Roda de Conversa

05/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC2.10 - Cidadãos invisiveis: a saúde na rua

53025 - O CUIDADO EM SAÚDE JUNTO À POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA: EXPERIÊNCIAS SOB OLHAR DE UM PROFISSIONAL DA MEDICINA NO NORDESTE BRASILEIRO
ANDRÉ LUIS MELO DOS SANTOS - UNEB, AMANDA MAGALHÃES SOUZA - UNEB


Contextualização
O Sistema Único de Saúde (SUS) é fundamentado em três grandes princípios: universalidade, integralidade e igualdade, sendo este último operacionalizado através da equidade. A equidade se refere à necessidade de fornecer recursos diferenciados para diversas populações e suas demandas de saúde. Nesse contexto, o Consultório na Rua (CnR) surgiu como um braço da Atenção Básica, com o objetivo de ampliar o acesso à saúde para a população em situação de rua (PSR). Apesar dos avanços proporcionados pelo CnR, a literatura atual destaca a necessidade de superar o preconceito e o estigma presentes em outros espaços de cuidado que não são especializados na PSR. As pessoas em situação de rua, muitas vezes invisibilizadas, são imediatamente reconhecidas em unidades de saúde do SUS por suas características físicas, culturais e sociais. Estudos indicam que muitos profissionais de saúde se sentem despreparados para atender às demandas da PSR, frequentemente reproduzindo estigmas originados do senso comum.

Descrição da Experiência
Este trabalho foi desenvolvido sob o formato de relato de experiência, dada sua relevância para estudos que visam refletir sobre a aquisição de conhecimentos e habilidades de maneira teórico-crítica. Para fundamentar as reflexões dos autores, foi realizada uma análise documental em bases de dados nacionais, como Scielo e BIREME. O pesquisador utilizou um caderno de anotações pessoais, no qual, semanalmente, registrava reflexões decorrentes de sua jornada de trabalho enquanto médico desta equipe, entre os meses de junho a dezembro de 2023. A equipe de Consultório na Rua relatada está vinculada ao Distrito Sanitário Centro Histórico, no município de Salvador, uma região que, historicamente, abriga pessoas em situação de rua há mais de 200 anos.

Objetivo e período de Realização
Este trabalho tem como objetivo refletir sobre a experiência de atuação de um médico de família e comunidade numa equipe de Consultório na Rua em Salvador, Bahia. Especificamente, busca discutir os deslocamentos subjetivos gerados pela vivência profissional nesse contexto. A experiência relatada se deu entre os meses de junho a dezembro de 2023.

Resultados
O fazer com a população em situação de rua contém algumas peculiaridades em relação ao dia a dia da atenção primária. Uma das principais atividades consiste na abordagem territorial, que pode ser entendida como a saída para conhecer o território em sua dimensão geográfica, mas também sua cultura, aspectos sanitários e ambientais, áreas de risco e violência. Em outros termos, nessa ação a equipe sai às ruas para realizar conversas com usuários específicos, ou para ficar um tempo no território, com atitude disposta a vinculação. É possível também realizar atividades coletivas de educação e promoção em saúde com esta população. Podemos fazer um paralelo desta ação com as visitas domiciliares, tão comuns na atenção básica tradicional.

Aprendizado e Análise Crítica
O autor observou que as pessoas em situação de rua enfrentam diversas limitações ao acessar unidades de saúde. Essas limitações incluem tratamento hostil, maus tratos, dificuldades na compreensão de suas demandas e linguagem, entre outros. Dutra destaca que a percepção dos profissionais de saúde sobre pessoas em situação de rua influencia significativamente o acesso dessa população ao Sistema Único de Saúde (SUS). Essa influência pode ser positiva, ampliando o acesso através do engajamento no trabalho vivo em ato, ou negativa, limitando-o devido ao reforço de estigmas e ao desconhecimento sobre abordagens adequadas para essa população. Foi possível perceber que o plano de cuidado oferecido na atenção básica tradicional não é suficiente para garantir o acesso adequado a esse público. A ausência de documentos pessoais, considerados básicos para a população em geral, representa barreiras significativas para o acesso das pessoas em situação de rua aos serviços de saúde. Essa constatação, identificada na experiência relatada, é corroborada pela literatura.

Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 122, de 25 de janeiro de 2011. Define as diretrizes de organização e funcionamento das Equipes de Consultório na Rua. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 26 jan. 2012.
CARNEIRO-JR, N.; NOGUEIRA, E. A.; LANFERINI, G. M.; AMED ALI, D.; MARTINELI, M. Serviços de saúde e população de rua: contribuição para um debate. Saúde & Sociedade, São Paulo, v. 7, n. 2, p. 47-62, 1998.
DO VALE, A. R.; VECHIA, M. D. O cuidado à saúde de pessoas em situação de rua: possibilidades e desafios. Estudos de Psicologia, Campinas, v. 24, n. 1, p. 42-51, 2019.
LANCETTI, A. Clínica Peripatética. 10. ed. São Paulo: Hucitec, 2016. 127 p.
SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. 7. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2007. 176 p. Disponível em: https://www.usp.br/miltonsantos/obras.html. Acesso em: 15 out. 2023.

Fonte(s) de financiamento: Nenhuma.


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