05/11/2024 - 13:30 - 15:00 RC2.11 - Conhecimento, pesquisa e saberes das populações vulnerabilizadas |
48687 - PROJETO PRIMAVERA – INTEGRANDO ENSINO E ASSISTENCIA NO SUS CAROLINA PERROUD DE MATOS - HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE BAURU, FACULDADE DE MEDICINA DE BAURU – FMBRU-USP, THAIS NOGUEIRA ATAIDES - FACULDADE DE MEDICINA DE BAURU – FMBRU-USP, GIOVANNA NEY QUEVEDO - FACULDADE DE MEDICINA DE BAURU – FMBRU-USP, MAYLLA RODRIGUES DE OLIVEIRA - FACULDADE DE MEDICINA DE BAURU – FMBRU-USP, ISABELA MARIA DOS SANTOS - FACULDADE DE MEDICINA DE BAURU – FMBRU-USP, ISABELA ALVES CAMPOS ALCON - FACULDADE DE MEDICINA DE BAURU – FMBRU-USP, MARIA GORETE TEIXEIRA MORAIS - FACULDADE DE MEDICINA DE BAURU – FMBRU-USP, MARCOS ANTONIO MARTON FILHO - FACULDADE DE MEDICINA DE BAURU – FMBRU-USP, RODRIGO CARDOSO DE OLIVEIRA - FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE BAURU - FOB-USP, LUIZ FERNANDO FERRAZ DA SILVA - FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - FMUSP
Contextualização
Um contingente expressivo da população brasileira vive em assentamentos precários, termo cunhado pela Política Nacional de Habitação(1) destinado aos assentamentos urbanos. Esse estilo de vida inclui moradia inadequada e difícil acesso a políticas públicas básicas. Nestes grupos populacionais há sabidamente maior incidência de doenças (2,3), a alimentação é deficitária(4).
Em Bauru a Vila Cristiana é um assentamento que inicialmente se localizava no Jardim Marabá. Em 2019 após a reintegração judicial de posse do terreno original as 195 famílias foram desalojadas, submetidas a triagem social e foram viver provisoriamente na nova área localizada no Parque Primavera. O local foi então formalizado como assentamento e situa-se no terreno de um antigo aterro sanitário e ao lado de um cemitério. Apresenta moradias e infraestrutura urbana precárias, inúmeras dificuldades de acesso ao sistema de saúde.
Neste sentido, estudantes de medicina da FMBRU planejaram em 2021 um projeto contínuo nos moldes proposto por Dantas et al. e Silva et al(5,6), buscando desenvolver atividades de saúde focadas nas necessidades da população, priorizando o cuidado na lógica possibilidades de clínica ampliada e planejamento com base nos modos de vida das famílias, gestão compartilhada e investimento em capacitação permanente das equipes, além da integração das atividades às políticas do SUS
Descrição da Experiência
O Projeto teve início em 2021 desenvolvendo atividades até o momento. Ele foi desenvolvido nas seguintes etapas:
1 - Mapeamento e levantamento de demandas – através de visitas dos estudantes e profissionais foram feitos levantamento de informações sociais, econômicas e de determinantes de saúde, realizado o atendimento inicial em saúde e mapeamento de lideranças e suas correlações como uma teia social, e a partir disso a definição de atividades específicas para a etapa seguinte
2 - Atividades Específicas para atender as demandas levantadas incluindo atividades assistenciais pareadas com atividades educativas e de capacitação e também de integração com o sistema de saúde. Estas atividades abordaram diferentes aspectos como: Vacinação; Saúde cardiovascular; Planejamento familiar e DIU; Saúde infantil, Dificuldades de acesso à rede de saúde pública e outros serviços e Diabetes. Foram desenvolvidas também atividades nas áreas de saúde bucal e auditiva.
3 – A partir de cada uma destas ações, os resultados eram discutidos pela equipe e buscou-se a interface com a rede de saúde, particularmente a UBS Bela Vista, referência desta população, para integração das informações e planejamento de outras ações, além de seguimento no contexto da rede.
Todas as atividades foram desenvolvidas pelos estudantes da USP, supervisionados por médicos, com a participação de lideranças locais.
