05/11/2024 - 08:30 - 10:00 RC2.8 - Territorialidades, ambiente e vulnerabilidade |
53057 - INTOXICAÇÕES EXÓGENAS NA CLASSE TRABALHADORA BRASILEIRA: REVISÃO SISTEMÁTICA (2017-2023). PRISCILLA MAGALHÃES DE OLIVEIRA CARVALHO - UFC, MAXMIRIA HOLANDA BATISTA - UFC, PALOMA LIRA PINTO - UPORTO
Apresentação/Introdução Introdução: A intoxicação exógena é definida como a manifestação de sinais e sintomas decorrentes dos efeitos nocivos ocasionados em um organismo vivo em consequência da sua interação com determinada substância química exógena. Estas substâncias podem ter diversos meios de instalação no organismo, como ingestão, inalação, absorção, aplicadas à pele ou ainda produzida no corpo em pequena quantidade. Tais substâncias podem ser identificadas no ambiente, a saber: no ar, na água, nos alimentos, nas plantas, nos animais peçonhentos e venenosos. Além disso, também estão presentes em agrotóxicos, medicamentos, produtos de uso industrial, produtos de uso domiciliar. (MOTA et al., 2015). A exposição dos trabalhadores e trabalhadoras às suas respectivas atividades econômicas podem apresentar riscos à sua saúde. No Brasil, dados do SINITOX atinentes ao período de 1999 a 2013 indicam 1.341.687 casos de intoxicação no Brasil, sendo 6,3% dos casos referentes a intoxicação ocupacional, principalmente envolvendo agrotóxicos agrícolas (24,3%), animais peçonhentos, serpentes (19,8%) e produtos químicos industriais (15,8%) (FIOCRUZ, 2016). Nesse sentido, é essencial entendermos que a população trabalhadora pode ser vulnerabilizada pelos processos de produção, trabalho e ambiente em que se inserem e pelo modo de desenvolvimento que o mundo atua.
Objetivos Objetivos: Analisar os dados epidemiológicos das intoxicações exógenas na população brasileira com foco na ocupação das vítimas.
Metodologia Metodologia: Realizamos a seleção de artigos pelo método PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses) no período de fevereiro a março de 2024.O levantamento das pesquisas científicas foi realizado por intermédio de quatro bases de dados eletrônicas, como a Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde, Pubmed, Web of Science e Scopus. Os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) utilizados consistiram em: "Poisoning", "epidemiology "e "Brazil" de 2017 a 2023, artigos de língua inglesa e portuguesa cruzados entre si por meio do operador booleano AND. Os critérios de inclusão foram: Artigos primários publicados nos últimos 7 anos, com texto completo disponível em português ou inglês, com intoxicação exógena confirmada. Como critérios de exclusão tivemos: estudos apenas com crianças e adolescentes, estudos apenas com aposentados, não realizados no Brasil, sem a definição da ocupação das vítimas e do tipo de agente tóxico. O total de artigos identificados nas bases foram 2275, o total de artigos coletados nas bases foram 959, o número de duplicatas deletadas foram 294 artigos. Na última fase, foram incluídos na amostra final 28 artigos.
Resultados e Discussão Resultados e dicussão: A maioria dos artigos abordam as intoxicações exógenas por animais peçonhentos (62%), principalmente por serpentes. O gênero mais prevalente dessas mesmas é o masculino. Quanto à ocupação ganha destaque o trabalhador rural. Em relação à faixa etária, está entre 11 à 60 anos. O segundo maior prevalência de artigos abordam as intoxicações por agrotóxicos, sendo a principal ocupação também os trabalhadores rurais. O animal peçonhento é definido na literatura como aquele que possui veneno e uma estrutura inoculadora (ALONSO et al, 2015). Existem aspectos bem documentados por esses artigos desse grupo de agente tóxico, o envenenamento causado por serpentes é um problema de saúde pública e considerado uma doença negligenciada. Esses envenenamentos ocorrem tanto devido às questões ambientais quanto às questões ocupacionais, sendo as comunidades rurais as mais afetadas no Brasil (CHIPPAUX, 2017). Podemos afirmar que essas populações são vulnerabilizadas, pois na maioria dos casos, essas estão em condições de pobreza. Recentemente, o envenenamento causado por serpentes entrou para a classificação de doença tropical negligenciada (CHIPPAUX, 2017). Os relatórios epidemiológicos realizados na Ásia e na América Latina reforçam que as picadas de cobras nas comunidades agrícolas dessas regiões representam um risco ocupacional.A porcentagem da força de trabalho na agricultura está correlacionada com a mortalidade global por picada de cobra. A sobrevivência dessas comunidades rurais depende das suas técnicas agrícolas não mecanizadas e de baixo custo, porém são essas práticas que elevam os riscos relacionados à picadas de cobra (HARRISON et al, 2009).
Conclusões/Considerações finais Conclusão: A principal causa de intoxicações exógenas foi por animais peçonhentos, seguido de intoxicações por agrotóxicos. Nesse estudo evidenciamos que os trabalhadores rurais são a população mais vulnerabilizada por tais intoxicações. Identificamos a partir dos estudos que os processos produtivos podem estar intrisecamente relacionados ao ambiente e ao território. Dessa forma, podem trazer implicações para a saúde do trabalhador e da trabalhadora. Trata-se de um discussão importante para a saúde individual e coletiva, pois contempla problemas de saúde, sociais, de trabalho, ambientais, econômicos e culturais. Faz-no refletir sobre a política pública de saúde que necessita estar articulada em vários âmbitos para que seja uma política mais efetiva, inclusive com visibilidade à participação social nos processos de construção das políticas de saúde para que haja o mínimo de danos à saúde dos trabalhadores e trabalhadoras, estabelecidas as medidas preventivas, e redução das iniquidades.
Referências Referências: 1. Alonso et al. Accidentes ofídicos notificados al Programa Nacional de Control de Zoonosis y Centro Antirrábico Nacional, Paraguay (2015). Rev Salud Pública Parag..2.CHIPPAUX,JP. Incidence and mortalitydue to snakebite in the americas.PloS Negl Trop Dis.2017 Jun 2021; 11 (6).3. FIOCRUZ. Fundação Oswaldo Cruz. Centro de Informação Científica e Tecnológica. Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas. 119 Estatística anual de casos de intoxicação e envenenamento. Brasil, 2016.4. Harrison, R.A et al. Snake Envenoming: A Disease of Poverty. 2009. PLoS Negl Trop Dis 3(12): e569.5. Mota, A. N. D et al. (2015). Caracterização das intoxicações agudas registradas em São Luís/MA: a importância das instituições hospitalares como centros notificadores. Rev. Bras. Farm. Hosp. Serv. Saúde, 6(2), 6-11.
Fonte(s) de financiamento: FUNDAÇÃO CEARENSE DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO (FUNCAP)
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