Roda de Conversa

05/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC2.8 - Territorialidades, ambiente e vulnerabilidade

50314 - ANÁLISE DOS PROBLEMAS DE SAÚDE DA POPULAÇÃO RURAL BRASILEIRA: UM ESTUDO DE REVISÃO INTEGRATIVA
HERNANDES MACHADO DE JESUS - UEFS, THEREZA CHRISTINA BAHIA COELHO - UEFS, CLARA ALEIDA PRADA SANABRIA - UEFS, VERONICA LIMA SANTOS - UEFS, FELIPE DO CARMO DE CARVALHO - UEFS


Apresentação/Introdução
A Análise da Situação de Saúde é a identificação, priorização e explicação dos problemas que serão objetos de uma intervenção proposta. Para isso, é necessário considerar as variáveis demográficas, socioeconômicas, culturais e políticas da população na qual incidem os problemas de saúde. Ela também possui uma lógica territorial, uma vez que no espaço se distribuem populações de acordo com suas similaridades culturais e socioeconômicas, logo, analisa-se as relações entre as condições de vida e acesso aos serviços de saúde das populações em um determinado território. Assim, é possível dizer que o espaço geográfico é, em uma perspectiva dialética, produto e produtor de diferenciações sociais e ambientais que determinam o processo saúde-doença (Teixeira; Vilasbôas; Jesus, 2010).
Neste cenário, a divisão espacial entre rural e urbano produz um conjunto de desigualdades em saúde. No Brasil, segundo o Censo (2010), cerca de 29 milhões de pessoas viviam em regiões rurais, dado que ainda não foi apresentado no Censo de 2022. O estado atual dos espaços rurais brasileiros reflete séculos de história da nossa formação social, caracterizado por um processo intenso de concentração de terras, desigualdade socioeconômica, exploração, marginalização e assassinato de grupos populacionais subalternizados e de desvalorização simbólica e material em relação aos espaços urbanos (BRASIL, 2013)


Objetivos
Analisar, a partir de uma revisão integrativa da literatura científica nacional, os principais problemas de saúde da população rural brasileira.

Metodologia
Esta pesquisa trata-se de um estudo de revisão integrativa. Para tal, foram selecionados artigos nacionais publicados entre 2012 e 2023, em português, disponíveis nas bases de dados Bases de Dados BVS e Scielo. Foram retirados artigos de revisão e/ou ensaios acadêmicos, estudos que abordassem apenas uma faixa etária específica da população rural e cujas temáticas não estivessem relacionadas com os objetivos deste estudo.
Utilizando-se as dez estratégias de busca definidas (descritores mais operadores booleanos), foram identificados 13.337 estudos na BVS e 248 na Scielo. Após a aplicação dos critérios de inclusão, restaram 508 na BVS e 161 na Scielo. Foram excluídos 419 artigos repetidos, restando 250 que tiveram os títulos e resumos lidos. Após a leitura dos títulos e resumos, 208 artigos foram excluídos, restando 42 que foram lidos de maneira integral. Dos 42 estudos, 10 foram excluídos após a leitura completa, resultando em 32 artigos que foram incluídos nesta revisão, os quais foram analisados e sintetizados.


Resultados e Discussão
Os danos à saúde da população rural relatados nos estudos estão diretamente ligados com o modo de vida dessas populações e com a estrutura e organização dos seus locais de moradia e trabalho. Nos estudos, um conjunto muito diverso de doenças, sintomas e queixas foram identificadas no meio rural. Dentre as doenças, destacam-se as doenças crônicas não transmissíveis, como Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus, doenças gastrointestinais, doenças cardiovasculares, doenças respiratórias, intoxicação por agrotóxicos e outras substâncias, problemas dermatológicos e urinários. Assim como, casos de adoecimento psicossocial, como ansiedade e depressão, tabagismo e o consumo abusivo de álcool e outras drogas (Dantas et al., 2019; Sombra Neto et al., 2022).
Nos espaços rurais, a barreira de acesso aparece como o principal problema nos serviços de saúde, principalmente da APS. Outros problemas são a falta de medicamentos e as dificuldades em realizar exames e ter atendimento com especialistas. Em geral, a única forma de aquisição de medicamentos pela população rural ocorre através dos serviços públicos de saúde. Porém, com a constante falta de medicamentos, a população precisa “escolher” entre não começar ou abandonar o tratamento com a medicação ou comprometer o orçamento familiar para custeá-la. Em relação à realização de exames e a consulta com especialistas, há muita dificuldade em acessar tais serviços, inclusive a de exames básicos como o de pré-natal, o que é reflexo da pouca articulação e fragilidade da Rede de Atenção à Saúde (RAS) em municípios de predominância rural. Além destes, a alta rotatividade dos profissionais de saúde compromete diretamente a oferta de serviços de saúde em espaços rurais (Dantas et al., 2019; Sombra Neto et al., 2022).


Conclusões/Considerações finais
A superação dos problemas de saúde da população rural e o atendimento de suas necessidades exigem um conjunto de ações que vão além das do setor saúde e do escopo de atuação do Estado. No âmbito das ações do sistema de saúde, é necessário desenvolver estratégias que diminuam as barreiras de acesso e promovam a ampliação e o fortalecimento da APS, a formação de profissionais para atuar em contextos rurais, o fortalecimento da RAS e a construção de políticas públicas que consigam orientar e organizar as ações de saúde para populações rurais. Claro, essas mudanças esbarram em um cenário de austeridade fiscal de desfinanciamento da saúde no Brasil, através de medidas como a EC 95 (teto de gastos) e o Programa previne Brasil (Coelho et al., 2023).
Para além, a superação dos problemas e necessidades de saúde das populações rurais perpassa por repensar o modelo de desenvolvimento agrário brasileiro.


Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo e da Floresta. 1. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.
COELHO, T. C. B et al.. Financiamento do SUS. In: PAIM, J. S.; ALMEIDA-FILHO, N.. Saúde Coletiva: teoria e prática. 2 ed. Rio de Janeiro: Medbook, 2023, p. 635-690.
DANTAS, A. C. M. T. V. et al. Relatos e reflexões sobre a Atenção Primária à Saúde em assentamentos da Reforma Agrária. Physis: Revista de Saúde Coletiva, 29(2), 2019.
SOMBRA NETO, L. L. et al. Condições de vida e saúde de famílias rurais no sertão cearense: desafios para Agenda 2030. Saúde Debate, 46(132), p. 148 – 162, 2022.


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