Roda de Conversa

05/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC2.8 - Territorialidades, ambiente e vulnerabilidade

50449 - GESTÃO DO CUIDADO DE ABRIGADOS NA MAIOR CATÁSTROFE CLIMÁTICA DO RIO GRANDE DO SUL: FISIOTERAPIA NA VIGILÂNCIA E BUSCA ATIVA PARA PREVENÇÃO DE DOENÇAS
MURILO SANTOS DE CARVALHO - UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS, JENIFER MELO BARBOSA - UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS, NATHÁLIA LUIZ GUIMARÃES - UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS, ADRIANA VARGAS DA SILVA BOCHI - HOSPITAL MATERNO INFANTIL PRESIDENTE VARGAS, FERNANDA MACHADO KUTCHACK - UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS, KARLA POERSCH - UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS, LUIS HENRIQUE TELLES DA ROSA - UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE - UFCSPA, THIAGO DIPP - UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS, ANA PAULA BARCELLOS KAROLCZAK - UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS, ALESSANDRA BOMBARDA MULLER - UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS


Contextualização
A Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) foi acionada na madrugada de 04 de maio de 2024 pela Prefeitura de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, para abrigar pessoas desalojadas em decorrência das inundações ocasionadas pelas chuvas intensas que assolaram o estado. Nesta madrugada, o Rio dos Sinos, que corta e abastece o município da Região Metropolitana de Porto Alegre, atingiu a marca de 8,2 metros, um recorde histórico. Mais de 180 mil pessoas da cidade com população de 217.409 habitantes (IBGE, 2022) foram afetados direta ou indiretamente pelas cheias. Destes, cerca de 12 mil encontravam-se alojados em abrigos do município, sendo que o campus da referida universidade acolheu mais de 1.500 cidadãos.
As mudanças climáticas causaram um aumento em mais de 15% nas fortes chuvas que assolaram o Rio Grande do Sul. Isso ajuda a explicar a catástrofe histórica que o estado enfrentou, um fenômeno sem precedentes. Enchentes e inundações acarretam riscos para a saúde da população, que podem ser identificados no decorrer dos dias. Diarreia, doenças de pele, infecções respiratórias, acidentes por animais peçonhentos, ectoparasitas, leptospirose, hepatites, tétano, cólera, arboviroses e doenças psiquiátricas foram reportados em eventos anteriores e se repetem. Se considerarmos o impacto na Atenção Primária à Saúde, por exemplo, das 25 Unidades Básicas de Saúde existentes no município, 16 foram atingidas pelas águas.

Descrição da Experiência
Este relato apresenta as ações do curso de Fisioterapia aos desalojados do município de São Leopoldo que permaneceram abrigados no campus da Unisinos no período de 03 a 29 de maio de 2024, no complexo esportivo da universidade, em três ginásios cobertos e mais de 20 salas de aulas. As famílias foram alocadas conforme chegada ao abrigo, e os indivíduos mais vulneráveis, como idosos com restrição de mobilidade e comorbidades prévias, foram encaminhados a uma sala de aula destinada ao cuidado específico desta população.
As trocas de decúbito dos pacientes restritos ao leito, o posicionamento mais adequado para as refeições, o estímulo da movimentação para aqueles com mobilidade reduzida, alongamentos, exercícios para relaxamento e atividades coletivas foram conduzidos neste período. Exercícios respiratórios também foram realizados após avaliação e identificação das necessidades de cada indivíduo.
Ações específicas para a população infantil também foram implementadas. A busca ativa de bebês e crianças com sintomas gripais para avaliação e assistência fisioterapêutica, o atendimento fisioterapêutico após indicação médica e orientações quanto ao estímulo para o adequado desenvolvimento infantil neste período foram realizados. O fluxo para manejo destas situações foi construído junto à equipe médica e de enfermagem.

