Roda de Conversa

05/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC2.10 - Cidadãos invisiveis: a saúde na rua

52829 - MULHERES NEGRAS EM SITUAÇÃO DE RUA: VULNERABILIZAÇÕES E RESISTÊNCIAS
ROBERTA GONDIM DE OLIVEIRA - ENSO/FIOCRUZ, LIDIANE BRAVO DA SILVA - ENSP/FIOCRUZ, SHARLLENE LIVIAN DIAS DA SILVA, MAYRA DA CRUZ HONORATO, ANA PAULA DA CUNHA, BARBARA OLIVEIRA DE PAULO


Apresentação/Introdução
O capitalismo em seus ciclos de desenvolvimento, atrelado ao racismo estrutural (Almeida, 2019), atualiza as dinâmicas de exclusão da população negra, que é historicamente apartada do direito à terra, à educação, sobretudo em níveis mais elevados, e, por resultante, ao emprego de melhor remuneração. Desta forma, a vulnerabilização deixa de ser problematizada quando atinge corpos historicamente colocados nestas condições, não sendo um caso isolado, é a forma que as opressões interseccionadas se revelam no cotidiano.
Ao presenciarmos a experiência de mulheres negras em situação de rua, nos deparamos com uma realidade próxima ao que Lélia Gonzalez (1984), reconhece como uma articulação dos marcadores sociais da diferença que produzem formas de opressão a partir do lugar social de cada sujeito. Uma força de aniquilação que se adapta, se molda, entre matrizes de opressão, impostas como categorias sociais e as relações de poder, que se organizam como formas de dominação.
Na rua, no sistema penitenciário, no manicômio, no tráfico, na chacina nas favelas, na miséria: são corpos, majoritariamente negros, sempre atingidos pelos multiplos tentáculos de opressão.

Objetivos
Fortalecer a análise interseccional nos princípios, diretrizes e relações que se estabelecem nos ambientes da saúde.
Reduzir a lacuna temporal existente entre o debate acadêmico na saúde coletiva e a realidade dos sujeitos que são o foco das políticas de saúde.
Apresentar como a estrutura racista se expressa no cotidiano de mulheres negras em situação de rua e de que forma experienciam estratégias de resistência contra muitas forças de opressão e subalternização.

Metodologia
Esta pesquisa é fruto do trabalho etnográfico realizado no território das favelas da Maré e de Manguinhos na cidade do Rio de Janeiro pelas autoras no âmbito da pesquisa intitulada “Marcador social de raça, acesso e cuidado à população negra em situação de rua na APS - em busca de formas colaborativas de produção de ‘saber-intervenção’ contra o racismo”.
Da riqueza da vivência que nos foi permitido ter, junto às pessoas em situação de rua abordaremos os encontros e trocas sobre o estar na rua e o do cuidado em saúde que tivemos com inúmeras mulheres em situação de rua, assim como a oficina "Os sentidos do estar na rua e o racismo sobre a mulher negra", num grande encontro em uma conexão dialógica, permeada pela dança afro e o debate sobre a condição sob a perspectiva da interseccionalidade.


Resultados e Discussão
Abordamos criticamente, em diálogo com o feminismo negro decolonial, as dinâmicas políticas e sociais subalternizantes de grupos populacionais, como as mulheres negras em situação de rua, problematizando o papel do Estado, da sociedade e da saúde, entendido como campo político, epistêmico, e de práticas.
Identificamos as formas como corpos negros, em específico o feminino, são vulnerabilizados através da invisibilização e apagamento da existência nos cuidados em saúde, assim como violados cotidianamente nas ruas.
Entendemos que as estratégias de sobrevivência e existência de mulheres negras nos diversos espaços de exclusão, em especial aos territórios das ruas, vis a vis aos encontros e práticas de saúde operadas neste cenário, proveem simbólica e materialmente os contornos de sua potência de agência e resistência

Conclusões/Considerações finais
A colonialidade (Quijano, 2005) cumpre em diversas dimensões a missão de manutenção das lógicas e estratégias de opressão, expropriação e acumulação. Á essas dimensões da colonialidade, Lugones (2020) acrescenta o construto social de gênero, produto da modernidade ocidental, enquanto uma imposição universalizante que cumpre com o objetivo de reproduzir as estruturas de poder entre camadas interseccionadas de opressão.
Esses marcadores sociais de desigualdades são manipulados em busca de uma naturalização justificada da supremacia branca masculina, que destitui aquelas/es produzidas como fora da categoria de sujeito, objetificando suas existências, sendo parte constitutiva de seus processo de sociabilidade e de subjetivação.
A contribuição do feminismo negro-indígena latino americano se coloca como importante referência, como voz insurgente contra colonial, naquilo que Lugones aponta como o agir nas fraturas da imposição colonial, da agência e enfrentamento em face às forças impositivas.

Referências
ALMEIDA, S. L. O que é racismo estrutural. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.
GONZALEZ, L. Racismo e sexismo na cultura brasileira. In: Revista Ciências Sociais Hoje, Anpocs, 1984, p. 223-244.
LUGONES, M. Colonialidade e gênero. In: HOLLANDA, H. B. (Org.). Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020.
QUIJANO, A. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina. In: A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais: perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, 2005.

Fonte(s) de financiamento: Esta pesquisa foi fomentada pelo Programa de Políticas Públicas, Modelos de Atenção e Gestão do Sistema e Serviços de Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (PMA/Fiocruz).


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