Objetivo e período de Realização
Desenvolver estratégias e atividades de atenção e educação em saúde, em parceria entre a USP, o SUS e a comunidade que possibilitem o desenvolvimento de saúde e bem-estar da população da Vila Cristiana e sua integração ao SUS. Como objetivos específicos destaca-se:
-Mapeamento das condições de saúde da população;
- Mapeamento das lideranças locais e interlocução;
- Definição conjunta e desenvolvimento das prioridades para atividades assistenciais e educativas.
O período de realização é de 2021 a 2024
Resultados
O mapeamento estrutural (2021-22) incluiu 115 núcleos familiares com 362 pessoas. Foram então definidas as prioridades para atividades assistenciais sempre com atividade educativa (AE) associada a saber:
Campanha de Vacinação contra influenza (2021) – Imunização de 80 moradores, in loco. AE: importância da imunização, incluindo para COVID-19.
Estratificação de Risco Cardiovascular (2022) – 85 pessoas identificadas se beneficiariam desta avaliação que foi feita in loco com um questionário, orientação médica e coleta de exames. 60 moradores aderiram à atividade e os resultados foram discutidos e também encaminhados para a UBS de referência. AE: hábitos de vida saudáveis.
Mutirão de DIU (2023) com inclusão de 25 DIUs em pacientes interessadas, em parceria com a UBS de referência. AE: planejamento familiar.
Preparação de Cartilha de Acesso ao SUS (2024) – com abordagem simples e direta sobre acesso ao SUS local e outros serviços públicos – distribuição nas casas com explicação pelos estudantes
Adicionalmente, percebeu-se como resultado qualitativo também o maior engajamento dos estudantes de medicina na identificação dos problemas reais e gargalos de acesso ao sistema de saúde.
Aprendizado e Análise Crítica
Um dos aprendizados importantes deste projeto é o potencial da integração entre a Universidade, a sociedade e suas lideranças, e o SUS no processo de promoção e atenção à saúde.
Foi possível mapear as condições de saúde de uma população vulnerável, importante não apenas para os moradores, mas para os profissionais de sua UBS de referência; possibilitou o acesso de forma mais rápida para conter parte da demanda reprimida; e ao mesmo tempo a busca de integração desta população à rede do SUS.
O impacto nos estudantes é crucial e estes passam a ter uma visão crítica importante das grandes desigualdades de acesso mesmo quando se considera uma cidade de alto IDH como Bauru.
Por outro lado, este processo tem seus desafios: a) o engajamento dos moradores é muito variável e depende de aspectos como interesse, percepção e disponibilidade. Assim, foi necessário aprimorar a comunicação, desenvolver atividades em horários alternativos, entre outros, mas isto ainda representa um grande desafio; b) a interlocução com os equipamentos do SUS nem sempre é rápida e fluida. Especialmente considerando as altas demandas já existentes, o que requer um grande trabalho de interlocução e convencimento não apenas para uso da estrutura, mas para participação dos profissionais.
Ainda assim, consideramos um modelo factível e positivo para apoiar o desenvolvimento de saúde em populações vulneráveis.
Referências
1 - BRASIL. Ministério das Cidades. Política Nacional de Habitação. Brasília, 2004. Disponível em: <>. Acesso em: 4/5/24.
2 - SCOPINHO, R. A. Condições de vida e saúde do trabalhador em assentamento rural. Ciência & Saúde Coletiva, v.15, p.1575-1584, 2010.
3 - CORDEIRO, Q.; EL KHOURI, M.; CORBETT, C.E. Dor musculoesquelética na atenção primária à saúde em uma cidade do Vale do Mucuri, nordeste de Minas Gerais. Acta fisiátrica, v.15, n.4, p.241-244, 2008.
4 - CASTRO, T. G. et al. Saúde e nutrição de crianças de 0 a 60 meses de um assentamento de reforma agrária, Vale do Rio Doce, MG, Brasil. Revista de Nutrição, v.17, p.167-176, 2004.
5 - DANTAS, A.C.M.T.V. et al. Relatos e reflexões sobre a Atenção Primária à Saúde em assentamentos da Reforma Agrária. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v.29, 2019.
6 - SILVA, L. F. F. da. Projeto Bandeira Científica: história, estratégias e resultados. Revista de Medicina, v.91, n.1, p.36-43, 2012.
Fonte(s) de financiamento: Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USPFundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São PauloPrograma Uniicado de Bolsas da USP
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