cuidado centrado no usuário, levando em consideração suas necessidades, perspectivas e valores. As publicações nacionais analisadas na revisão e as revisões de literatura internacionais indicam o cuidado entre pares como importante ferramenta de cuidado, principalmente no que diz respeito ao cuidado em saúde mental. Os resultados apontam para a necessidade de promover e fortalecer iniciativas de cuidado entre pares no Brasil, reconhecendo seu potencial para reduzir desigualdades no acesso à saúde e fortalecer vínculos comunitários.
Referências NESPOLI, G. et al.. Por uma pedagogia do cuidado: reflexões e apontamentos com base na Educação Popular em Saúde. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, v. 24, p. e200149, 2020.
FUHR, D. C., et al. Effectiveness of peer-delivered interventions for severe mental illness and depression on clinical and psychosocial outcomes: a systematic review and meta-analysis. Social psychiatry and psychiatric epidemiology, 49(11), 1691–1702. https://doi.org/10.1007/s00127-014-0857-5. 2014
PUSCHNER, B., et al. Using Peer Support in Developing Empowering Mental Health Services (UPSIDES): Background, Rationale and Methodology. Annals of global health, 85(1), 53. https://doi.org/10.5334/aogh.2435, 2019
MEAD, Shery, MACNAIL, Cheryl - Peer Support: What Makes It Unique? (2004).
Fonte(s) de financiamento: As/Os autoras/es agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), pelo apoio financeiro por meio da Chamada FAPEMIG 13/2023 - Participação coletiva em eventos de caráter técnico-científico no país.
|
|