Roda de Conversa

05/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC2.9 - Acesso à saúde da população em situação de rua

53019 - A EXPERIÊNCIA DA MULTIPROFISSIONALIDADE NA CONSTRUÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE SUPERAÇÃO DAS BARREIRAS À PRÁTICA MÉDICA DO CONSULTÓRIO NA RUA
LUIZ GUILHERME LEAL FERREIRA FILHO - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SÉRGIO AROUCA / FIOCRUZ, ALINE AZEVEDO VIDA - SMS/RJ, DIONETE MENEZES DE BRITO FERREIRA - SMS/RJ, LUCIANA DUARTE DA SILVA - SMS/RJ, ANDRIS CARDOSO TIBÚRCIO - SMS/RJ


Contextualização
O presente relato analisa a prática médica exercida na equipe de Consultório na Rua (CnaR) da zona oeste do município do Rio de Janeiro (MRJ) sob o ponto de vista do pensamento decolonial latino-americano (MIGNOLO, 2010). Compartilhamos com outras eCnaR a convicção que a formação de nossa sociedade se deu a partir das violências do processo de colonização do Norte Global sobre as demais populações, incluindo aqui as ciências como campo de disputa de poder.
Assim defendemos a Clínica Ampliada (CLA) como um modelo de atenção baseado no conceito de saúde integral que representa um elemento inovador para a produção do cuidado na Atenção Primária à Saúde (APS).
Apesar de reconhecermos a influência do Paradigma Flexneriano na construção do referencial teórico da prática médica no mundo ocidental, as eCnaR frequentemente produzem experiências exitosas que rompem com esse paradigma.
Dessa forma optamos por basear nossa prática na produção científica da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, onde a avaliação a multiprofissionalidade dos CnaR é objeto de análise há mais de uma década BODSTEIN et al., 2017; ENGSTRON et al., 2019; FERREIRA FILHO, 2020; MONTEIRO, 2019).
Acreditamos na relevância dessas abordagens por validarem a ativa incorporação da práxis médica no exercício multiprofissional.


Descrição da Experiência
A eCnaR da Zona Oeste do Rio de Janeiro completou 10 anos de atuação em 2024 e ao longo desses anos vem amadurecendo seu processo de trabalho.
Trabalham em conjunto 9 profissionais, articulando as áreas de Enfermagem, Medicina, Terapia Ocupacional, Psicologia, Serviço Social e Agentes Sociais, acrescidos periodicamente de residentes em saúde mental e enfermagem. Juntos articulamos os princípios e diretrizes do SUS com as demais Políticas Públicas transversais convergentes contra a pobreza e exclusão social buscando promover uma visão ampliada do processo saúde-doença singular a cada caso.
No intuito de proporcionar a experiência de integralidade a eCnaR desenvolve atividades coletivas, distribuídas na agenda padrão de trabalho, ofertando convivência em Redução de Danos em áreas periféricas, reuniões intersetoriais de Direitos à saúde LGBTT, práticas integrativas (PICS), matriciamento e educação continuada para a APS além de acompanhamento territorial para casos complexos. Essas atividades são discutidas em reunião de equipe, buscando articular as ações e atores com os demais equipamentos do território, não permitindo que a burocracia imobilize as práticas de cuidado.


Objetivo e período de Realização
Descreva as experiencias da multiprofissionalidade na construção de estratégias coletivas de superação frente às principais barreiras à prática médica do Consultório na Rua, sob a perspectiva emancipatória da Clínica Ampliada.
Período: 2021 a 2024


Resultados
A literatura indica que as barreiras incluem perspectivas advindas dos demais profissionais da equipe, provavelmente como fruto do exercício da clínica ampliada, sendo descritas como barreiras de acesso (FERREIRA FILHO, 2020; NATALINO, 2023).
Principais barreiras: a) Persistência do paradigma biomédico e sucateamento da APS; b) Instabilidade das tecnologias da informação e levantamentos censitários; c) Dificuldades estruturais da APS e violência urbana; d) Dificuldades inerentes ao trabalho multiprofissional e; e) Dificuldades no trabalho intersetorial.
Estratégias coletivas desenvolvidas entre 2021 e 2024: a) A busca pelo consenso da melhor proporção entre os saberes protocolares e habilidades relacionais no exercício da multiprofissionalidade; b) comprometimento em se afastar do especialismo proposto pelo paradigma biomédico sem abandonar o olhar genuíno inerente de cada profissão; c) vivência da Clínica Ampliada; d) Atuar coletivamente em “Advocacy” pela efetiva implantação das Políticas Públicas transversais convergentes contra a pobreza e exclusão social, visando apoiar o acesso da PSR aos Direitos atribuídos comumente a outros grupos sociais.


Aprendizado e Análise Crítica
A diversidade de cenários e a complexidade das situações vivenciadas, associada ao desafio do exercício da multiprofissionalidade, tem conferido novos espaços à atuação médica no campo da saúde, de forma que o trabalho multiprofissional tem se constituído numa ferramenta estratégica na constituição do SUS, onde novas funções possibilitam um melhor manejo de Políticas Públicas transversais, Clínica Ampliada e exercício da intersetorialidade, colaborando no enfrentamento dos efeitos da aporofobia e sucateamento da Atenção Básica.
O Cuidado se transforma então em uma ação técnico-assistencial que pressupõem um distanciamento do modelo biomédico por meio de parâmetros técnicos, éticos, humanitários e de solidariedade para o enfrentamento dos processos vulnerantes presentes na vida do usuário e expressa a convicção ética que a precarização da vida deve ser superada com políticas públicas que concretizem os direitos fundamentais, sobretudo os direitos sociais.


Referências
BODSTEIN, R. et al. Produzindo saúde nas ruas: o desafio do trabalho das equipes de Consultório na Rua - Pesquisa de avaliação das práticas das equipes de Consultório na Rua da cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. 2017.
ENGSTRON, E. M. et al. A dimensão do cuidado pelas equipes de consultório na rua Desafios da clínica em defesa da vida.pdf. p. 50–61, 2019.
FERREIRA FILHO, L. G. L. A prática médica do consultório na Rua da Cidade do Rio de Janeiro na perspectiva da clínica ampliada. 2020.
MIGNOLO, W. Desobediencia epistémica. Retórica de la modernidad, lógica de la colonialidad y gramática de la descolonialidad. Buenos Aires. 2010, 126 pp, 2010.
MONTEIRO, M. A dimensão da intersetorialidade nas práticas do consultório na rua: a experiência do rio de janeiro. 2019
NATALINO, M. Nota Técnica no 103. Estimativa da população em situação de rua no brasil (2012-2022). Brasília: 2023

Fonte(s) de financiamento: o próprio


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