Objetivo e período de Realização
Apresentamos este relato de experiência em emergências em saúde pública associadas a inundações, destacando as ações de fisioterapia em abrigo de desalojados, cujo objetivo foi descrever a assistência fisioterapêutica a populações vulnerabilizadas no estado gaúcho, no período de 03 a 25 de maio de 2024, para a prevenção de doenças e tratamento das condições preexistentes, agravadas com a queda das temperaturas no inverno que se aproximava.

Resultados
Dos 1.500 abrigados, cerca de 150 eram crianças e 130, idosos. As ações de fisioterapia se concentraram nestas populações mais vulneráveis. O abrigo contou com a atuação de mais de 300 voluntários das mais variáveis áreas e frentes.
Recursos fisioterapêuticos como bucal e máscara de EPAP, shaker, selo d´água, cunha de posicionamento e bola suíça, foram utilizados; associados a manobras torácicas para variação de fluxo respiratório (ELPr, AFE, DRR), toalete brônquica, estímulo da tosse e aspiração de vias aéreas, quando necessário. Também a nebulização com soro fisiológico foi utilizada para favorecer a higiene nasal, associada à lavagem nasal. Estas condutas foram realizadas em 47 bebês e crianças diariamente monitoradas, de acordo com suas necessidades específicas. Este acompanhamento profilático evitou a internação hospitalar de todas as crianças acompanhadas neste período. Já o acompanhamento de 44 idosos, com comorbidades prévias como AVC, DM e Alzheimer, foi realizado diariamente, por meio de vigilância respiratória, mudanças de decúbitos naqueles restritos ao leito e estímulos para a mobilização geral para a prevenção de intercorrências respiratórias, musculoesqueléticas ou neurológicas. Mais de 30 profissionais voluntários colaboradores, egressos e estudantes da Fisioterapia com supervisão, atuaram diariamente no cuidado da população.

Aprendizado e Análise Crítica
As Nações Unidas têm alertado para o crescimento exponencial do número de desastres no mundo, especialmente aqueles relacionados ao clima. A intensificação das populações concentradas em área urbana não planejada e insegura, a pobreza e a negligência às mudanças climáticas aumentam o número de pessoas expostas a desastres naturais.
São necessários estudos que permitam uma compreensão ampliada acerca das ações do fisioterapeuta neste contexto. Gestores, serviços de saúde e profissionais, que também podem ser atingidos pelos desastres, precisam elencar prioridades, reorganizar seus processos de trabalho, ampliar ações interdisciplinares e intersetoriais, bem como atuar preventivamente com o conhecimento dos prováveis impactos para a saúde da população atingida por desastres.
Ao estabelecer doenças/agravos de interesse de acordo com as características sazonais do estado, se intensificou o atendimento e monitoramento, incluindo vigilância ativa, principalmente das doenças de transmissão respiratória de crianças e idosos, no intuito de se evitar a sobrecarga do sistema hospitalar do município.
Por fim, destaca-se a potência da inserção do ensino-serviço no contexto acadêmico, se tratando de um abrigo adaptado em campus universitário. A gestão das demandas urgentes, bem como de recursos humanos, abrigados e voluntários, permanece como aprendizado coletivo.

Referências
IBGE, 2022. Cidades. São Leopoldo.

ALMEIDA, M. M. F.; TEODORO, R. J. CHIAVEGATO, L. D. Aplicação de manobras e estratégias na fisioterapia respiratória: tempo de retomarmos as evidências. J Bras Pneumol. 2020;46(4):e20200443

BRASIL, Ministério da Saúde. Guia de preparação e resposta à emergência em saúde pública por inundação, 2017.

BRASIL, Ministério da Saúde. Plano de Contingência para Emergência em Saúde Pública por Inundação, 2014.

STOPGLIA, M.S.; COPPO, M. R. C. Principais Técnicas de Fisioterapia Respiratória em Pediatria. Blucher Medical Proceedings, 2014, 4(1)

UNITED NATIONS. Sendai Framework for Disaster Risk Reduction 2015 - 2030. 2015.


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