05/11/2024 - 08:30 - 10:00 RC2.8 - Territorialidades, ambiente e vulnerabilidade |
51268 - CUIDADOS EM SAÚDE: SABERES, EXPERIÊNCIAS E VIVÊNCIAS NOS TERRITÓRIOS DAS POPULAÇÕES DO CAMPO, DA FLORESTA E DAS ÁGUAS VANIRA MATOS PESSOA - FIOCRUZ CE, FERNANDO FERREIRA CARNEIRO - FIOCRUZ CE, CARLOS ANDRÉ MOURA ARRUDA - UECE, KEILA FORMIGA CASTRO - FIOCRUZ CE, ERIVAN CAMELO DA SILVA - MAM, BRENO VERÍSSIMO DO NASCIMENTO - ASSAFAM, ROJANE ALVES DOS SANTOS - MMTR-NE, ANA CLÁUDIA DE ARAÚJO TEIXEIRA - FIOCRUZ CE, ALISSAN KARINE LIMA MARTINS - URCA, MARIA DAS GRAÇAS VIANA BEZERRA - FIOCRUZ CE
Apresentação/Introdução Repensar a saúde, valorizando politicamente o direito a vida requer uma visão mais ampla sobre desenvolvimento e democracia. Compreender que o trabalho de cuidado é complexo e envolve as interações entre quem cuida e quem é cuidado, percebendo as relações sociais, com vistas ao bem-estar e conforto, solicitando de quem cuida a responsabilidade pela ação para atender necessidades humanas (Pessoa, 2015; Borgeaud, 2020; Bitencourt; Andrade, 2020). Ou seja, profissionais de saúde, gestores e usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) precisam ter claros a centralidade do que é feito o cuidado em saúde.
Conquistamos para garantir o cuidado em saúde, o SUS que tem a Atenção Primária à Saúde (APS), especialmente a Estratégia Saúde da Família (ESF), como a principal porta de entrada, centro de comunicação, coordenadora do cuidado e ordenadora das ações e serviços disponibilizados da RAS. As equipes de saúde da família nos territórios desenvolvem as ações de: promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento e reabilitação. Indagamos sobre: o entendimento de cuidado em saúde nos territórios das populações do campo, da floresta e das águas, que reivindicam um cuidado em saúde, que dialogue com a interculturalidade e as especificiadades do modo de vida e trabalho.
Objetivos Compreender o entendimento de cuidados em saúde na visão de populações do campo, da floresta e das águas, usuárias do SUS e de profissionais de saúde, que atuam em equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF) nestes territórios.
Metodologia Realizamos uma pesquisa-ação-participativa. A pesquisa participativa tem como finalidade a participação da prática científica no trabalho político das classes populares (Brandão, 1999). E a pesquisa-ação se compromete em fazer com as pessoas, segundo Pessoa et al., 2013; Carneiro; Pessoa; Teixeira, 2017. A participação traz desafios aos pesquisadores relativos ao modo de ver e compreender as classes sociais, seus sujeitos e seus mundos. Tais desafios de visão e compreensão das pessoas, do trabalho social e político constituem a razão da prática e igualmente constitui a razão da pesquisa (Brandão, 1999).
O estudo foi realizado pelo Serpovos (https://ceara.fiocruz.br/serpovos/) no Ceará. O estado tem cobertura de saúde da família superior a 85%, é pioneiro na implantação da ESF e tem consolidado este modelo de atenção.
A plataforma Serpovos disponibilizou um link para cadastro de experiências significativas de cuidados em saúde. Das experiências recebidas selecionamos quatro em municípios distintos, em 2022. Desta forma identificamos os municípios e as experiências exitosas, onde realizamos oficinas territoriais com 68 participantes. Foram respeitados os aspectos éticos.
Resultados e Discussão O perfil dos participantes quanto ao local de trabalho predominou a Agricultura Familiar, 21 (30,9%) e Equipe de Saúde da Família, 13 (19,1%). O maior percentual referiu ter ensino médio completo (39,7%), seguidos do ensino superior completo (29,4%) e ensino fundamental completo (14,7%). Quanto a formação profissional, citaram 16 diferentes formações, todavia, 36 pessoas (52,9%) afirmaram não ter formação profissional.
O entendimento de cuidado em saúde foi referido como algo do indivíduo à sociedade, que se interrelaciona com os conceitos de: saúde, políticas públicas, meio ambiente, modo de vida, soberania alimentar, cultura, dentre outros. Foram elencadas as seguintes dimensões:
a) relativas à alimentação saudável: ter acesso a produtos sem veneno (peixe e agricultura sem contaminação), a produção e consumo de alimentação saudável e soberania e cultura alimentar;
b) relativas ao ambiente: Cuidar do meio ambiente, da água, da terra e da floresta para ter acesso a água e ar limpo, sem contaminação por grandes empreendimentos;
c) relativas aos serviços de saúde: oferecer atendimento humanizado, acolhimento, com escuta qualificada e empatia; garantir acessibilidade às pessoas às UBS, priorizando sempre o usuário; realizar busca ativa na comunidade; realizar projeto terapêutico singular; e agregar conhecimentos e promover mudanças na comunidade, usuários e profissionais de saúde; realizar projetos inovadores.
d) relativas as políticas públicas e de valorização do modo de vida: Políticas e práticas que assegurem o bem viver e o lazer; Preservação das relações humanas e dos saberes tradicionais; respeitar os povos;
e) relativas aos indivíduos – manter higiene pessoal; prevenção da saúde, praticar atividades físicas, manter a vacinação da família e dos animais em dia.
Conclusões/Considerações finais Apesar dos territórios serem heterogêneos, em regiões do litoral, do sertão e da floresta muito distantes entre si, os participantes residiam e trabalhavam em comunidades rurais. Observamos que há uma visão convergente sobre os cuidados em saúde na ESF com uma noção ampla do conceito, que dá centralidade a promoção da saúde, dentro do modelo assistencial, preconizado pela ESF, que extrapola a perspectiva biomédica. Percebemos o estabelecimento de uma relação entre os aspectos positivos do modo de vida, a saúde e as políticas públicas; bem como o reforço da necessidade da sociedade compreender o desenvolvimento econômico com a preservação dos ecossistemas e do respeito aos povos nestes territórios. Regatam a relação humana com a natureza, a valorização e o reconhecimento dos saberes populares na produção da vida, ao mesmo tempo que referem a necessidade de práticas individuais e de prevenção a saúde.
Referências BITENCOURT, Silvana Maria; ANDRADE, Cristiane Batista. Trabalhadoras da saúde face à pandemia: por uma análise sociológica do trabalho de cuidado. Ciência & Saúde Coletiva, v. 26, p. 1013-1022, 2021.
Borgeaud-Garciandía N. Cuidado y responsabilidad. Estud Av 2020; 34(98):41-56.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Repensando a Pesquisa Participante. São Paulo: Brasiliense,1999.
CARNEIRO, F F.; PESSOA, V M.; TEIXEIRA, A C A. Campo, floresta e águas: práticas e saberes em saúde. Brasília, DF: Unb, 2017.
PESSOA, Vanira Matos et al. Pesquisa-ação: proposição metodológica para o planejamento das ações nos serviços de atenção primária no contexto da saúde ambiental e da saúde do trabalhador. Interface (Botucatu), Jun 2013, vol.17, no.45, p.301-314. ISSN 1414-3283.
Fonte(s) de financiamento: Edital de Atenção Primária à Saúde - REDE PMA FIOCRUZ - Programa Inova Fiocruz
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