Roda de Conversa

05/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC2.7 - Segurança alimentar

50997 - EXPOSIÇÃO A AGROTÓXICOS E EFEITOS NA SAÚDE HUMANA RELACIONADOS A GENOTOXICIDADE NO CONTEXTO DA SAÚDE COLETIVA
THALITA FONTANA MANOCCHI - UEM, CAMILLA YUMI ENDO - UEM, DÉBORA HAYANE VIDAL PEREIRA - UEM, LUIZ HENRIQUE REINERT - UEM, NICOLE HONDA TACAHASHI - UEM, VINICIUS OLIVEIRA MIRANDA - UEM, RENATA SANO LINI - UEM, EDILSON NOBUYOSHI KANESHIMA - UEM, 9. SIMONE APARECIDA GALERANI MOSSINI - UEM, 10. ALICE MARIA DE SOUZA KANESHIMA - UEM


Apresentação/Introdução
O uso indiscriminado de agrotóxicos é um crescente nas últimas décadas e pode levar a danos para a saúde humana trazendo sérias consequências para o sistema público de saúde. Entre os efeitos associados à exposição, os mais preocupantes são as intoxicações crônicas, caracterizadas por infertilidade, abortos, malformações congênitas, neurotoxicidade, desregulação hormonal, imunotoxicidade, genotoxicidade e câncer (SARPA; FRIEDRICH, 2022).
A epidemiologia molecular é uma abordagem cada vez mais utilizada no estabelecimento de associações entre a exposição às substâncias perigosas e o desenvolvimento de doenças, incluindo a possível modulação por fatores de susceptibilidade genética e através da análise qualitativa e quantitativa de biomarcadores é possível prever os danos genotóxicos (LÓPEZ GONZÁLEZ; ROMITO; LATORRE; SIROSKI et al., 2021).
Outra importante ferramenta com capacidade de detectar quebras cromossomais e segregação cromossômica anormal, é o ensaio do citoma, onde é possível observar o efeito genotóxicos em células da mucosa oral. A associação do ensaio do citoma com a biologia molecular, pode auxiliar no esclarecimento em relação à toxicidade dos agentes químicos no material genético, além de serem promissores para a detecção preventiva de eventos carcinogênicos (LÓPEZ GONZÁLEZ et al., 2021).


Objetivos
Analisar a aplicação de biomarcadores de genotoxicidade em trabalhadores rurais expostos aos agrotóxicos em um município no sul do Brasil e sua importância para a saúde pública.

Metodologia
A partir das atividades do projeto de extensão “Monitoramento da Exposição Ocupacional” em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – IDR, e das ações do Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS - SUS2020131000123) foi realizado um estudo com a população rural de Marialva-PR. Foi desenvolvido um modelo experimental visando avaliar os riscos relacionados a genotoxicidade em um grupo de trabalhadores ocupacionalmente expostos aos agrotóxicos, especialmente ao Glifosato, utilizando dois biomarcadores, a avaliação de anomalias nucleares como presença de micronúcleo e broto em células bucais e também a PCR-RFLP para avaliar polimorfismos em genes de interesse. Nesse caso, foi avaliado o polimorfismo no gene GSTP1 relacionado a atividade enzimática na detoxificação celular. As mutações encontradas podem ser relacionadas ao uso crônico de pesticidas. Os critérios de inclusão consistiram em exposição ocupacional ao glifosato, tempo de exposição prolongado, e trabalhadores acima de 18 anos. O estudo foi aprovado pelo Comitê Permanente de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (COPEP) da Universidade Estadual de Maringá (CAAE N° 65018017.7.0000.0104), parecer nº 6.209.432.

Resultados e Discussão
Analisando os resultados obtidos, foram avaliados 6 agricultores expostos ocupacionalmente ao glifosato, sendo que 3 deles apresentaram polimorfismo para o gene GSTP1, com genótipo heterozigoto (Ile/Val), que envolve a diminuição da atividade enzimática relacionada a detoxificação celular (LONGO et al., 2013).
Em relação aos indicadores das células bucais, a média de micronúcleo observada na população foi de 1 (±0,9) e para o broto foi de 2 (±2,9). Para os dois dos trabalhadores que apresentaram polimorfismo para o gene GSTP1, também foi observado broto e micronúcleo no ensaio do citoma.
Ghisi et al. (2016) em revisão sistemática, concluíram que a exposição ao glifosato causa lesões ao DNA podendo levar a formação de brotos e micronúcleos. Os dados encontrados podem ser relacionados ao risco de desenvolver doenças crônicas ocasionadas pela exposição desses agricultores ao glifosato. Portanto, a ocorrência de polimorfismo genético em relação a detoxificação e os efeitos celulares estão ligados diretamente à genotoxicidade e podem ser relacionados através dos biomarcadores utilizados.
O herbicida glifosato, mais usado mundialmente, foi classificado como provável carcinógeno humano (Grupo 2A) e apesar dos efeitos mutagênicos e carcinogênicos serem critérios proibitivos para registro de agrotóxico, a exposição a esses produtos representa um fator de risco real e relevante para o desenvolvimento de câncer (SARPA; FRIEDRICH, 2022).
Por meio dos resultados obtidos nesse ensaio clínico, nota-se que os biomarcadores de genotoxicidade são de extrema importância para que seja possível avaliar o risco de trabalhadores expostos a longo prazo, trazendo diagnósticos clínicos mais específicos sobre a utilização de agrotóxicos e seus efeitos na saúde da população exposta.


Conclusões/Considerações finais
Elaborar medidas de prevenção ao câncer ou outras doenças crônicas tem como principal desafio a falta de esclarecimento adequado sobre as incertezas quanto ao processo de avaliação de risco e de extrapolação para o contexto de exposição humana, incluindo o cenário de misturas de substâncias tóxicas. Os biomarcadores de genotoxicidade podem ser de grande utilidade para a elaboração de estratégias de proteção, justificando a necessidade da implementação de medidas preventivas. Investigar os efeitos a nível molecular e a longo prazo, corrobora com a implementação de novas ações a fim de diminuir o risco da exposição não apenas de trabalhadores mas também aos moradores das áreas rurais e consumidores de alimentos provenientes do uso de agrotóxicos.

Referências
SARPA, M.; FRIEDRICH, K. Exposição a agrotóxicos e desenvolvimento de câncer no contexto da saúde coletiva: o papel da agroecologia como suporte às políticas públicas de prevenção do câncer. Saúde em Debate, 46, 2022.
LONGO, G. S.; PINHEL, M. S.; SADO, C. L.; GREGÓRIO, M. L. et al. Exposure to pesticides and heterozygote genotype of GSTP1-Alw26I are associated to Parkinson's disease. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, 71, n.7, 2013.
LÓPEZ GONZÁLEZ, E. C.; ROMITO, M. L.; LATORRE, M. A.; SIROSKI, P. A. et al. Biomarkers of genotoxicity, immunotoxicity and oxidative stress on Caiman latirostris (Broad-snouted caiman) hatchlings exposed to pesticide formulations and mixtures widely used in agriculture. Environmental Advances, 5, p. 100114, 2021.
GHISI, N. D. E.; C.; DE OLIVEIRA, E. C.; PRIOLI, A. J. Does exposure to glyphosate lead to an increase in the micronuclei frequency? A systematic and meta-analytic review. Chemosphere, 145, p. 42-54, 2016.

Fonte(s) de financiamento: Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS - SUS2020131000123)


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