54295 - POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE PARA O CÂNCER NA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA WINI DE MOURA MIGUEL - ENSP/FIOCRUZ, JASMINE MENDONÇA DOS SANTOS DE OLIVEIRA - ENSP/FIOCRUZ, NADYLA CHAGAS RODRIGUES SANTANA - ENSP/FIOCRUZ, HIÔRRAN DA SILVA FREITAS DALCIN - ENSP/FIOCRUZ, ANA CAROLINA BARBOZA BRANDÃO - ENSP/FIOCRUZ
Apresentação/Introdução
A população em situação de rua representa um dos grupos mais vulnerabilizados em termos de saúde, enfrentando inúmeras barreiras para acessar serviços médicos e receber tratamento adequado. Entre as várias condições médicas que afetam essa população, o câncer se destaca devido à sua complexidade e à necessidade de intervenções médicas intensivas e contínuas. As neoplasias, ou cânceres, são responsáveis por uma carga significativa de morbidade e mortalidade, e sua gestão exige políticas públicas de saúde bem estruturadas e abrangentes. No entanto, a efetividade das políticas públicas de saúde direcionadas à prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer na população em situação de rua ainda é uma área que requer maior investigação e esclarecimento.
Objetivos
Analisar e sintetizar evidências disponíveis na literatura sobre políticas públicas de saúde relacionadas ao câncer na população em situação de rua. Identificar políticas públicas existentes que abordam o câncer nesta população; Avaliar sua eficácia em termos de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento; Determinar os principais desafios enfrentados por essa população no acesso a cuidados de saúde oncológicos; Propor recomendações para o desenvolvimento de políticas mais eficazes e inclusivas.
Metodologia
Este estudo seguiu a metodologia das diretrizes PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses). Utilizando as bases de dados PubMed, SciELO e LILACS, foram pesquisados artigos publicados até junho de 2024 com os descritores "Neoplasms", "Health Policy", "Homeless Persons", "Neoplasias", "Políticas Públicas de Saúde" e "Pessoas em Situação de Rua". Foram incluídos artigos que tratavam de políticas públicas de saúde relacionadas ao câncer em pessoas em situação de rua, com dados empíricos, revisões sistemáticas e meta-análises. Artigos não revisados por pares, estudos não focados em políticas de saúde e pesquisas com populações diferentes foram excluídos. A seleção dos estudos ocorreu em duas etapas: triagem dos títulos e resumos para elegibilidade e leitura completa dos artigos selecionados para confirmação da inclusão. A extração de dados foi conduzida por dois revisores independentes, com um terceiro revisor para resolver discrepâncias. Os dados extraídos abrangeram o desenho do estudo, populações estudadas, intervenções de políticas públicas, resultados e conclusões principais.
Resultados e Discussão
A revisão dos estudos revelou uma lacuna substancial no enfoque das políticas públicas de saúde direcionadas ao câncer na população em situação de rua. As políticas identificadas variaram consideravelmente em termos de estratégia e execução, refletindo as disparidades nos sistemas de saúde e nos contextos socioculturais. A análise destacou a falta de abordagens específicas nas políticas de saúde para alcançar e tratar eficazmente essa população marginalizada. Foram identificadas barreiras significativas, como a escassez de acesso a serviços de saúde primária, dificuldades na continuidade do tratamento, estigma e discriminação. Muitos desses indivíduos são diagnosticados em estágios avançados do câncer, o que agrava a complexidade do tratamento e prejudica os prognósticos. Estudos nos EUA e Europa ressaltaram a importância de programas de alcance comunitário, como unidades móveis de saúde e serviços de orientação. No Brasil, embora o SUS teoricamente atenda a essa população, na prática, a cobertura e qualidade dos serviços são insuficientes, com barreiras como falta de documentação e discriminação. Iniciativas como o Consultório na Rua têm mostrado sucesso, mas há necessidade de uma integração eficaz desses indivíduos ao sistema de saúde. A falta de dados específicos sobre a população sem-teto e o câncer é outro desafio, dificultando a formulação de políticas embasadas em evidências. É crucial investir em treinamento especializado para profissionais de saúde, a fim de abordar as necessidades únicas dessa população marginalizada.
Conclusões/Considerações finais
A revisão sistemática destaca uma lacuna crítica na literatura e nas práticas de saúde pública: a ausência de políticas públicas eficazes e inclusivas para o manejo do câncer na população em situação de rua. As barreiras identificadas requerem uma abordagem multifacetada que inclua: desenvolvimento de políticas específicas, programas de alcance comunitário, melhoria na coleta de dados e capacitação de profissionais de saúde. É essencial uma colaboração entre governos, organizações de saúde e comunidades para desenvolver estratégias sensíveis às complexas realidades vividas pela população em situação de rua. Apenas através de uma abordagem coordenada e inclusiva será possível melhorar os resultados de saúde e reduzir as disparidades enfrentadas por esses indivíduos.
Referências
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População em Situação de Rua: uma revisão integrativa. SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 46, N. 132, P. 227-239
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Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2012.
Wittenberg E, Bharel M, Saada A, Santiago E, Bridges JF, Weinreb L. Measuring the Preferences of Homeless Women for Cervical Cancer Screening Interventions: Development of a Best-Worst Scaling Survey. Patient. 2015 Oct;8(5):455-67.
Fonte(s) de financiamento: Não há
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