Roda de Conversa

05/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC2.10 - Cidadãos invisiveis: a saúde na rua

53172 - O PRECONCEITO COMO BARREIRA ENTRE A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA E OS SERVIÇOS DOS SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS): RELATO DE EXPERIÊNCIA
GISELE FERNANDA DE CARVALHO - SESAU


Contextualização
Esse trabalho foi sendo tecido a partir da minha experiência como residente do Programa Multiprofissional em Saúde Coletiva, através da Política de População em Situação de Rua (PSR), na Atenção Básica. Durante uma campanha nacional de vacina contra a gripe nos organizamos para realizar um mutirão de vacinação em uma praça onde havia um intenso fluxo de pessoas em situação de rua. Lá nos encontramos com uma mulher acometida por uma doença de fácil transmissão.

Descrição da Experiência
Durante um breve tempo pude acompanhar a coordenação distrital da Política de População em Situação de Rua, e observei durante algumas ações educativas de saúde relatos de PSR que tinham interesse em serem acompanhadas pela AB, muitos com cadastro no SUS, e que entendiam a importância de cuidado com a saúde física e mental, no entanto, a barreira de preconceitos construída pelos profissionais da equipe de saúde impedia esse acesso. Destaco que muitas das pessoas encontradas em situação de rua possuíam endereço e cadastro na USF, e que por diversos fatores se achavam naquele cenário, mais uma vez reforçando a importância de acolher essa população e buscar meios para melhorar a qualidade de vida delas.

Objetivo e período de Realização
O objetivo é compreender como o preconceito na saúde com a PRS pode impedir a inclusão deles na assistência em saúde e resultar, cada vez mais, na fragilidade da saúde coletiva, das políticas de saúde e do SUS. Período de Realização: Abril de 2024 até Maio de 2024.

Resultados
Como resultado, vou trazer uma situação da experiência da residência. Ao longo da campanha percebemos interesse da PSR em se vacinar. A ação estava ganhando uma grande visibilidade, muitas PSR vinham solicitar serviços oferecidos nas unidades de saúde, não mais focando na vacina. Então, apareceu uma mulher com sintomas nítidos de desnutrição e tuberculose, que, acompanhada do seu marido, pediu que a levássemos para uma emergência, pois sendo acompanhada pela nossa equipe ela seria atendida. Ele relatou que havia pedido atendimento a unidade de saúde, mas as falas dos profissionais eram: “Ela está toda suja, deveria procurar ajuda em outro lugar”, “Se ficar na sala de espera vai contaminar os outros usuários”, “Não tenho como atendê-la”, e assim seguiu, diversas falas preconceituosas que resultaram no não socorro a esta mulher, deixando-a mais vulnerável clinicamente, além de colocar em risco a saúde da população, visto que essa doença é de fácil transmissão e ela não ficaria muito tempo em um único lugar, a propagação seria muito maior. Ligamos para o SAMU e articulamos o socorro e o internamento dela. Evidenciando a fala inicial do marido sobre nosso papel na intervenção.

Aprendizado e Análise Crítica
Compreendendo o discurso de inclusão ao acesso à saúde vemos que essa população se tornou alvo de uma narrativa criminalizadora e preconceituosa. A garantia dos seus direitos são violadas quando um atendimento/socorro é negado, mostrando que mesmo previsto na lei as fragilidades relacionadas ao cumprimento da política são expostas, assim, exibindo como uma vitrine nas avenidas, praças e becos, o negligenciamento com esse público, que de tão visíveis se tornam invisíveis quando os olhares preconceituosos de quem poderia oferecer assistência sobressaem o bem estar da população. Além disso, o cenário se torna mais grave quando a saúde coletiva é negligenciada e a saúde da população fica comprometida e vulnerável. Como profissional de saúde, é importante que o olhar integral e inclusivo estejam presentes diariamente, também, o papel do Estado no monitoramento desta população, a fim de entender e diagnosticar quais as principais demandas e necessidades delas, incluindo-as efetivamente na política.

Referências
BRASIL, Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania. POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA. Plano de Ação e Monitoramento para Efetivação da Política Nacional para a População em Situação de Rua. Brasília, 2023.


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